São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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PESQUISA

Para antropólogo, pessoas estão mais dependentes das instituições

Indivíduo perde poder e autonomia, diz analista

DA REPORTAGEM LOCAL

DA REDAÇÃO

Para além dos destaques da Igreja Universal do Reino de Deus e dos bancos, todas as instituições pesquisadas pelo Datafolha, em maior ou menor grau, ganharam prestígio e poder nos últimos oito anos -com a única exceção das Forças Armadas.
Se praticamente todos ganham poder, quem perde? O indivíduo, diz o antropólogo Otávio Velho.
Primeiro, há o fortalecimento: "Com exceção das Forças Armadas, todas as instituições parecem ganhar prestígio e percepção de poder. Especulando, isso pode mostrar que as instituições hoje estão mais sólidas -a idéia, por exemplo, de que o PT ganha uma eleição e, mesmo que digam que isso pode gerar problemas, as instituições são fortes o suficiente e capazes de absorver a mudança".
Por outro lado, ele diz, isso gera "a sensação de que o indivíduo hoje tem menos poder e prestígio em relação às instituições". "Todos nós estamos hoje mais dependentes das instituições, menos autônomos", afirma Velho.
Na atribuição de prestígio, o Poder Executivo (+15 %), os bancos (+13 %) e as empresas estatais (+11 %) foram os que mais cresceram depois da Universal (+17 %). Na percepção de poder, estatais (+6 %) e clubes de futebol (+6 %) seguiram atrás do crescimento dos bancos (+7 %) e da instituição religiosa evangélica (+10 %).
A fatia dos que atribuem muito poder às Forças Armadas -única queda da pesquisa- passou de 57% em 95 para 51% em 2003.
Velho e o cientista político Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais, aceitaram fazer "especulações" sobre algumas dessas variações, ressalvando que a imposição de uma lista específica -com ausências, eles dizem - e o conceito de prestígio podem tornar "equívocas" as interpretações dos entrevistados.
Sobre o fortalecimento das instituições em geral, Velho disse ver aí "um lado que pode até ser positivo": "evita-se o personalismo em política", afirmou.
Tanto ele quanto Reis disseram ver um hiato entre a percepção de poder e o prestígio das instituições ligadas à política.
"A proporção de pessoas que reconhece poder [nessas instituições] é maior do que aquelas que atribuem prestígio. Essa adesão menor é desfavorável do ponto de vista da dinâmica institucional", afirma Reis.
Velho disse "achar estranho" o crescimento da percepção de poder entre os clubes de futebol. "Corinthians e Flamengo são o quê? É o carisma do time e da torcida que está em jogo ou o clube, no sentido mais estrito, da diretoria?", questionou.
Quanto às estatais, Reis disse que o aumento de seu prestígio e suposto poder de influência -justamente no período marcado pelas grandes privatizações (pós-1995)- poderia significar uma reação negativa às suas consequências.


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