São Paulo, Domingo, 03 de Outubro de 1999
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Estrangeiro tinha de começar desde o 1º tijolo, diz Ermírio


ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

O empresário Antonio Ermírio de Moraes, 71, vice-presidente do conselho de administração do grupo Votorantim (faturamento de R$ 4,3 bilhões, em 98), diz que bate palmas para todo o capital estrangeiro que vier para o país, desde que para começar negócios "a partir do primeiro tijolo".
 

Folha - O sr. acha que a abertura do mercado para empresas estrangeiras está prejudicando as empresas nacionais?
Antonio Ermírio de Moraes-
Sem dúvida. Estamos vendo uma grande desnacionalização da economia brasileira. A Lacta, por exemplo, foi vendida para fabricantes de cigarros, a Philip Morris. Uma leitura atenta dos jornais mostra dezenas de casos como esse todos os dias. Não tenho nada contra o capital estrangeiro, mas, se ele quer vir para cá, tem de começar pelo primeiro tijolo. Mas o capital estrangeiro não quer ter trabalho, prefere comprar as empresas nacionais, até porque o dólar está favorecendo.

Folha - Mas a tendência de compras de empresas cresce em todo o mundo.
Antonio Ermírio -
Não sou contra o estrangeiro não, pelo contrário. Mas o governo tem de dar incentivos para a aplicação dos lucros no país. Assim o país vai crescer e o desemprego sumir num instante. Mas, com a crescente remessa de lucros, fica difícil.

Folha - Qual é a sua principal crítica ao processo de abertura?
Antonio Ermírio -
A abertura é boa porque aumenta a competição. Não tenho nada contra isso. Quem não estiver preparado para competir está liquidado. Infelizmente, a globalização é um processo necessário, mas cruel.

Folha - O governo deve, então, impor limites para a entrada de capital estrangeiro no país?
Antonio Ermírio -
O governo deveria adotar o que chamo de filosofia do coração para controlar a remessa de lucros e dividendos para o exterior. A entrada de sangue venoso e arterial no coração é livre, mas, na saída, tem quatro válvulas para atrapalhar. O governo deveria criar incentivos para a reaplicação dos lucros das empresas estrangeiras no país.

Folha - O sr. acha que o Brasil terá problemas nas suas contas externas no futuro por causa das remessas de lucros e dividendos que essas empresas "desnacionalizadas" vão gerar?
Antonio Ermírio -
É evidente que sim. Tem tanto capital estrangeiro vindo para cá e a saída de dinheiro é praticamente livre. O governo deveria dar incentivos para a reaplicação dos lucros dos investimentos estrangeiros no Brasil. Assim, o capital estrangeiro pode ajudar o Brasil a crescer.

Folha - O BNDES deve continuar financiando empresas estrangeiras para que comprem companhias brasileiras?
Antonio Ermírio -
Não. Se vêm para cá investir, que tragam seu dinheiro.

Folha - Como o governo deveria usar o dinheiro do BNDES?
Antonio Ermírio -
Deveria dar para todos os nacionais, inclusive para a micro e média empresa. Mas será que a micro e média empresa entram no BNDES? Não passam nem da calçada.

Folha - Alguma companhia estrangeira tentou comprar suas empresas?
Antonio Ermírio -
Em 4 de junho de 1956, um grupo suíço tentou comprar a Companhia Brasileira de Alumínio, alegando que, com a morte de papai, nós, os herdeiros, não teríamos interesse em continuar os negócios da família. Disse aos suíços que tinham batido na porta errada. Fiz um barulho tão grande que todos os outros potenciais pretendentes estão assustados até hoje.


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