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PT é o maior adversário do PSDB, diz Maluf
ANDRÉ SINGER
DA REPORTAGEM LOCAL
"É evidente que Mário Covas
tem justos anseios políticos e que
o PT em 2002 será concorrente
desses anseios políticos, dele e do
PSDB", diz o ex-governador Paulo Maluf em meio à entrevista
concedida ontem à Folha na
mansão da rua Costa Rica. O recado é claro. Se os tucanos (e o PFL)
quiserem evitar um PT forte na
eleição presidencial de 2002, precisam ajudá-lo agora a derrotar
Marta Suplicy em São Paulo.
O primeiro sinal de que a estratégia pode dar certo ocorre hoje
pela manhã. O candidato do PPB
à Prefeitura de São Paulo, recebe a
visita do ministro do Trabalho,
Francisco Dornelles, e do deputado Delfim Netto (PPB-SP). A presença de um membro do governo
Fernando Henrique Cardoso no
QG malufista não é casual.
Ao governo Fernando Henrique Cardoso, e ao PFL, que apóia
o governo, não interessa ver o PT
na direção da maior cidade brasileira. Por outro lado, o PPB, do
qual Dornelles faz parte, apóia o
governo. "O PT tem um projeto
nacional. O PPB não tem", diz
Maluf. O ex-candidato a presidente da República (duas vezes)
promete que não se candidatará a
nada em 2002: "Se quiser, eu faço
uma declaração em cartório".
Maluf, com 69 anos completados um mês atrás, aparenta excelente forma física. O peso da idade
só aparece na barriga menos enxuta (apesar de ter perdido 3 quilos) e no cabelo mais escasso do
que o de anos atrás. A voz ainda é
a mesma. "Só ataco se for atacado", diz Maluf. "Vou esperar para
ver o que eles vão fazer." O ex-prefeito duas vezes (uma nomeado e outra eleito) afirma que não
definiu ainda a estratégia dos programas de televisão, que começam nos próximos dias. Na entrevista bateu, sobretudo, em duas
teclas: 1. O PT promete, mas não
faz; e 2. A população já conhece a
ineficiência do partido de Marta.
O principal líder da direita nega
qualquer definição ideológica.
Acha que conservador e liberal
são conceitos mortos. O verbo
que mais gosta de conjugar é "fazer". Trata-se de um credo produtivista. "O povo pobre que votou
em mim pelo que eu fiz", afirma.
Obcecado por "fazer", Maluf
afirma ter inventado um programa de saúde, o PAS, que a ONU
recomendou para a China. O único plano de habitação, o Cingapura, financiado pelo BID. E até,
"quem sabe", seja o inventor da
carreata, em 1986.
Maluf diz que não vai procurar
outras forças para fazer alianças
formais. Procura mostrar respeito
pelos candidatos derrotados e declara admiração por Erundina,
"imigrante como meu pai", mas
não acredita em acordos de liderança. Maluf parece refratário aos
conciliábulos de bastidores, tão
caros a líderes como Tancredo
Neves que o derrotou no Colégio
Eleitoral em 1985. "Sou mau político porque falo o que penso", diz.
O estilo Maluf granjeou-lhe a fama de truculento. As urnas de domingo mostraram que, para um
quinto dos eleitores de São Paulo,
o fato de ele "fazer" é mais relevante. Mesmo emocionado por
esse reconhecimento numa hora
difícil e disposto a fazer uma campanha "alta", ele não esquece as
ameaças. "Se eles baixarem o nível, tenho munição pesada para
contra-atacar."
Mas promete não atirar a primeira pedra. "Não sou um homem de baixaria", comenta ao final de uma entrevista que durou
mais de duas horas. Veja os principais trechos da conversa:
Folha - O sr. vai procurar Alckmin,
Tuma e Covas para pedir apoio?
Maluf - Não. Quero os votos dos
eleitores deles. Não vou procurar
ninguém. Mas não esqueça que
2000 é a antevéspera de 2002. Eu
não tenho sonhos de, sendo eleito
prefeito, sair da prefeitura. Vou
ser prefeito por 4 anos e, dependendo das condições, ser candidato à reeleição em 2004. O PT
tem projeto nacional, o PPB não
tem. O pior que pode acontecer
para aqueles que são contra a invasão de terras, inclusive o presidente da República, que está vendo o PT na porta da sua fazenda, o
que é uma provocação porque há
muita fazenda no Brasil para estar
na porta da fazenda dele eu posso
discordar do presidente, mas essa
provocação é desnecessária. O
próprio Mário Covas, quando foi
prefeito, viu o PT acampar no Ibirapuera durante 90 dias. Com
barracas, fazendo as suas necessidade fisiológicas no lago, crianças
tomando banho no lago. Qualquer pessoa que tenha projetos
para 2002 e o PSDB tem, o PFL
tem, o PMDB tem não vai querer
o PT na Prefeitura de São Paulo,
alavancando a candidatura Lula.
Folha - Como pretende reverter a
rejeição que há ao sr. na cidade?
Maluf - Eu tenho agora 20 programas de Tv de 10 minutos. Vou
mostrar que se tem alguma rejeição por mim, se houve algum ataque injusto, que pense bem, porque vai custar caro colocar o PT
outra vez na Prefeitura.
Folha - Este vai ser o quarto confronto municipal entre o sr. e o PT
na cidade. Por que essa repetição?
Maluf - O PT é só promessa.
Aqueles que vão votar em mim
querem ver se eu posso carregar o
piano. Faço as coisas acontecerem. O PT formula bem, se reúne,
mas não assume a responsabilidade. Vai haver um confronto entre dois partidos que já governaram a cidade. Um que, com quatro anos não fez nada, e outro, que
mudou a cara da cidade.
Folha - Apesar de o sr. ter pedido
para nunca mais votarem em Paulo
Maluf se Pitta não fosse um bom
prefeito, o sr. teve 18% dos votos.
Como explica isso?
Maluf - O eleitor entendeu que
aquilo era uma frase de campanha. E eu acreditava realmente.
Errei. Quem nunca errou na vida?
Quem nunca errou na vida que
atire a primeira pedra. Se a dona
Marta nunca errou na vida, ela
que atire a primeira pedra. Eu vou
mostrar que eu não retorno as pedras, mas eu teria uma pedreira
inteira contra ela, sobre erros que
ela já cometeu. Os que votaram
em mim sabem que Pitta termina
a sua administração daqui a três
meses, mas os problemas ficam.
Folha - Celso Pitta trabalhou com
o sr. vários anos em sua empresa e
depois foi seu secretário de Finanças. O sr. não o conhecia bem?
Maluf - Henry Kissinger tem
uma frase: você só conhece as pessoas quando elas vão para o cargo. As pessoas mudam.
Folha - Entre os escândalos da era
Pitta, dois envolveram o sr. Um foi
o do Frangogate.
Maluf - Tudo que existe sobre o
processo parou porque eu não tenho culpa nenhuma no cartório.
Minha mulher nunca vendeu
frangos para a prefeitura. Aliás,
minha primeira medida como
prefeito será mandar um projeto
de lei à Câmara: parentes até terceiro grau do prefeito, do vice-prefeitos, dos secretários municipais e de todos os cargos de confiança estão impedidos de entrar
em concorrência da prefeitura.
Folha - O segundo caso refere-se
às denúncias de Nicéa Pitta de que
teria havido desvio de verbas do
PAS para a sua campanha de 98.
Maluf - Ela já foi condenada
mais de uma vez em processo
meu e do vereador Curiati. Sobre
dona Nicéa eu não comento.
Folha - Em 92, o sr. teve quase
50% dos votos no primeiro turno.
Agora, o sr. teve menos da metade.
A que atribui a queda?
Maluf - Cada eleição é uma eleição.
Folha - O sr. defende a prisão perpétua, mas o assunto não é de alçada do prefeito. Por que discuti-lo?
Maluf - Porque não sou tucano.
Eu tenho ponto de vista. E se eu
sou polêmico é porque eu tenho
coragem de dizer o meu ponto de
vista. O prefeito de São Paulo tem
mídia. No que depender de mim,
crimes hediondos por reincidência terão prisão perpétua. Direitos
humanos são para as vítimas.
Folha - A tolerância zero não vai
aumentar a violência?
Maluf - Em São Paulo se mata 110
pessoas por fim de semana. Em
Nova York, onde há tolerância zero, tem dois. Lá, quem mata policial tem prisão perpétua.
FRASES
É evidente que Mário
Covas tem justos anseios políticos e que o
PT em 2002 será concorrente desses anseios,
dele e do PSDB
PAULO MALUF
Não esqueça que 2000
é a antevéspera de
2002. Eu não tenho sonhos de, sendo eleito
prefeito, sair da prefeitura (...) O PT tem projeto nacional, o PPB
não tem
PAULO MALUF
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