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São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2003

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Educação alavanca índices do Nordeste

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

A educação foi o principal fator que alavancou o crescimento do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) entre as grandes e as médias cidades do Nordeste, na década de 90.
O melhor desempenho, segundo a pesquisa do Ipea, ficou com Fortaleza, que aparece como a cidade, entre as 13 do país com mais de 1 milhão de habitantes, que teve o maior crescimento, de 9,6%, passando do último para o penúltimo lugar. Essa alta foi estimulada pelo item educação, que cresceu 12,8%, também o maior entre as grandes cidades brasileiras.
Entre os 494 municípios considerados médios, que possuem entre 50 mil e 500 mil habitantes, os 25 que mais avançaram no IDHM também são do Nordeste.
Um caso é o de Monte Santo (352 km de Salvador). No município, a taxa bruta de frequência à escola foi multiplicada por três, e o grau de alfabetização de seus habitantes aumentou quase 50%.
Apesar disso, a maioria dos indicadores do município continua abaixo da média nacional -a renda per capita mensal é de R$ 47 e não cresceu na década passada. Como resultado, Monte Santo registrou o menor IDHM entre as cidades médias brasileiras.
O problema, na opinião do professor da faculdade de educação da Universidade Federal do Ceará Idevaldo Bodião, deixou de ser a falta de vagas nas escolas, mas continua sendo a má qualidade do ensino ofertado. "Acho que esse índice tem um aspecto perverso, porque parece que o governo está cumprindo a sua parte. Então, aquilo que é o fracasso da política pública não aparece como um fracasso da política pública, mas como um fracasso do indivíduo. O indivíduo teve escola, teve matrícula, ficou na escola e teve o diploma. Se ele não tem emprego, se ele não se inclui no mundo, o problema passa a ser individual."
Para Nelson Pretto, diretor da faculdade de educação da Universidade Federal da Bahia, é preciso saber "se realmente esse investimento é qualificado".
"Todos os países que optaram pela educação como plataforma de governo estão colhendo frutos. O Brasil, depois de muito tempo, parece que aprendeu a receita."
Na busca por ampliar a oferta de vagas do ensino público, o governo do Ceará universalizou, nas classes de quinta a oitava séries, o telensino. Na sala de aula, um professor é responsável por três ou quatro disciplinas, independentemente de sua formação, e a aula é baseada em programas veiculados pela TV estatal.
Para a coordenadora de Planejamento e Políticas Educacionais da Secretaria de Estado da Educação, Lindomar Soares, era esperado que, com mais vagas, houvesse queda na qualidade do ensino. Mas, segunda ela, o Estado espera obter melhoras no desempenho escolar em pelo menos dois anos, com o treinamento de professores e com novas contratações.
O aumento das vagas nas escolas se deu principalmente no ensino fundamental, apoiado no Fundef. "O aumento de alunos é o milagre do Fundef. Todo prefeito tem interesse em aumentar o número de alunos, pois sabe que vai receber mais", diz o ex-ministro da Educação Paulo Renato.
Sem a garantia de recursos federais, a educação infantil e o ensino médio foram deixados de lado. Em Fortaleza, no início da década de 90, havia 110.489 vagas na educação infantil. Em 2003, este número é menor, de apenas 105.232.
"Com o Fundef, houve acesso à escola, mas a legislação prevê o direito à educação, que é muito mais do que o acesso", diz Bodião.


Colaborou a Reportagem Local

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