São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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FINANCIAMENTO

Lei proíbe comitê financeiro de receber doação de entidade de classe

Lula teve doação irregular de associação na campanha

WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Associação Nacional de Factoring (Anfac), que reúne 740 empresas em todo o país, fez uma doação ilegal à campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. No dia 23 de outubro, última quarta-feira antes do segundo turno, a entidade transferiu R$ 50 mil para o caixa petista.
O dado faz parte de lista parcial das doações feitas ao comitê financeiro do PT, obtida pela Folha. Entre as empresas que fizeram doações estão a Silvio Santos Participações, a Petroquímica União e as cervejarias Astra e Schincariol. Cada uma delas deu R$ 200 mil à campanha.
A lista parcial obtida pela Folha não inclui a maior doação recebida pelo comitê. A Coteminas, indústria têxtil que pertence ao vice-presidente eleito José Alencar, contribuiu com R$ 2 milhões.
Por enquanto, a única doação problemática é a da Associação Nacional de Factoring, que fere a legislação eleitoral em vigor. O artigo 24 da lei 9.504/97 proíbe os comitês financeiros de campanhas eleitorais de "receber direta ou indiretamente doação em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie", procedente de entidade de classe.
A mesma lei informa, no artigo 25, que "o partido que descumprir as normas referentes à arrecadação e aplicação de recursos fixadas nesta lei [9.504/97" perderá o direito ao recebimento da quota do Fundo Partidário do ano seguinte, sem prejuízo de responderem os candidatos beneficiados por abuso do poder econômico".
Segundo o presidente da Anfac, Luiz Lemos Leite, o valor doado foi coletado pela entidade entre "90% dos associados". Ao pé da letra, corresponderia a 666 contribuições de R$ 75. "Ofereci essa contribuição em nome das empresas. Reunimos um pouco de cada um e doamos em nome da Anfac", disse Lemos Leite.
A lista parcial das doações feitas ao PT durante a campanha presidencial também indica que o setor de medicamentos preferiu Luiz Inácio Lula da Silva a José Serra, candidato do PSDB à Presidência e ex-ministro da Saúde.
Entre as 86 empresas que deram contribuições em dinheiro para Lula, citadas na relação, 13 doadores são ligados ao setor da saúde e dez, entre eles, são laboratórios de medicamentos. Ao todo, as 13 doações somaram R$ 685,5 mil.
O presidente da Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos, Ogari Pacheco, que doou R$ 100 mil, disse à Folha que "Serra está desgastado" no setor. "Fomos procurados, mas preferimos não contribuir. O grupo de multinacionais foi mais arredio ainda."
Para David Zimath, porta-voz da Altana Pharma, que também doou R$ 100 mil, o setor estava dividido entre Lula e Serra. "Normalmente, as empresas tendem a apoiar o candidato do governo. Mas achamos que a proposta do PT amadureceu bastante, assim como o próprio Lula. Por isso, decidimos doar", justificou o executivo. A Altana Pharma só contribuiu para a campanha de Lula.
Um dos grandes atrativos no contato entre o comitê e os empresários foi uma "caixinha", enviada às companhias. Nela havia uma estrela do PT, uma carta de Lula e um vídeo com um resumo das intenções do candidato. "A caixinha estava muito bem feita, e o estilo "Lula, paz e amor" impressionou", disse Sálvio Di Girolamo, diretor de Assuntos Corporativos da Novartis. A empresa decidiu fazer doações iguais, de R$ 50 mil, para Lula e Serra.
Ao menos 40 empresas e bancos da listagem obtida pela Folha disseram "não" ao assédio do comitê financeiro de Lula. Entre eles: Alcatel Telecomunicações, BankBoston, Makro Atacadista, Microsoft Informática, Nestlé Brasil, Nortel Networks, Procter&Gamble, Siemens, Sousa Cruz e Xerox.



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