São Paulo, sábado, 04 de janeiro de 2003

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ESTRÉIA

Ao ministério, presidente anuncia medidas contra a prostituição infantil e a fome

Lula carimba 1ª reunião do governo com agenda social

DOS ENVIADOS A BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou ontem reforçar o carimbo social de seu governo na primeira reunião ministerial no Palácio do Planalto, após ter sido empossado. Apesar de manter o tom de austeridade nos gastos públicos, disse que isso não afetará as promessas da área social.
Ao final de cinco horas e meia de um encontro que invadiu o horário do almoço -durou uma hora e meia a mais do que o previsto-, o porta-voz de Lula, André Singer, anunciou uma série de medidas, destinadas a manter sintonia com o discurso de anteontem do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que defendeu uma "revolução social", enviando o recado de que o governo petista não se limitará a manter a estabilidade macroeconômica.
"O presidente disse aos ministros que, apesar do controle de gastos, os projetos sociais serão implantados", afirmou Singer.
As principais ações anunciadas ontem, todas ainda em estado embrionário e sem detalhamento de como serão efetivadas, referem-se às áreas de saúde, geração de emprego e renda, combate à fome e proteção à infância.
Segundo a Folha apurou, uma das medidas discutidas na reunião foi a distribuição de alimentos produzidos por cooperativas agrícolas para áreas carentes. A sugestão teria sido feita pelo ministro Roberto Rodrigues (Agricultura). O uso da rede dos Correios para ajudar o programa Fome Zero também foi apresentada.
A reunião foi descontraída e aos ministros foram servidos água, café e refresco. Lula interrompia os ministros eventualmente e fez anotações durante as exposições.
Ele determinou que seja iniciada pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, uma operação para combater a prostituição infantil. Recomendou expressamente o ataque à impunidade de pessoas que exploram a atividade.
Na área de geração de renda, pediu ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, a aceleração de estudos para ampliação das cooperativas populares de crédito. Em sua campanha, Lula insistiu nesse ponto: pregou a formação de cooperativas para que haja crédito barato e menor dependência da população de baixa renda de financiamento bancário.
Preocupado com a possibilidade de repetição de uma epidemia de dengue, como a do ano passado no Rio de Janeiro, o presidente determinou ao seu ministro da Saúde, Humberto Costa, que faça um monitoramento emergencial das ações de prevenção à doença.
No quesito combate à fome, que tomou grande parte da reunião, Lula afirmou aos ministros que o Fome Zero terá caráter "interministerial" -será uma política de toda a sua equipe, não apenas da pasta da Segurança Alimentar. O titular do ministério, José Graziano, fez uma longa exposição do projeto, usando transparências. Os ministros foram convocados a estudar ações em suas pastas que colaborem com o plano.
Lula também confirmou a suspensão por um ano da licitação para renovar a frota de caças da Força Aérea Brasileira. O valor da compra, de US$ 700 milhões, será economizado, diz o governo, para gastos no combate à fome.

Pobreza absoluta
Na reunião, Palocci fez uma exposição de cerca de 20 minutos, em que procurou demonstrar otimismo com as perspectivas econômicas. O ministro avaliou que o cenário vem apresentando melhora desde o período de transição e que isso tem se refletido, por exemplo, na queda do dólar.
O presidente também definiu o ponto de partida de seu giro pelo Nordeste com ministros, na sexta-feira que vem: a cidade de Guaribas (PI), que vive situação social "particularmente difícil", nas palavras de Singer. "Será uma viagem de contato com a pobreza absoluta", disse.
Participaram todos os ministros e secretários de Estado, além do vice, José Alencar. A exceção foi o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Em uma fala de 25 minutos, Lula recomendou a seus ministros que tenham moderação na definição de metas e promessas. Citando as manifestações de apoio que tem recebido, disse que todas as ações do governo serão acompanhadas de perto pela população e vão gerar grande expectativa. (PATRICIA ZORZAN, FÁBIO ZANINI, JULIA DUAILIBI, JOSÉ ALBERTO BOMBIG E HUMBERTO MEDINA)


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