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São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2003

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CIDADE DAS LETRAS

Euclides da Cunha paga 19 salários a professores

DA AGÊNCIA FOLHA,
EM EUCLIDES DA CUNHA (BA)

Em pleno sertão baiano, onde a falta de água, o calor, a mortalidade infantil e a miséria compõem a paisagem, uma cidade com nome de escritor registrou o maior salto em desenvolvimento humano na última década, entre os 494 municípios que têm entre 50 mil e 500 mil habitantes.
Euclides da Cunha (314 km de Salvador), onde um professor chega a ganhar 19 salários no ano, ampliou em 31,6% o seu índice de desenvolvimento e reduzir em 66,07% a taxa de analfabetismo apostando em uma combinação simples -incentivo financeiro aos professores, construção e reforma de escolas e pressão sobre pais que deixam os filhos sem estudar.
"Os pais que não encaminham os seus filhos à escola são ameaçados de prisão pelo Ministério Público", disse a secretária municipal da Educação, Maria José Agres de Carvalho, 52.
Todos os meses, funcionários da secretaria checam as listas encaminhadas pelas 147 escolas municipais para verificar os nomes dos estudantes que abandonaram os estabelecimentos. "Em seguida, nós enviamos a relação para o Ministério Público, que cobra dos pais uma explicação para o abandono escolar."
Para garantir que as crianças da zona rural do município cheguem às escolas, a administração colocou 63 ônibus e vans por dia para fazer o transporte.
Em uma cidade com poucas ofertas de emprego, o professor pertence a uma categoria privilegiada. Há dois anos, todos os 439 professores contratados pela prefeitura recebem 19 salários por ano e uma gratificação.
Quem dedica 20 horas por semana ao magistério recebe R$ 320 por mês (o valor inclui a gratificação de R$ 80). Os professores contratados por 40 horas ganham o dobro. Quem tem curso superior acumula mais 30%.
"Depois que aumentamos o salário e oferecemos a gratificação, mais de 250 professores resolveram fazer faculdade ou mesmo uma pós-graduação", disse o prefeito José Renato Abreu de Campos (PL), 59.
Apesar de reduzir o índice de analfabetismo, o prefeito reconhece que a taxa registrada pelo Ipea ainda é muito alta. "Com os números nas mãos, vamos fazer agora uma grande cruzada para alfabetizar os adultos e moradores da zona rural."
Entre 1991 e 2000, a taxa bruta de frequência à escola saltou 118,4%, passando de 38% para 83%. (LUIZ FRANCISCO)

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