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Crise asiática acelera as reformas
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
Perversamente, seria da mais alta
conveniência para o Brasil que a
crise asiática não acabasse tão cedo: a pressão de uma catástrofe externa é o aditivo que a máquina do
Congresso Nacional precisa para
concluir as reformas estruturais,
principalmente as reformas administrativa e da Previdência Social,
durante o período de convocação
extraordinária, que tem início depois de amanhã.
A avaliação consensual é de dois
importantes estrategistas de bancos de investimentos internacionais, especializados na economia
brasileira: Neil Dougall, economista do Kleinwort Benson, de
Londres, que pertence ao grupo financeiro Dresdner, da Alemanha,
e Paulo Leme, vice-presidente do
Goldman Sachs, de Nova York.
A convocação extraordinária do
Congresso pelo presidente Fernando Henrique Cardoso tem como objetivo apressar a tramitação
das reformas estruturais.
Neil Dougall diz que o progresso
recente das reformas constitucionais é "encorajador", ressaltando
que o Brasil, ironicamente, pode
estar, muito em breve, em uma situação econômica muito mais forte do que há seis meses, quando os
índices dos mercados de ações do
país atingiram "níveis de valorização estratosféricos".
Paulo Leme diz que o viés político da macroeconomia nunca ficou
tão evidente quanto agora no Brasil. Segundo Leme, se o Congresso
não aproveitar a convocação extraordinária para aprovar as reformas administrativa e da Previdência Social, o país sofrerá a queda da
credibilidade que foi arduamente
reconquistada nesses últimos dois
meses no mercado internacional.
A prova dessa reconquista, diz
Leme, é a recuperação, ainda que
lenta e sujeita a pequenas oscilações, das cotações dos papéis da
dívida externa brasileira no mercado internacional.
Defesa ousada
Neil Dougall diz que a defesa
adotada pelo governo brasileiro
contra a turbulência asiática foi
mais rápida e mais profunda do
que o mais ousado dos analistas
internacionais poderia esperar.
"Ainda há riscos de contágio,
mas, comparado com o México de
1994 e com os países asiáticos do
presente, o Brasil mostrou-se disposto a engolir um remédio bastante amargo para cortar o mal pela raiz", avalia Dougall.
Para o economista do Dresdner
Kleinwort Benson, os resultados
positivos desse "tratamento de
choque" ficarão tão mais evidentes
quanto mais rápido for o processo
de conclusão das reformas estruturais.
"O ímpeto das reformas será
crucial para fortalecer a confiança
do mercado internacional no Brasil. A confirmação de que os investidores adotam uma visão de longo
prazo em relação ao Brasil está no
fato de que os altos ágios pagos nas
privatizações mais recentes não
foram afetados pela turbulência
asiática", declarou.
Neil Dougall afirma que a reforma da Previdência Social é o grande desafio da convocação extraordinária do Congresso: "Sem a reforma, o déficit da Previdência Social vai alcançar US$ 5 bilhões no
ano que vem, cerca de 0,6% do
PIB, crescendo para US$ 10 bilhões
no ano 2000".
"Acreditamos, no entanto, que
há uma boa chance de ambas as reformas, a administrativa e a da
Previdência, completarem todos
os estágios de tramitação congressional até março deste ano", diz.
Mergulho fundo
Neil Dougall acha que as medidas introduzidas no auge da turbulência asiática tiveram o efeito
desejado de armar uma rede de segurança para o real, mas à custa de
uma recessão.
Para o Dresdner Kleinwort Benson, a atividade econômica vai
"mergulhar fundo" este ano: o
banco reduziu sua projeção de
crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas
do país) em 1998 de 3,5% para 0%.
"O desemprego, como consequência imediata da queda súbita
do nível de atividade econômica,
vai aumentar acentuadamente,
mas, admitindo-se que as taxas de
juros continuem a cair continuamente, pode haver um reaquecimento econômico no terceiro trimestre deste ano, um momento
oportuno para o presidente Fernando Henrique Cardoso, tendo
em vista as eleições", diz Dougall.
Paulo Leme concorda com a avaliação de Dougall, segundo a qual a
receita contra o vírus asiático vai
causar recessão no país.
A Goldman Sachs reduziu sua
projeção de crescimento do PIB de
4% para 0,5% em 1998.
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