São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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POLÍTICA EXTERNA

Petista falou ao "Post"

A jornal dos EUA, Lula critica Chávez e Cuba

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, faz críticas ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e ao regime cubano, em entrevista publicada na edição de hoje do diário norte-americano "The Washington Post".
"Lembro-me de ter dito ao presidente Chávez: "Eu o aconselharia a ser mais político. Um presidente não pode brigar com todo mundo ao mesmo tempo. É preciso mais sabedoria política. É preciso rachar os adversários para poder governar com eles". Ele está pagando o preço de sua falta de experiência política", declarou.
Sobre o regime do ditador Fidel Castro, Lula procurou se mostrar distante. "Não vamos confundir a paixão da minha geração pela Revolução Cubana e o que representou na época com qualquer aprovação ao regime cubano de hoje. Defendo liberdade religiosa, cultural, comercial e política", disse.
Aos norte-americanos, o petista assegurou também que não pretende implantar no Brasil um modelo econômico que tenha o estatismo como marca.
"Não acho que o Estado tenha que dirigir empresas. O papel do Estado é planejar, estimular o desenvolvimento com incentivos e, se necessário, procurar a iniciativa privada para fazer parcerias em financiamentos", afirmou.
Ainda no esforço de apresentar-se como um dirigente moderado, que não pretende criar instabilidade, o presidente eleito declarou na entrevista que respeitará as regras e contratos com investidores internacionais.
"Pode dizer aos investidores americanos e ao povo americano que cumpriremos todos os contratos que o governo brasileiro assinou", afirmou.
Lula disse que tem interesse em estreitar as relações com o governo norte-americano. "São os nossos principais parceiros comerciais e pretendemos melhorar nossa relação com os EUA. Queremos discutir nossos problemas comerciais, que são muitos", declarou o presidente eleito.

Banco Central
Lula minimizou, na entrevista, a importância da autonomia operacional do Banco Central, medida que seu partido buscará no Congresso. O petista disse também que não nomeará o presidente do BC por pressão do mercado.
"Nenhum país no mundo sofreu tanta pressão durante uma campanha eleitoral para divulgar o nome do presidente do BC. Não posso ceder às pressões internacionais para dar um nome. A autonomia do Banco Central não é assunto prioritário. As pessoas que governaram o Brasil por tantos anos poderiam ter feito isso", disse.
Ao ser questionado sobre a mudança de posições que defendeu no passado, o presidente eleito chegou a dizer que seria "idiota" se não tivesse evoluído.
"Acredito que mudei e que o Brasil mudou. Seria idiota se eu não tivesse mudado: um homem que chega aos 57 anos, que sofreu todos os tipos de preconceito, que concorreu quatro vezes à Presidência..."
No final da entrevista, Lula diz que sua maior conquista foi ter sobrevivido. "Comi pão pela primeira vez na minha vida aos 7 anos. Antes disso, bebia café preto com farinha de manhã."



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