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ORÇAMENTO
Verba representa um terço do total a ser investido pela União neste ano; Casa Civil teme desgaste num ano eleitoral
Palocci quer bloquear R$ 4 bi; Dirceu se opõe
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, quer bloquear "preventivamente" cerca de R$ 4 bilhões dos R$ 12 bilhões previstos
para investimentos no Orçamento deste ano. Com discreto apoio
do ministro José Dirceu (Casa Civil), o ministro Guido Mantega
(Planejamento) prefere não contingenciar nada agora.
Esse debate está sendo travado
nos bastidores do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
deve bater o martelo até amanhã,
véspera da primeira reunião do
ministério após a reforma da semana retrasada.
O ministro Mantega admitiu
ontem que "haverá ajustes no Orçamento" e disse que até sexta-feira será publicado o decreto de
programação financeira do ano.
Indagado se o ajuste seria um
"contingenciamento" (bloqueio
de recursos que pode ser liberado
adiante caso haja receita), ele saiu
pela tangente: "Não necessariamente. A tendência, hoje, é não
haver contingenciamento, mas
ainda não há decisão final". Segundo Mantega, o decreto será
publicado no "Diário Oficial" da
União até sexta porque nesse dia
"o presidente fará sua primeira
reunião com o novo ministério".
A Folha apurou que Palocci deseja um "contingenciamento preventivo". Ou seja, o governo
anuncia a medida já dizendo que,
confirmada determinada previsão de receita, esse bloqueio poderá ser desfeito aos poucos.
Na avaliação do ministro da Fazenda, o "contingenciamento
preventivo" é prudente no momento em que há nova turbulência financeira afetando o Brasil.
Ontem, em intervenções públicas
acertadas com o presidente, Palocci deu entrevistas para tentar
acalmar o mercado. Numa delas,
disse que o Orçamento deste ano
já era bastante "realista" e que a
programação financeira poderia
ser revista a cada dois meses, como prevê a lei.
Desgaste político
Apesar de R$ 4 bilhões significarem um terço da verba prevista
para investimentos, a Fazenda
avalia que os R$ 8 bilhões que não
serão bloqueados já são muito dinheiro em comparação com 2003.
Se a notícia de contingenciamento pega bem perante o mercado financeiro em tempo de turbulência, pega mal perante os ministros
e os políticos, especialmente os da
base do governo, que esperam investimentos em ano eleitoral.
É nesse contexto que os ministros Dirceu e Mantega defendem
que não seja adotado o contingenciamento. A Folha apurou
que eles julgam mais adequado
politicamente fazer um eventual
bloqueio mais à frente, numa revisão da programação financeira,
caso seja necessário. Mais: na avaliação de Dirceu e Mantega, a economia dos R$ 4 bilhões não seria
anunciada agora, mas poderia ser
feita durante a execução do Orçamento de 2004. Dirceu recebeu
ordem de Lula para acompanhar
a execução orçamentária.
Em 2003, houve um corte inicial
de R$ 14 bilhões em relação ao
montante previsto para investimento e custeio da máquina. Ao
longo do ano, com liberações, o
corte final ficou em R$ 13 bilhões.
O Orçamento de 2003 previa investimentos de R$ 14 bilhões. A
execução orçamentária divulgada
na semana passada diz que foram
comprometidos para pagamento
46% desse montante. Até 21 de
dezembro passado, haviam sido
executados apenas R$ 2,2 bilhões
em investimentos dos R$ 14 bilhões disponíveis -o restante deverá ser pago ao longo deste ano.
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