São Paulo, domingo, 4 de janeiro de 1998.




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CELSO PINTO
O teste do mercado externo

Encerradas as festas de fim de ano, o primeiro grande teste de 98 será saber se o mercado internacional vai reabrir para o Brasil. As indicações de dezembro foram animadoras.
Alguns primeiros negócios começaram a ser feitos já em dezembro, antes do que se supunha. Foram, contudo, colocações privadas, acertadas com um ou vários bancos, ou montadas de tal forma que algum intermediário absorveu o risco temporário. O teste de verdade será colocar papéis para investidores finais.
A reabertura do mercado supõe, é claro, que não haja novas complicações na Ásia. O esforço de cooperação dos governos e dos bancos em evitar uma inadimplência na Coréia é um bom sinal. A situação do Japão, contudo, ainda carrega boa dose de incerteza.
O diretor de um grande banco americano, em Nova York, acha que a liquidez para países emergentes vai melhorar nos próximos meses, por razões técnicas. Ele imagina que os países asiáticos vão aumentar de forma significativa seus saldos comerciais. Por duas razões. Pela redução nas importações provocada pela forte freada na economia e pelo impulso às exportações gerado pela acentuada desvalorização cambial.
Este saldo comercial maior significará mais divisas, que poderão tomar dois rumos. Poderão engordar as reservas cambiais, ou alimentar mais aplicações fora dos países asiáticos.
Nos dois casos, o efeito seria o mesmo, raciocina. O dinheiro deve acabar se transformando em investimentos conservadores, provavelmente títulos do Tesouro americano. Esta demanda extra pelos papéis americanos, por sua vez, acabará gerando mais liquidez nos Estados Unidos, o que, como mostram os últimos anos, acaba aumentando o interesse de investidores por aplicações de retorno mais alto. O que poderá beneficiar os países emergentes.
Outro fator que pode ajudar é o fato de muitos fundos de alto retorno ou em países emergentes estarem com muito dinheiro em caixa. No pico da incerteza, fazia todo sentido vender posições mais arriscadas e manter dinheiro em caixa, em aplicações conservadoras. No entanto, se o mercado der sinais de volta à normalidade, é natural que estes fundos voltem a aplicar em papéis e ações de países emergentes.
O Banco Paribas também espera um mercado mais positivo, por outras razões. Na sua publicação "Latin Focus: Outlook for 1998", Heather Hallack, estrategista do banco, analisa o comportamento dos fundos internacionais de ações e renda fixa na Ásia e na América Latina nos últimos seis meses e compara com seu comportamento no episódio da crise mexicana, em dezembro de 94.
Uma conclusão é que, pouco antes da crise, os investimentos deixaram de crescer, talvez refletindo uma certa desconfiança com a região. Outra conclusão interessante é que a região oposta à da crise acabou se beneficiando com entradas de dinheiro.
No caso da crise do México, os investimentos caíram durante cinco meses e depois foram fortemente retomados, especialmente na Ásia. O trabalho se pergunta se o mesmo padrão de comportamento não deve se repetir agora, com a crise da Ásia. Já se passaram mais de cinco meses desde o início da crise e os investimentos de fundos internacionais caíram nas duas regiões. Seria possível uma retomada mais forte em favor da América Latina?
Hallack acha que sim. Os investidores poderiam ir em busca de maior rentabilidade na América Latina, com mais apetite do que na Ásia.
Isso não quer dizer, contudo, que todos os países latino-americanos serão beneficiados da mesma forma. Dúvidas persistirão, especialmente no caso do Brasil, como lembram o Paribas e o banqueiro de Nova York.
À medida que se aproximar a eleição presidencial, a dúvida será não só se FHC será reeleito, "mas se haverá uma desvalorização cambial na manhã seguinte", lembra Hallack. "Esta é uma possibilidade", admite, e se ocorrer terá um forte impacto em outros países latino-americanos, especialmente a Argentina.





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