|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE DO DOSSIÊ
Doleiro diz que BC tem nome de comprador
Dono de operadora supostamente envolvida no caso do dossiê afirma que órgão mantém registros de quem adquiriu moeda
Empresário não descarta
possibilidade de compras
terem ocorrido em valores
pequenos para dificultar
um futuro rastreamento
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O doleiro Clóvis Alves da
Costa informou ontem que o
Banco Central mantém em seu
sistema os nomes de todas as
pessoas e empresas que adquiriram dólares de sua operadora,
a Diskline Câmbio e Turismo,
nos meses de agosto e setembro últimos.
A Polícia Federal tem indícios, conforme a Folha revelou
no último sábado, de que a Diskline foi a ponta de uma transação de compra e venda de parte
dos US$ 248 mil usados para a
aquisição, por integrantes do
PT, de um dossiê da família Vedoin, em Mato Grosso, contra o
candidato José Serra (PSDB),
eleito anteontem governador
de São Paulo.
A assessoria de imprensa do
Banco Central confirmou a informação, mas disse que a Justiça Federal de Cuiabá (MT)
ordenou a quebra do sigilo apenas das operações superiores a
US$ 10 mil (leia texto ao lado).
Ao saber quem comprou os
dólares da Diskline, a PF poderia, em tese, chegar às pessoas
que entregaram as malas de dinheiro ao assessor do senador
Aloizio Mercadante (PT), Hamilton Lacerda, que, por sua
vez, entregou o dinheiro no hotel Íbis, de São Paulo, onde foi
apreendido no último dia 15.
Segundo a investigação da
PF, o passeio dos dólares começou num banco de Miami
(EUA), continuou pelo banco
Sofisa, no Brasil, e acabou na
corretora EBS, entre outras.
Uma parte desse dinheiro, cerca de US$ 110 mil, teria chegado à operadora de câmbio e turismo Diskline, quem, enfim,
vendeu os dólares a pessoas físicas e jurídicas em São Paulo.
Clóvis Costa confirmou que
sua empresa costuma adquirir
dólares da corretora EBS. Em
agosto último, o volume total
foi de US$ 1,06 milhão. Em setembro, US$ 250 mil.
Costa disse que nunca vendeu US$ 110 mil para uma única pessoa ou empresa e que
95% dos seus clientes são pessoas físicas que compram "US$
2.000, US$ 3.000, principalmente para gastos pessoais em
viagens de férias". A pedido da
Folha, Costa consultou o relatório de operações na semana
da apreensão do dossiê, de 10 a
15 de setembro, e concluiu que
também nesse período não
houve operações "de valor significativo", oscilando de US$
2.000 a US$ 4.000.
Indagado se, sem o conhecimento da agência, podem ter
ocorrido várias aquisições pequenas por uma mesma pessoa,
em nome de outras pessoas, para dificultar um futuro rastreamento, o empresário concordou com a possibilidade. "É
possível, sim, que tenha vindo
um monte de pessoas físicas e
comprado. Isso é indiscutível.
Mas todas essas pessoas estão
identificadas, elas apresentaram sua documentação, vieram
aqui, assinaram boleto, quer dizer, fizeram uma movimentação legal", explicou o doleiro.
Os nomes e endereços dos
compradores dos dólares, independentemente do valor da
aquisição, são informados pela
agência diariamente pela internet ao Sisbacen (Sistema de Informações do BC).
Dificuldade
Há uma dificuldade básica
para localizar quem comprou
os dólares usados na tentativa
de compra do dossiê: não há lei
que obrigue os doleiros e o BC a
registrar as operações pelo número das cédulas.
Costa disse que não há políticos entre seus clientes. "Eu até
estava analisando minha relação de clientes, e não há nenhum nome assim, conhecido,
não tem nada de figuras conhecidas, associadas ou não a essa
problemática toda."
O doleiro negou que a Diskline pertença ao doleiro Marco
Antônio Cursini, investigado
pelo Ministério Público Federal do Paraná por supostos crimes contra o sistema financeiro. "Não o conheço nem ele me
conhece." Cursini também negou relação com a Diskline.
Texto Anterior: Janio de Freitas: Polícia ou política Próximo Texto: TSE nega pedidos de direito de resposta de Lula contra a Folha Índice
|