São Paulo, sexta-feira, 03 de novembro de 2006

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Povo tem de pressionar Lula, diz d. Cláudio

Recém-nomeado para o Vaticano, cardeal afirma que petista tem condição de fazer segundo mandato melhor que o anterior

Futuro membro da Cúria, cardeal deixará SP até o final do mês e aconselha próximo arcebispo a continuar tendo compromisso com os pobres

Caio Guatelli/Folha Imagem
O cardeal d. Cláudio Hummes, administrador apostólico da Arquidiocese de São Paulo, abençoa os fiéis após a missa de Finados


LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O cardeal d. Cláudio Hummes, recém-nomeado para o "ministério do papa", na Congregação para o Clero, era chamado de candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a sumo pontífice no ano passado, dada a ligação entre os dois.
Antes de ir embora, contudo, o ex-arcebispo e atual administrador apostólico da Arquidiocese de São Paulo tem deixado alguns recados tanto para o presidente -que conhece desde o final dos anos 70- quanto para o eleitorado do petista. Ao mesmo tempo, se colocou à disposição para estreitar as relações entre Vaticano e governo.
Questionado se Lula teria condições de fazer um segundo mandato melhor que o anterior, o cardeal respondeu: "Creio que ele tem mais condições. Acredito muito, tenho muito fé e esperança de que o Lula faça um bom governo".
Em seguida, fez uma ressalva. "Mas é preciso que a sociedade e o governo, claro, queiram também fazer isso. Sempre acho que o povo é que tem que fazer uma pressão democrática, pacífica, mas tem de fazer essa pressão para que o governo sinta respaldo para fazer isso e às vezes até para que sinta vontade para isso [fazer o país crescer]", declarou.
"Lula diz que constituiu os fundamentos e que agora ele pode construir. Esperamos que sobretudo faça crescer o Brasil, dê trabalho ao povo. Claro que enquanto o povo não tem trabalho, a sociedade terá de encontrar uma forma de ajudar esse povo", disse o cardeal, que também se mostrou disposto a tornar mais próximas as relações entre o governo e a Santa Sé. "A gente sempre ajuda."
Além dos conselhos a Lula e aos eleitores, o cardeal deixou algumas sugestões para o próximo arcebispo. Ele afirmou que seu sucessor tem de ser "criativo, missionário, evangelizador, que esteja muito do lado dos pobres, muito solidário, é por aí que certamente deverá ir".

A saída de São Paulo
O cardeal falou à mídia após a missa de Finados que celebrou no cemitério Gethsêmani, pela manhã. Segundo a administração do sepulcrário -ligado à Arquidiocese de São Paulo e localizado no bairro de Anhangüera, na zona norte da capital paulista-, cerca de 2.500 pessoas participaram de uma das últimas missas de d. Cláudio em São Paulo, que deve deixar a cidade até o final deste mês.
Durante o sermão aos fiéis, o futuro membro da Cúria deu mostras de afinidade doutrinal com o papa Bento 16.
Tal como o sumo pontífice, conhecido pelo rigor doutrinário, ele disse que os fiéis não podem esquecer das "verdades fundamentais" da religião, ao falar sobre a busca por uma vida correta.
"Cristo ressuscita dos mortos, vence a morte. O poder da morte é passageiro. Em todos nós a morte será vencida. É claro que há condições para que também colaboremos para que essa ressurreição seja para uma vida feliz, e não uma ressurreição para ficar longe de Deus eternamente. Jesus nos dá esse alerta, que a gente também pode se perder", disse.
"Alguns ressuscitarão para a vida e outros para a morte eterna, ou seja, para estar longe de Deus. A gente não pode esquecer essas verdades fundamentais. Senão acabamos nos desorientando pela vida. Jesus Cristo mesmo foi obediente a seu Pai até a cruz."
O cardeal também criticou a tentativa de esquecer a existência da morte. "Hoje a gente não gosta de falar de morte, hoje o mundo não gosta de falar da morte, tenta esquecer, tenta esconder a morte, a gente morre longe da sociedade para não perturbar as pessoas com o pensamento da morte", disse o cardeal. "Quem não tem fé, para ele será difícil de fato entender o mistério da morte."


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