São Paulo, segunda, 4 de janeiro de 1999

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Delegado procura especialistas

da Reportagem Local

O delegado Múcio Alvarenga, que assumiu o inquérito do caso do Noroeste quando o antigo responsável, Romeu Tuma Jr., licenciou-se para disputar as eleições, tem 38 anos, é engenheiro e advogado. Nunca havia se defrontado com um crime financeiro da complexidade e das proporções do caso Noroeste.
Pouco afeito a transações bancárias internacionais e a normas contábeis, Alvarenga teve o cuidado de recorrer a especialistas nesta primeira fase do inquérito. E deve ter ouvido as sugestões de outros advogados. Exemplo disso é o longo questionário formulado a quatro auditores da Price Waterhouse, que não responderam, alegando o dever de sigilo da profissão.
Os auditores da Price também ficaram devendo explicações em outra instância. A Price foi questionada em assembléia do Noroeste, em 30 de abril, pela acionista CIS (Companhia Internacional de Seguros). Trata-se da seguradora que pertenceu a Naji Nahas, hoje em liquidação extrajudicial.
A CIS solicitou que constasse em ata que o pedido de esclarecimentos formulado à Price pelo conselheiro fiscal indicado pela acionista "não havia sido atendido".
A Price respondeu "que havia atendido cabalmente aos esclarecimentos, na forma da lei". A CIS reiterou o pedido de esclarecimentos, que não foram prestados satisfatoriamente.
Na delegacia, foi perguntado aos auditores da Price por que, nos relatórios de dezembro de 96 e de junho de 97, ela havia certificado que o Noroeste tinha milhões de dólares disponíveis depositados na agência Cayman, quando a mesma Price havia informado que só havia poucos milhares de dólares.
Em julho de 96, a Price teria recomendado ao Noroeste que a conciliação das contas bancárias no exterior fosse feita após a data de fechamento do balanço.
Quando se descobriu o desvio -ainda segundo perguntas aos auditores-, a Price disse que o desfalque fora acobertado porque a conciliação havia sido feita após o fechamento do balanço.
O inquérito policial está com cinco volumes e faltam dois depoimentos para a conclusão da primeira fase. Haverá uma nova rodada, com possíveis acareações.
Até agora, o Instituto de Criminalística não elaborou o laudo pericial que define a chamada materialidade do crime, ou seja, a prova do desvio do dinheiro.
A autoridade policial ainda não requisitou o relatório da fiscalização do BC. E o BC alega que não faz sentido abrir um procedimento interno quando há um inquérito policial em curso. (FV)



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