São Paulo, terça-feira, 03 de outubro de 2000

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PT é o maior adversário do PSDB, diz Maluf

ANDRÉ SINGER
DA REPORTAGEM LOCAL

"É evidente que Mário Covas tem justos anseios políticos e que o PT em 2002 será concorrente desses anseios políticos, dele e do PSDB", diz o ex-governador Paulo Maluf em meio à entrevista concedida ontem à Folha na mansão da rua Costa Rica. O recado é claro. Se os tucanos (e o PFL) quiserem evitar um PT forte na eleição presidencial de 2002, precisam ajudá-lo agora a derrotar Marta Suplicy em São Paulo.
O primeiro sinal de que a estratégia pode dar certo ocorre hoje pela manhã. O candidato do PPB à Prefeitura de São Paulo, recebe a visita do ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, e do deputado Delfim Netto (PPB-SP). A presença de um membro do governo Fernando Henrique Cardoso no QG malufista não é casual.
Ao governo Fernando Henrique Cardoso, e ao PFL, que apóia o governo, não interessa ver o PT na direção da maior cidade brasileira. Por outro lado, o PPB, do qual Dornelles faz parte, apóia o governo. "O PT tem um projeto nacional. O PPB não tem", diz Maluf. O ex-candidato a presidente da República (duas vezes) promete que não se candidatará a nada em 2002: "Se quiser, eu faço uma declaração em cartório".
Maluf, com 69 anos completados um mês atrás, aparenta excelente forma física. O peso da idade só aparece na barriga menos enxuta (apesar de ter perdido 3 quilos) e no cabelo mais escasso do que o de anos atrás. A voz ainda é a mesma. "Só ataco se for atacado", diz Maluf. "Vou esperar para ver o que eles vão fazer." O ex-prefeito duas vezes (uma nomeado e outra eleito) afirma que não definiu ainda a estratégia dos programas de televisão, que começam nos próximos dias. Na entrevista bateu, sobretudo, em duas teclas: 1. O PT promete, mas não faz; e 2. A população já conhece a ineficiência do partido de Marta.
O principal líder da direita nega qualquer definição ideológica. Acha que conservador e liberal são conceitos mortos. O verbo que mais gosta de conjugar é "fazer". Trata-se de um credo produtivista. "O povo pobre que votou em mim pelo que eu fiz", afirma.
Obcecado por "fazer", Maluf afirma ter inventado um programa de saúde, o PAS, que a ONU recomendou para a China. O único plano de habitação, o Cingapura, financiado pelo BID. E até, "quem sabe", seja o inventor da carreata, em 1986.
Maluf diz que não vai procurar outras forças para fazer alianças formais. Procura mostrar respeito pelos candidatos derrotados e declara admiração por Erundina, "imigrante como meu pai", mas não acredita em acordos de liderança. Maluf parece refratário aos conciliábulos de bastidores, tão caros a líderes como Tancredo Neves que o derrotou no Colégio Eleitoral em 1985. "Sou mau político porque falo o que penso", diz.
O estilo Maluf granjeou-lhe a fama de truculento. As urnas de domingo mostraram que, para um quinto dos eleitores de São Paulo, o fato de ele "fazer" é mais relevante. Mesmo emocionado por esse reconhecimento numa hora difícil e disposto a fazer uma campanha "alta", ele não esquece as ameaças. "Se eles baixarem o nível, tenho munição pesada para contra-atacar."
Mas promete não atirar a primeira pedra. "Não sou um homem de baixaria", comenta ao final de uma entrevista que durou mais de duas horas. Veja os principais trechos da conversa:

Folha - O sr. vai procurar Alckmin, Tuma e Covas para pedir apoio?
Maluf -
Não. Quero os votos dos eleitores deles. Não vou procurar ninguém. Mas não esqueça que 2000 é a antevéspera de 2002. Eu não tenho sonhos de, sendo eleito prefeito, sair da prefeitura. Vou ser prefeito por 4 anos e, dependendo das condições, ser candidato à reeleição em 2004. O PT tem projeto nacional, o PPB não tem. O pior que pode acontecer para aqueles que são contra a invasão de terras, inclusive o presidente da República, que está vendo o PT na porta da sua fazenda, o que é uma provocação porque há muita fazenda no Brasil para estar na porta da fazenda dele eu posso discordar do presidente, mas essa provocação é desnecessária. O próprio Mário Covas, quando foi prefeito, viu o PT acampar no Ibirapuera durante 90 dias. Com barracas, fazendo as suas necessidade fisiológicas no lago, crianças tomando banho no lago. Qualquer pessoa que tenha projetos para 2002 e o PSDB tem, o PFL tem, o PMDB tem não vai querer o PT na Prefeitura de São Paulo, alavancando a candidatura Lula.

Folha - Como pretende reverter a rejeição que há ao sr. na cidade?
Maluf -
Eu tenho agora 20 programas de Tv de 10 minutos. Vou mostrar que se tem alguma rejeição por mim, se houve algum ataque injusto, que pense bem, porque vai custar caro colocar o PT outra vez na Prefeitura.

Folha - Este vai ser o quarto confronto municipal entre o sr. e o PT na cidade. Por que essa repetição?
Maluf -
O PT é só promessa. Aqueles que vão votar em mim querem ver se eu posso carregar o piano. Faço as coisas acontecerem. O PT formula bem, se reúne, mas não assume a responsabilidade. Vai haver um confronto entre dois partidos que já governaram a cidade. Um que, com quatro anos não fez nada, e outro, que mudou a cara da cidade.

Folha - Apesar de o sr. ter pedido para nunca mais votarem em Paulo Maluf se Pitta não fosse um bom prefeito, o sr. teve 18% dos votos. Como explica isso?
Maluf -
O eleitor entendeu que aquilo era uma frase de campanha. E eu acreditava realmente. Errei. Quem nunca errou na vida? Quem nunca errou na vida que atire a primeira pedra. Se a dona Marta nunca errou na vida, ela que atire a primeira pedra. Eu vou mostrar que eu não retorno as pedras, mas eu teria uma pedreira inteira contra ela, sobre erros que ela já cometeu. Os que votaram em mim sabem que Pitta termina a sua administração daqui a três meses, mas os problemas ficam.

Folha - Celso Pitta trabalhou com o sr. vários anos em sua empresa e depois foi seu secretário de Finanças. O sr. não o conhecia bem?
Maluf -
Henry Kissinger tem uma frase: você só conhece as pessoas quando elas vão para o cargo. As pessoas mudam.

Folha - Entre os escândalos da era Pitta, dois envolveram o sr. Um foi o do Frangogate.
Maluf -
Tudo que existe sobre o processo parou porque eu não tenho culpa nenhuma no cartório. Minha mulher nunca vendeu frangos para a prefeitura. Aliás, minha primeira medida como prefeito será mandar um projeto de lei à Câmara: parentes até terceiro grau do prefeito, do vice-prefeitos, dos secretários municipais e de todos os cargos de confiança estão impedidos de entrar em concorrência da prefeitura.

Folha - O segundo caso refere-se às denúncias de Nicéa Pitta de que teria havido desvio de verbas do PAS para a sua campanha de 98.
Maluf -
Ela já foi condenada mais de uma vez em processo meu e do vereador Curiati. Sobre dona Nicéa eu não comento.

Folha - Em 92, o sr. teve quase 50% dos votos no primeiro turno. Agora, o sr. teve menos da metade. A que atribui a queda?
Maluf -
Cada eleição é uma eleição.

Folha - O sr. defende a prisão perpétua, mas o assunto não é de alçada do prefeito. Por que discuti-lo?
Maluf -
Porque não sou tucano. Eu tenho ponto de vista. E se eu sou polêmico é porque eu tenho coragem de dizer o meu ponto de vista. O prefeito de São Paulo tem mídia. No que depender de mim, crimes hediondos por reincidência terão prisão perpétua. Direitos humanos são para as vítimas.

Folha - A tolerância zero não vai aumentar a violência?
Maluf -
Em São Paulo se mata 110 pessoas por fim de semana. Em Nova York, onde há tolerância zero, tem dois. Lá, quem mata policial tem prisão perpétua.

FRASES

É evidente que Mário Covas tem justos anseios políticos e que o PT em 2002 será concorrente desses anseios, dele e do PSDB
PAULO MALUF
Não esqueça que 2000 é a antevéspera de 2002. Eu não tenho sonhos de, sendo eleito prefeito, sair da prefeitura (...) O PT tem projeto nacional, o PPB não tem
PAULO MALUF



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