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Empresa corta gasto até em aço em Angra 3
Andrade Gutierrez reduz previsão de despesa também com salários e ambulatório para chegar a valor estabelecido pelo TCU
Empreiteira não comenta a redução; Eletronuclear afirma que os cortes não vão afetar nem qualidade nem segurança da usina nuclear
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Para evitar a perda do contrato de construção da usina
nuclear Angra 3 e chegar ao valor definido pelo TCU (Tribunal de Contas da União), a
construtora Andrade Gutierrez
baixou gastos com aço, andaimes, pessoal e até ambulatório
médico, entre outros itens.
O valor foi de R$ 1,368 bilhão
para R$ 1,297 bilhão. O contrato com a Eletronuclear, estatal
subsidiária da Eletrobrás, foi
renegociado há duas semanas.
Ontem, o ministro de Minas e
Energia, Edison Lobão, autorizou o início da construção.
A construtora reduziu as previsões de gastos com matérias-primas, salários, encargos sociais, transporte de empregados e ambulatório médico para
atendimento aos operários. Em
nota, a empresa disse que não
comentaria a redução.
A previsão de dispêndios
com a compra de aço baixou R$
24,4 milhões. Os gastos com
andaimes diminuíram R$ 21,38
milhões. A despesa com salários de ajudantes de obras, serventes e encarregados foi reduzida em R$ 6 milhões.
A Eletronuclear sustenta que
os cortes não afetarão a qualidade nem a segurança da usina.
Para o superintendente de gerenciamento de empreendimentos da estatal, Luiz Manuel
Messias, a Andrade Gutierrez
aceitou reduzir os preços porque a construção de uma usina
nuclear lhe dará nova estatura
para disputar o mercado. As
usinas Angra 1 e 2 foram feitas
pela Norberto Odebrecht.
A redução determinada pelo
TCU, de R$ 120 milhões, corresponde ao preço médio de
2.000 casas do programa Minha Casa, Minha Vida.
A Folha obteve a planilha
com os itens revistos. Uma das
explicações para o corte de R$
9,379 milhões com combustível é que a energia será fornecida gratuitamente pela Eletronuclear. Segundo Messias, o
orçamento pressupunha que
todo o maquinário seria movido a diesel, mas, nas discussões
com o TCU, ficou constatado
que as gruas têm motores elétricos, e a previsão de gasto de
combustível foi reduzida.
Indagado se o corte prova
que os custos estavam superfaturados, Messias disse que podiam estar ""superestimados",
mas que o Confea (Conselho
Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) considera
aceitável variação de até 15%
nos orçamentos. A redução feita, segundo ele, é de 10%.
A Andrade Gutierrez foi escolhida para construir Angra 3,
nos anos 80. Cinco empresas
participaram da licitação. A
construção começou em 1984 e
parou dois anos depois.
Quando o governo decidiu
retomar a obra, a construtora
Mendes Júnior questionou no
Ministério Público Federal a
validade da licitação. O TCU
decidiu que a licitação continua válida, mas exigiu examinar o contrato renegociado entre Andrade Gutierrez e Eletrobrás, antes da assinatura.
A previsão é que a usina entre em operação comercial em
maio de 2015 e consuma R$ 7,3
bilhões. Parte dos equipamentos -como o reator nuclear-
no valor de R$ 1 bilhão, foi adquirida na construção de Angra
2, e US$ 20 milhões são gastos,
por ano, com sua manutenção.
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