São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2004

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MARKETING DA FOME

Para presidente, ex-auxiliares têm bom coração e falha é natural

Lula aponta erro e atrela Fome Zero a crescimento econômico

Bruno Stuckert/Folha Imagem
O presidente Lula durante a cerimônia do 1º ano do Fome Zero


GABRIELA ATHIAS
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao fazer um balanço do Fome Zero, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu falhas no primeiro ano de implantação dos programas na área social -apesar de dizer que o governo fez tudo o que podia-, elogiou os ex-ministros da área José Graziano e Benedita da Silva e disse que o investimento no setor vai depender do crescimento da economia.
"O programa Fome Zero e o Bolsa-Família, na minha opinião, estão consolidados no nosso país. Falta agora atender à plenitude de pessoas que precisam ter acesso a eles. E isso exige recursos. E para ter recursos a economia precisa crescer. Precisamos arrecadar mais e colocar mais dinheiro na política social", afirmou Lula.
O primeiro ano do governo Lula foi marcado por um forte ajuste fiscal -na área social, o corte chegou a R$ 5 bilhões. Ontem, o ministro Guido Mantega (Planejamento) afirmou que, neste ano, o orçamento do Bolsa-Família e do Fome Zero serão executados. "Os compromissos que assumimos [na área social] serão cumpridos na sua íntegra", disse.
Para marcar o primeiro ano do Fome Zero, principal marca social do governo, Lula improvisou um discurso de 40 minutos. Elogiou ex-assessores e ministros e foi vago sobre mudanças ou novos caminhos para a área social.
"Estou convencido de que possivelmente cometemos muitos erros neste primeiro ano. E não poderia ser diferente. A coisa que eu mais queria na vida era que meu filho aprendesse a andar sem cair, sem levar nenhum tombo, mas ele teve muitos tombos até aprender a andar", disse o presidente.
Um dos elogiados foi Oded Grajew, que tomou a iniciativa de sair do governo no fim de 2003.
No dia 23 de janeiro, Lula fez a sua primeira reforma ministerial. Uniu as pastas da Segurança Alimentar com a da Assistência Social, demitindo, assim, Graziano e Benedita, respectivamente. No lugar de ambos entrou o ministro Patrus Ananias, e o ministério passou a se chamar Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Na opinião de Lula, o Fome Zero fez, em seu primeiro ano, muito mais do que poderia ser feito. Disse que os números de atendimento "mostram que o ceticismo demonstrado por algumas pessoas sobre o programa não havia razão de ser". O Fome Zero está presente em 2.369 municípios e atende a 1,9 milhão de famílias.
Como pontos positivos, Lula citou também a participação da sociedade, com doações de alimentos, e dos empresários, financiando algumas ações. Saudou Patrus dizendo que, para trabalhar nessa área, é preciso ter "bom coração", que é, segundo Lula, o caso dele e dos ex-ministros da área.
"Por isso a tarefa de vocês é difícil, mas boa, que só pode ser feita por pessoas que têm o coração como tem o Graziano, como tem a Benedita, como têm vocês."
Em relação aos rumos dos programas sociais, Lula disse apenas que é hora de levá-los às periferias das grandes cidades.
Ao falar sobre a criação de um fundo internacional de combate à fome e à pobreza, foi implacável com os países desenvolvidos e suas políticas protecionistas. "[Com] Os países ricos, quando falam em doar alimentos, nós precisamos tomar cuidado, porque, muitas vezes, pode ser muito mais para ajudá-los com a sua produção agrícola do que para ajudar os famintos."
O presidente disse que o caminho para combater a fome é transferir o problema à esfera política. "Ou criamos um movimento político para transformar esse problema social da fome num problema político ou será muito mais difícil, porque os famintos não estão organizados em sindicatos e em partidos políticos. Estão dispersos nas mais diferentes periferias deste país." O presidente informou que enviará cartas aos presidentes do mundo pedindo sugestões sobre o assunto.


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