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FUNCIONALISMO
Parlamentar poderá acumular salário, aposentadoria, auxílio-moradia e extra por convocação em julho
Brechas criam superteto de R$ 49 mil
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
As brechas abertas no teto salarial no acordo fechado pelos presidentes dos três Poderes permitirão que parte dos deputados e senadores acumulem remuneração
de R$ 49 mil em um único mês.
Para essa hipótese virar realidade, bastam três condições: o parlamentar receber aposentadoria
até o teto autorizado de R$ 11,5
mil, receber auxílio-moradia de
R$ 3.000 e ser convocado para trabalhar em julho.
A convocação extraordinária
do Congresso assegura aos parlamentares dois salários extras. Em
caso de convocação em julho, o
pagamento é feito num único
mês, além do salário normal, de
mais R$ 11,5 mil.
No STF (Supremo Tribunal Federal), o teto salarial, em tese, poderá chegar a R$ 24.920 mensais,
desde que o ministro tenha aposentadoria equivalente ao limite
de R$ 11,5 mil e acumule serviços
temporariamente no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o que lhe
garante R$ 1.920 extras.
As brechas no teto foram abertas anteontem pelo acordo entre
os presidentes Fernando Henrique Cardoso, Carlos Velloso
(STF), Antonio Carlos Magalhães
(Senado) e Michel Temer (Câmara), numa tentativa de conter as
pressões de juízes e parlamentares por reajustes salariais e ainda
driblar as resistências impostas
por parlamentares aposentados.
Os parlamentares que recebem
aposentadorias da administração
pública são cerca de 25% do total
da Câmara e do Senado.
Não há cálculos oficiais sobre o
impacto da fixação do teto nas
contas públicas. Levantamento
preliminar divulgado em 1999 pela Casa Civil estimava em R$ 224,4
milhões o custo total do novo teto
nos três Poderes, caso seu valor
fosse fixado em R$ 12.720.
O porta-voz da Presidência,
Georges Lamazière, afirmou ontem que o Poder Executivo economizará entre R$ 40 milhões e
R$ 50 milhões por ano com o teto.
Os cálculos finais estão sendo feitos pela equipe econômica.
A Casa Civil definiu, a pedido de
FHC, um mecanismo para que ele
devolva a diferença entre o seu
atual salário (R$ 8.500) e o que virá a ser pago (R$ 11.500), deduzindo-se o Imposto de Renda eventualmente pago a mais.
O meio será o Darf (Documento
de Arrecadação de Receitas Federais), código 3.762 (Outras Receitas Eventuais), no qual será indicado "Restituição Voluntária de
Parcela de Vencimentos". Segundo Lamazière, FHC só aceitou elevar o seu salário "para que se resolvessem questões levantadas
pelos demais Poderes".
O Legislativo e o Judiciário informaram que só calcularão o impacto do teto após o Carnaval.
O aumento de 43,75% garantido para deputados e senadores
deverá aumentar os gastos com
pessoal do Congresso em pelo
menos R$ 30 milhões por ano.
No Judiciário, o gasto extra deverá ficar em R$ 95 milhões, segundo estimativa feita ontem pelo
banco HSBC e divulgada por
meio de um boletim na Internet.
Os dados mostram que, para
bancar o custo do teto, o governo
terá de cortar despesas equivalentes a quase todo o investimento
em saneamento básico previsto
para 2000 (R$ 177 milhões).
O projeto do Orçamento de
2000, em tramitação no Congresso, não prevê gastos com o teto.
Para honrá-lo, o governo terá de
arrecadar mais impostos ou cortar outras despesas.
O governo não informou se fará
de uma só vez ou parcelará o pagamento do teto retroativo a janeiro de 1998 para os juízes. Lei
sancionada em junho de 1998 por
FHC garante esse pagamento.
Colaborou William França, da Sucursal de
Brasília
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