São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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Trukás também são ameaçados

DO ENVIADO A SALGUEIRO

O medo dos agricultores do Projeto Fulgêncio, em Santa Maria da Boa Vista, é compartilhado pelos índios trukás, radicados na ilha de Assunção, no rio São Francisco, próxima à cidade de Cabrobó. Como no projeto, os índios vivem sob o terror do tráfico.
Na reserva indígena -que compreende a ilha, de 21 quilômetros quadrados, e mais 72 ilhotas- vivem 4.000 índios submetidos a um toque de recolher voluntário. A partir das 17h, ninguém sai das aldeias, temendo sequestros, assaltos e assassinatos, como revelou a Folha em abril do ano passado. A tensão chegou a interromper aulas nas escolas e até rituais religiosos da tribo.
A área é cortada por estradas vicinais e, como há muitas plantações de arroz e cebola, os ramais são pontos para emboscadas.
O tráfico na região, segundo a Polícia Federal, é controlado pelo truká Carlos Jardiel de Barros Dantas, que responde a inquéritos sob as acusações de tráfico, sequestro, homicídio e assaltos a banco e a carro-forte.
Em 2002, Dantas foi preso com 86 kg de maconha, mas conseguiu fugir da cadeia de Cabrobó. Seu irmão Jean Carlos Barros Dantas, acusado de fazer parte do grupo, também fugiu da cadeia, em Salgueiro, no último dia 9.
A quadrilha de Dantas é combatida na reserva pelo grupo do índio Adenílson dos Santos, o Dena, irmão do cacique Ailson dos Santos, o Isso Truká, que, ameaçado de morte, renunciou ao cargo e vive com a família em Recife.

Quatro mortes
A disputa entre Dena e Dantas já resultou em quatro mortes em 2003. No último mês de março, os irmãos João Batista e Antônio Roberto Gomes Rodrigues, ligados a Dena, foram mortos em uma emboscada na aldeia. Em julho, o grupo de Dena matou Sérgio Roberto da Cruz, o Sérgio Bedô, um dos supostos assassinos dos irmãos, e ainda Jeneíldo Júnior Gonçalves Aracuan.
A insegurança fez com que 70 famílias de índios deixassem suas casas na reserva. "O tráfico na aldeia Truká ocorre por total ausência do Estado legalmente constituído", afirmou o chefe de Operações da Polícia Federal em Salgueiro, João Evangelista.
Para o ex-cacique Isso Truká, a maconha na reserva indígena teria sido trazida por traficantes do CV (Comando Vermelho), facção criminosa que atua no Estado do Rio de Janeiro.
"Nossos índios foram aliciados por esses traficantes, que negociam a droga por armas e dinheiro", afirma o ex-cacique.



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