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'Brasil ainda é
muito barato',
diz Franco
do enviado especial
Inglês fluente e pensamento arti
culado, o presidente do Banco
Central, Gustavo Franco, vestiu o
traje de vendedor do produto Bra
sil para dizer aos empresários que
o ouviam ontem em Londres:
"O Brasil ainda é muito barato".
A frase de vendedor esconde, no
entanto, a estratégia do governo
brasileiro: marcar diferenças com
a Ásia em crise, o tema central da
exposição de Gustavo Franco.
Para ele, o preço dos ativos brasi
leiros não está artificialmente in
chado, como o dos asiáticos. Com
parou: no início deste ano, o di
nheiro com que se compraria uma
empresa de distribuição de energia
em Hong Kong daria para com
prar seis empresas do mesmo por
te no Brasil.
Outra comparação: enquanto a
Bolsa brasileira teve uma valoriza
ção de cerca de 40% este ano, a da
Tailândia ficou reduzida a 40% do
que valia em janeiro último.
A comparação sobre o valor dos
ativos brasileiros e asiáticos serviu
igualmente para Franco afastar
qualquer suspeita sobre uma
eventual desvalorização do real, ao
contrário do que fizeram muitos
países asiáticos com suas moedas.
Ele citou os vários cálculos que
se fazem sobre a sobrevalorização
do real (de 2% a 7%), para afastar
"a engraçada teoria de aceitar um
pouco mais de inflação em troca
de crescimento". "É nonsense",
fulminou, que está "muito longe
dos objetivos do governo".
As lições de 82
Não ficaram nisso as compara
ções com a Ásia. Para Franco, a
crise de 1982 (ano em que o Méxi
co quebrou pela primeira vez) en
sinou aos latino-americanos, e ao
Brasil em particular, muitas lições
que só agora chegam aos asiáticos.
"Fizemos tremendos progres
sos em áreas em que eles têm mui
to a fazer", disse o presidente do
BC. Citou uma delas, aliás o ponto
crucial da crise na Ásia: a fragilida
de do sistema financeiro, carrega
do de empréstimos que dificil
mente serão recuperados.
No Brasil, ao contrário, o siste
ma "é moderno, sadio, sofistica
do e internacionalizado", disse.
Recebeu apoio de sir William
Purves, presidente do HSBC, que
comprou faz pouco o Bamerindus:
"Desde que os fundamentos se
jam mantidos, o Brasil pode atrair
nossos clientes de outras partes do
mundo". "Fundamentos" é o jar
gão econômico que designa orça
mentos mais ou menos equilibra
dos, inflação sob controle e déficit
das contas externas financiável.
Purves derramou elogios à eco
nomia brasileira, admitiu que
"nem tudo é perfeito", em alusão
aos déficits fiscal e de contas exter
nas, mas disse que o "Brasil tem
uma estratégia econômica clara".
Para satisfação de Purves, Fran
co garantiu que os fundamentos
serão mantidos e que o novo am
biente econômico internacional
produzirá uma mudança apenas
de "timing", mas não de substân
cia da política econômica que vem
sendo seguida pelo governo FHC.
Depois, em entrevista coletiva,
admitiu "um bocadinho" de que
da nas reservas internacionais do
Brasil, mas disse que elas se estabi
lizaram e deverão continuar esta
bilizadas até o fim do ano. "Have
rá alguma recuperação no primei
ro trimestre, pelo efeito sazonal do
aumento das exportações e redu
ção das importações", disse.
(CR)
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