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Privatizações agravam impacto
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
A privatização dos serviços de
energia e telecomunicações -um
dos principais negócios do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, com forte participação de investidores estrangeiros- deverá complicar o fechamento das contas externas.
O efeito colateral das privatizações brasileiras aparece em previsões de economistas confirmadas
pelo BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), segundo as quais os investidores estrangeiros que assumiram parcialmente o controle dessas empresas tendem a aumentar
o volume de remessas de lucros e
dividendos ao exterior.
O efeito colateral nas contas externas é complicado pelo fato de
os serviços públicos privatizados
não colaborarem em nada para
elevar as exportações brasileiras.
"Por não gerarem exportações,
os investimentos estrangeiros nas
privatizações tendem a provocar
um desequilíbrio potencial no balanço de pagamentos, se não forem compensados com o aumento das vendas externas ou queda
nas importações", diz Antônio
Lacerda, vice-presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica). "Os investimentos demandarão remessas de lucros e dividendos", completa Lacerda.
Neste ano, sem contar com o
pagamento de juros de US$ 16 bilhões, essas remessas deverão somar US$ 5 bilhões, estima a Sobeet. Não há expectativa dessa
conta diminuir, diante do estoque
de investimentos estrangeiros no
país. "A tendência é uma remessa
de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões
por ano", avalia Lacerda.
Há ainda o risco de a remessa de
lucros aumentar quando os investimentos internos exigidos dos
investidores que assumiram o
controle das empresas de energia
e telefonia começarem a diminuir, o que é previsto para ocorrer
dentro de quatro ou cinco anos.
A expectativa do governo é que
o Brasil continue atraindo os investidores estrangeiros e que eles
reinvistam aqui os lucros que obtidos nos negócios privatizados.
O governo também sustenta
que não havia muitas alternativas
para atrair os dólares necessários
ao país no modelo de combate à
inflação e que os investimentos
diretos (na privatização, na aquisição ou na fusão de empresas)
ainda é preferível aos investimentos no mercado financeiro.
O BNDES não fez nenhum estudo prévio sobre os efeitos colaterais da participação crescente do
investidor estrangeiro na privatização. Esses investimentos foram
deliberadamente estimulados,
principalmente depois de 1996.
Levantamento do BNDES disponível na Internet estima em
43,5% a participação estrangeira
na venda de estatais, calculada em
US$ 30,9 bilhões. O percentual
considera as privatizações desde
1991 e inclui empresas estaduais.
Os investimentos estrangeiros
em privatização bateram o recorde em 1998. Foram maioria na
privatização das empresas de telefonia, representando 59,3% do
negócio. Espanhóis (18,7%), portugueses (15,7%) e norte-americanos (13,7%) detêm a maior parcela nos US$ 16 bilhões investidos
por estrangeiros no setor.
Nas privatizações estaduais, que
incluem empresas de energia elétrica, os investimentos estrangeiros também tiveram participação
importante, estimada em 47,5%.
No total, os EUA aparecem liderando o ranking dos investidores
estrangeiros em privatização, seguidos pela Espanha, por Portugal, pela Itália e pelo Chile.
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