São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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JANIO DE FREITAS

A roleta eleitoral

A escolha do seu voto, não tenha dúvida, é a mais acertada. Se o tornará um eleitor vitorioso, é outra história. Se o candidato escolhido, caso eleito, corresponderá ao que você deseja dele, na prefeitura ou como vereador, também não altera o acerto da sua escolha neste momento.
Dizem que o voto certo, sério e criterioso, é o voto dado com a consciência. Não é verdade. Em absolutamente nenhum caso. A escolha do voto, seja por quem for e em quem for, é uma questão de informação. Pode haver na escolha um componente ideológico, hoje em dia rarefeito, um tanto de paixão partidária, quem sabe mera simpatia. Nada disso, ou do que mais possa influir, nega o fato de que a escolha depende do nível de informação do eleitor. E nesse capítulo, para lhe ser franco, devo dizer que estamos muito mal, péssimos mesmo, você eleitor e nós jornalistas. Mas tranqüilize-se: a responsabilidade por isso não é meio a meio, está concentrada.
Para definir a sua preferência de eleitor, você estava sabendo qual foi o real desempenho, no mandato que acaba agora, do prefeito e dos vereadores que se candidatam à reeleição? E dos que buscam eleição, e não reeleição, você chegou ao momento da escolha sabendo direito o necessário para dar o seu voto com segurança?
Duvido (estou me esforçando para ser educado, porque tenho certeza). Posso não ter o gosto da profissão, mas, ao fim de tantos anos, tenho o vício da informação, e nem assim poderia dizer que sei o suficiente sobre a maioria dos que se oferecem ao meu voto. No convívio pessoal, é comum que observações sobre um ou outro candidato, ainda que figurante no grupo mais reduzido de candidatos a prefeito, causem surpresa mesma nas pessoas com bom conhecimento geral sobre o cotidiano.
Quem quiser saber como foi a sessão do Senado ou da Câmara na véspera não tem onde encontrar essa informação primordial nos jornais brasileiros. Não foi sempre assim, em alguns jornais esse noticiário foi até de deliciosa e freqüentada leitura. Por displicência ou irreflexão, o jornalismo ainda não se deu conta de que a ditadura acabou há 20 anos, e com isso deixa a vida parlamentar ao léu, exceto para tomar meia dúzia de declarações diárias e tratar pontualmente de uma votação eventual. O efeito disso, para o próprio padrão da vida parlamentar, é óbvio. E se nem o Congresso é refletido para os cidadãos, não se fale da atenção jornalística dada a prefeituras, câmaras municipais e assembléias legislativas.
O cidadão é um abandonado. Não só pelos políticos. Também pelos que devem informar sobre os políticos e sua (in)atividade. Sem informação, o que o eleitor faz é sempre a melhor escolha dentro das suas precárias limitações.
Faço votos de que não lhe advenha, adiante, a sensação de que o seu palpite, ou, vá lá, o seu "voto consciente" perdeu-se na roleta eleitoral.

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