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Educação alavanca índices do Nordeste
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
A educação foi o principal fator
que alavancou o crescimento do
IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) entre
as grandes e as médias cidades do
Nordeste, na década de 90.
O melhor desempenho, segundo a pesquisa do Ipea, ficou com
Fortaleza, que aparece como a cidade, entre as 13 do país com mais
de 1 milhão de habitantes, que teve o maior crescimento, de 9,6%,
passando do último para o penúltimo lugar. Essa alta foi estimulada pelo item educação, que cresceu 12,8%, também o maior entre
as grandes cidades brasileiras.
Entre os 494 municípios considerados médios, que possuem entre 50 mil e 500 mil habitantes, os
25 que mais avançaram no IDHM
também são do Nordeste.
Um caso é o de Monte Santo
(352 km de Salvador). No município, a taxa bruta de frequência à
escola foi multiplicada por três, e
o grau de alfabetização de seus habitantes aumentou quase 50%.
Apesar disso, a maioria dos indicadores do município continua
abaixo da média nacional -a
renda per capita mensal é de R$
47 e não cresceu na década passada. Como resultado, Monte Santo
registrou o menor IDHM entre as
cidades médias brasileiras.
O problema, na opinião do professor da faculdade de educação
da Universidade Federal do Ceará
Idevaldo Bodião, deixou de ser a
falta de vagas nas escolas, mas
continua sendo a má qualidade
do ensino ofertado. "Acho que esse índice tem um aspecto perverso, porque parece que o governo
está cumprindo a sua parte. Então, aquilo que é o fracasso da política pública não aparece como
um fracasso da política pública,
mas como um fracasso do indivíduo. O indivíduo teve escola, teve
matrícula, ficou na escola e teve o
diploma. Se ele não tem emprego,
se ele não se inclui no mundo, o
problema passa a ser individual."
Para Nelson Pretto, diretor da
faculdade de educação da Universidade Federal da Bahia, é preciso
saber "se realmente esse investimento é qualificado".
"Todos os países que optaram
pela educação como plataforma
de governo estão colhendo frutos.
O Brasil, depois de muito tempo,
parece que aprendeu a receita."
Na busca por ampliar a oferta de
vagas do ensino público, o governo do Ceará universalizou, nas
classes de quinta a oitava séries, o
telensino. Na sala de aula, um
professor é responsável por três
ou quatro disciplinas, independentemente de sua formação, e a
aula é baseada em programas veiculados pela TV estatal.
Para a coordenadora de Planejamento e Políticas Educacionais
da Secretaria de Estado da Educação, Lindomar Soares, era esperado que, com mais vagas, houvesse
queda na qualidade do ensino.
Mas, segunda ela, o Estado espera
obter melhoras no desempenho
escolar em pelo menos dois anos,
com o treinamento de professores
e com novas contratações.
O aumento das vagas nas escolas se deu principalmente no ensino fundamental, apoiado no Fundef. "O aumento de alunos é o milagre do Fundef. Todo prefeito
tem interesse em aumentar o número de alunos, pois sabe que vai
receber mais", diz o ex-ministro
da Educação Paulo Renato.
Sem a garantia de recursos federais, a educação infantil e o ensino
médio foram deixados de lado.
Em Fortaleza, no início da década
de 90, havia 110.489 vagas na educação infantil. Em 2003, este número é menor, de apenas 105.232.
"Com o Fundef, houve acesso à
escola, mas a legislação prevê o direito à educação, que é muito
mais do que o acesso", diz Bodião.
Colaborou a Reportagem Local
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