São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2004

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Volta de Lula tira Dirceu de cena

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nos dois dias de expediente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que retornou do exterior, o ministro José Dirceu (Casa Civil) recolheu-se aos bastidores.
Na semana passada, a Folha revelou que o presidente estava incomodado com o estilo de atuação de Dirceu na sua ausência e que o enquadraria.
Anteontem, depois de reunir dez ministros para tratar de medidas emergenciais e de médio prazo para diminuir os danos causados pelas enchentes no país, ficou acertado que o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) daria entrevista em nome do grupo.
Foi um claro sinal de Lula para Dirceu. O ministro da Casa Civil é quem normalmente dá entrevistas após reuniões desse tipo. Em 9 de janeiro, foi ele quem falou com a imprensa na seqüência de uma reunião sobre infra-estrutura.
Ontem, Dirceu não compareceu a duas cerimônias em que esteve o presidente. De manhã, ao comemorar um ano da recriação do Consea e do lançamento do Fome Zero, Lula discursou num ato cheio de ministros. Dirceu foi representando pelo secretário-executivo, Swedenberger Barbosa.
À tarde, num culto ecumênico na Catedral de Brasília em homenagem aos três fiscais do Ministério do Trabalho assassinados em Minas Gerais na semana passada, Dirceu foi a ausência notada.
A Folha apurou que, depois que voltou do exterior, Lula falou com Dirceu e reiterou sua função de gerente "para dentro do governo". Pediu ainda que ele seja mais discreto, sob pena de se indispor com outros ministros ao transmitir a imagem de interventor.
O fato é que o presidente ficou incomodado com o estilo de Dirceu durante alguns dos dias em que esteve no exterior. O ministro se comportou como chefe de governo, dando declarações que atropelaram os seus colegas.
A contrariedade de Lula com Dirceu se deveu mais ao estilo do que ao conteúdo das decisões.
Além de acalmar o mercado e reiterar a força do ministro da Fazenda, a entrevista coletiva de Antonio Palocci Filho dada ontem também serviu para mostrar para consumo externo que Dirceu não vai interferir na área econômica.
Causaram desconforto no Palácio do Planalto as declarações dos políticos do PTB dando conta de que Dirceu acertara a indicação do ex-deputado Benito Gama (BA) para a direção da Susep (Superintendência de Seguros Privados), lotada na Fazenda. Palocci resiste à indicação do nome.
Nessa disputa, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro atua em defesa de Dirceu. Espécie de "primeiro-amigo" de Dirceu, Almeida Castro convenceu o senador ACM (PFL-BA) a não bombardear Benito, seu desafeto. (KENNEDY ALENCAR)


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