São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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LIXO PAULISTA

Ex-assessor de Palocci e Dirceu critica ação do Ministério Público

Buratti diz que amizades no poder não o beneficiaram

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

O advogado Rogério Buratti nega ter se beneficiado por tráfico de influência em razão de suas ligações com membros do governo federal e se diz vítima de uma ambição de promotores pela fama.
Investigado no escândalo Waldomiro Diniz, no caso GTech e em um suposto esquema de fraudes em licitações públicas pela empreiteira Leão Leão, Buratti foi assessor dos ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e José Dirceu e trabalhou também com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).
O petista diz ter laços de amizade com o chefe de gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, mas afirma não ter relação com o ministro "há muito tempo". Em intercepções feitas pelo Ministério Público, com autorização da Justiça, Buratti foi flagrado em conversas que apontam que ele ainda tem influência no governo.
Segundo investigadores que tiveram acesso às gravações, o advogado foi procurado em 26 de julho pelo executivo Luiz Pacola, da Leão Leão, para falar sobre "o negócio de Brasília". Buratti teria respondido que já havia conversado com "ele" sobre o assunto, que "ele" estaria em Ribeirão Preto no dia seguinte, e aconselhou o empresário a "ligar para o chefe-de-gabinete e marcar" audiência.
No dia seguinte Palocci esteve em Ribeirão participando de um evento. "Não tenho nenhuma condição de marcar reunião com ninguém", afirmou Buratti. Leia a seguir trechos da entrevista feita por telefone, anteontem.

Folha - Como o senhor avalia tudo que está acontecendo?
Rogério Buratti -
Eu não tenho nada contra, sinceramente, que observem, que me acionem. O que estou combatendo é a absoluta invasão de privacidade que o Ministério Público de Ribeirão Preto tem com relação a mim. Para mim existe uma coisa que é muito forte nesse último processo. Eles aproveitam de uma licitação, de Sertãozinho, quando eles sabem que eu não estou mais na Leão, na qual eu não me envolvo. Eles misturam. Para mim, isso tem um objetivo específico: como meu nome foi guindado em nível nacional em razão do escândalo Waldomiro Diniz, isso garante a eles publicidade nacional, na medida que me envolvem numa coisa que está muito claro, no caso de Sertãozinho, que não tive nenhuma participação.

Folha - Por que o senhor ficou sem falar por tanto tempo?
Buratti -
Eu demorei muito para falar porque eu achava que enquanto não prestasse esclarecimento na Polícia Federal, num processo que eu devo explicações, evidentemente, mencionado num escândalo nacional de grande repercussão. Eu sei que sou inocente, não conheço Waldomiro Diniz, sei que não pedi propina para a GTech, eu sei de tudo, e a sociedade tem o direito de investigar, legitimamente, de saber como eu fui envolvido. Se o delegado julgar que eu estou envolvido, ele vai me indiciar, eu vou me defender. Não tem problema.
Agora, não tenho problema em dizer que estou representando o Ministério Público porque acho que está exagerando. A invasão da Fazenda em Pedregulho, invasão da casa do contador, invasão da minha casa, todas essas ações deles não resultaram em nada. Eu fico pensando qual é o próximo passo, o que eles vão fazer. Se quebrarem meu sigilo bancário e fiscal e não encontrarem nada, o que será que vão fazer? Eu não consigo entender até onde eles querem chegar para provar uma coisa que na cabeça deles perece evidente, mas na prática não se configura.
Se eles viessem aqui em casa e achassem um "mundarel" de dinheiro, tirassem aquela foto, virasse outro escândalo da Lunus [em de março de 2002, a Polícia Federal fez uma operação de busca e apreensão em empresa da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e levou R$ 1,34 milhão], tudo bem. Os caras vão lá fazem uma coisa meio arbitrária, mas pegam alguma coisa. Agora, eles fazem as ações, e no meu caso específico, não conseguem nenhuma prova objetiva. Essa é a minha indignação.

Folha - Qual é sua ligação com o Juscelino e com o Palocci?
Buratti -
Com o Palocci, há muito tempo não existe...

Folha - ..desde 1994?
Buratti -
Não... Em 1994, eu saí da prefeitura. O Palocci ainda era prefeito, e prefeito é prefeito. De lá para cá, eu mantive relações sociais com o Palocci. Encontro em aeroportos, de vez em quando... Fizemos aquela cerimônia na prefeitura que sai a foto até hoje.. O Juscelino é diferente. O Juscelino é meu afilhado de casamento. Não encontro ele há bastante tempo, até por conta desse rolo todo, é difícil de encontrar. Tenho uma relação social estabelecida com o Juscelino, então, tenho razões para encontrá-lo, tenho relações de amizade estabelecida. Com o Palocci não tenho nenhuma relação.

Folha - O senhor não se aproveitou dessas amizades para tráfico de influência?
Buratti -
Eu não posso aproveitar... Não existe nenhum interesse meu de aproveitar. Em todas essas denúncias que apareceram contra mim, não existe nenhuma situação objetiva de falar: ele representava... Igual a Folha publicou no domingo, que eu representava na CEF [Caixa Econômica Federal], tudo isso é verdade. Essa representação levou algum contrato que levou a empresa a se favorecer de maneira ilícita? De maneira lícita não tem problema... Não levou.

Folha - Há gravações entre o senhor e Luiz Pacola em que ele pede a sua intervenção para intermediar um encontro.
Buratti -
Essa história da fita eu não vou comentar.

Folha - Mas teve?
Buratti -
Imagina, intermediar conversa de alguém. Não tenho nenhuma condição de marcar reunião com ninguém. Em Ribeirão deve ter muita gente que quer falar com o ministro. Não sou uma delas e não tenho por que falar isso.

Folha - Gravações feitas pelo Ministério Público apontam um diálogo no qual o senhor combina um encontro em um aeroporto e diz que preferia ser chamado de corrupto do que de boiola...
Buratti -
Eu sei, aquilo lá eu vi, mas não consigo identificar. Não deve ter sido nada de importante... Eu não estou lembrado...

Folha - E senhor sabe quem é a "charuteira'?
Buratti -
Não. Achei engraçado, mas não tenho noção de quem é.

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