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Estrangeiro tinha de começar
desde o 1º tijolo, diz Ermírio
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
O empresário Antonio Ermírio
de Moraes, 71, vice-presidente do
conselho de administração do
grupo Votorantim (faturamento
de R$ 4,3 bilhões, em 98), diz que
bate palmas para todo o capital
estrangeiro que vier para o país,
desde que para começar negócios
"a partir do primeiro tijolo".
Folha - O sr. acha que a abertura do mercado para empresas
estrangeiras está prejudicando
as empresas nacionais?
Antonio Ermírio de Moraes-Sem dúvida. Estamos vendo uma
grande desnacionalização da economia brasileira. A Lacta, por
exemplo, foi vendida para fabricantes de cigarros, a Philip Morris. Uma leitura atenta dos jornais
mostra dezenas de casos como esse todos os dias. Não tenho nada
contra o capital estrangeiro, mas,
se ele quer vir para cá, tem de começar pelo primeiro tijolo. Mas o
capital estrangeiro não quer ter
trabalho, prefere comprar as empresas nacionais, até porque o dólar está favorecendo.
Folha - Mas a tendência de
compras de empresas cresce em
todo o mundo.
Antonio Ermírio - Não sou contra o estrangeiro não, pelo contrário. Mas o governo tem de dar incentivos para a aplicação dos lucros no país. Assim o país vai crescer e o desemprego sumir num
instante. Mas, com a crescente remessa de lucros, fica difícil.
Folha - Qual é a sua principal
crítica ao processo de abertura?
Antonio Ermírio - A abertura é
boa porque aumenta a competição. Não tenho nada contra isso.
Quem não estiver preparado para
competir está liquidado. Infelizmente, a globalização é um processo necessário, mas cruel.
Folha - O governo deve, então,
impor limites para a entrada de
capital estrangeiro no país?
Antonio Ermírio - O governo
deveria adotar o que chamo de filosofia do coração para controlar
a remessa de lucros e dividendos
para o exterior. A entrada de sangue venoso e arterial no coração é
livre, mas, na saída, tem quatro
válvulas para atrapalhar. O governo deveria criar incentivos para a
reaplicação dos lucros das empresas estrangeiras no país.
Folha - O sr. acha que o Brasil
terá problemas nas suas contas
externas no futuro por causa
das remessas de lucros e dividendos que essas empresas
"desnacionalizadas" vão gerar?
Antonio Ermírio - É evidente
que sim. Tem tanto capital estrangeiro vindo para cá e a saída de dinheiro é praticamente livre. O governo deveria dar incentivos para
a reaplicação dos lucros dos investimentos estrangeiros no Brasil. Assim, o capital estrangeiro
pode ajudar o Brasil a crescer.
Folha - O BNDES deve continuar financiando empresas estrangeiras para que comprem
companhias brasileiras?
Antonio Ermírio - Não. Se vêm
para cá investir, que tragam seu
dinheiro.
Folha - Como o governo deveria usar o dinheiro do BNDES?
Antonio Ermírio - Deveria dar
para todos os nacionais, inclusive
para a micro e média empresa.
Mas será que a micro e média empresa entram no BNDES? Não
passam nem da calçada.
Folha - Alguma companhia estrangeira tentou comprar suas
empresas?
Antonio Ermírio - Em 4 de junho de 1956, um grupo suíço tentou comprar a Companhia Brasileira de Alumínio, alegando que,
com a morte de papai, nós, os herdeiros, não teríamos interesse em
continuar os negócios da família.
Disse aos suíços que tinham batido na porta errada. Fiz um barulho tão grande que todos os outros potenciais pretendentes estão
assustados até hoje.
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