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Fiscal afirma não ter visto "trabalho escravo" no Pará
Versão do chefe da Delegacia Regional do Trabalho no Estado se choca com a de colegas do próprio ministério, que soltaram 1.064 pessoas
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Antes de o grupo móvel do Ministério do Trabalho libertar, em
julho, 1.064 trabalhadores da Pagrisa por julgar que eles estavam
em condição análoga à de escravos, a DRT (Delegacia Regional
do Trabalho) do Pará, do mesmo
ministério, fez três blitze na usina, mas afirmou que não encontrou esse tipo de situação.
Fiscais da DRT do Pará -subordinada ao órgão de Brasília-
estiveram na fazenda, em Ulianópolis (417 km de Belém), em
outubro e dezembro de 2006 e
em fevereiro deste ano. Encontraram irregularidades que, segundo eles, não configuravam
trabalho escravo.
O chefe de fiscalização da DRT,
José Ribamar Miranda da Cruz,
diz que em outubro a empresa foi
apenas notificada para resolver a
falta de água potável e de refeições em condições higiênicas, ausência de banheiros (eram usados buracos) e de equipamentos
de segurança, além de um espaço
inferior a um metro entre as redes de dormir nos alojamentos.
Na fiscalização feita de 23 a 28 de
outubro havia, segundo Cruz,
1.458 funcionários no local. Na
do dia 4 de dezembro, a empresa
tinha 1.495 trabalhadores.
Na nova fiscalização, foi constatado que a Pagrisa não recolhia
o FGTS de 151 trabalhadores,
atrasava salários e mantinha funcionários em turnos além do horário legal (12 horas por 36 de
descanso). A falta de banheiros, a
superlotação de alojamentos e a
ausência de higiene com alimentos e água já estavam resolvidos,
segundo a DRT. Em fevereiro
deste ano, os fiscais voltaram à
Pagrisa e encontraram apenas
559 trabalhadores, dos quais 43
estavam sem registro.
Em julho, porém, o grupo móvel encontrou irregularidades similares e as considerou "flagrantes violações a normas trabalhistas, tipificadas no artigo 149 do
Código Penal", que condena
quem "reduz alguém a condição
análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados
ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho".
Semelhanças
Entre as semelhanças encontradas nas ações da DRT e do
grupo móvel estão a ausência
do fornecimento de água potável, as precárias instalações sanitárias, a má conservação das
refeições, não-permissão de
descanso e a superlotação.
"Nossa fiscalização encontrou uma situação que não caracterizava [trabalho] degradante e escravo porque era um
momento diferente do que a
equipe móvel encontrou em julho. Não estava no período de
safra", diz Cruz, que também
não considera que as irregularidades encontradas em 2006 -e
similares às vistas em julho-
configuram trabalho escravo.
Para a secretária de Inspeção
do Trabalho, Ruth Vilela, há diferenças entre as fiscalizações
locais, que são de rotina, e as do
grupo móvel. Ela diz que a visita da DRT de dezembro se deu
apenas na usina, e não no campo. Quanto à do grupo móvel,
em julho, afirma que os fiscais
perceberam "retenção de salário por dívida", o que caracteriza cerceamento de liberdade.
Vilela diz que a criação dos
grupos móveis ocorreu justamente porque havia "uma crítica de que a fiscalização local
não se encontrava estruturada
e preparada" por temer represálias. "O que ainda existe é a
indicação política nesses locais.
No grupo móvel não existe
compromisso partidário."
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