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JANIO DE FREITAS
No mundo dos anjinhos
O PT ainda está muito longe
das contribuições feitas por
PMDB, PFL e PSDB para destacar o Brasil entre os países reconhecidamente mais corruptos do
mundo, mas o seu rol de práticas
incabíveis mostra-se mais promissor a cada dia.
Tem passado como coisa tolerável, de pleno conhecimento do
jornalismo de Brasília e alhures,
a presença de dirigentes do PT
entre os quadros da Presidência
da República. Não há lugar mais
impróprio do que o ambiente da
Presidência para um encarregado da coleta e guarda do dinheiro do partido governista, como é
o caso do tesoureiro petista Delúbio Soares. A simples permanência já suscita, em certo tipo de interessados, hipóteses e iniciativas
que comprometem o governo.
Mesmo que fosse convincente,
e nem se aproxima de sê-lo, a explicação dada para o encontro
do tesoureiro petista com o vice-presidente da Associação dos
Empreiteiros de Obras Rodoviárias não justificaria que o fato se
passasse em instalações da Presidência. Ainda por cima, a anotação do encontro feita por uma secretária na agenda do ministro
dos Transportes, Anderson
Adauto, não se confunde com registro posterior à maneira de um
diário, que um ministro não deixa a cargo de auxiliares.
Em nome de que o secretário
de Organização do PT, Silvio Pereira, deve ou precisa estar no
palácio da Presidência da República? Nem da parte da Organização do PT, nem da parte da
Presidência e do governo, há motivo eticamente aceitável para a
mistura de conveniências de direção partidária e centro de decisões administrativas do país.
No capítulo das nomeações o
cenário não é menos interrogativo. A revelação do repórter Rubens Valente, na Folha de quarta-feira, por exemplo, contém
mais sugestão do que aparenta,
sobre nomeações. O nomeado
presidente da estatal Cobra
Computadores não era, até o final do governo Fernando Henrique, apenas procurador e presidente de uma empresa multinacional. Além de presidente de
uma subsidiária, era procurador, com amplos poderes de movimentação financeira, de uma
empresa posta sob suspeições
graves, em negócios com a Caixa
que a situaram no centro do caso
Waldomiro Diniz.
Os problemas, hoje suspeitos,
nas relações comerciais da Caixa
com a GTech já eram conhecidos
no governo Fernando Henrique,
quando estranhas ordens sustaram a informatização das loterias federais, em benefício da
contratada multinacional.
Graciano dos Santos Neto pode
estar isento de toda implicação
nas transações afinal questionadas entre a GTech e a Caixa. Mas
o governo não poderia desprezar
a sua profunda conexão com a
multinacional envolvida em suspeitas até que investigações esclarecessem tudo. E o governo
nem se ocupou das investigações.
Curioso é que a Presidência fez
saber-se, desde o início do mandato, que todas as possíveis nomeações passariam por crivo duplo. No Planalto, personificado
em Marcelo Sereno; e, em geral,
nas investigações de agentes da
Abin, o serviço de informações.
Desses agentes é que saiu o dossiê
capaz, enfim, de levar Gilberto
Gil a afastar do Ministério da
Cultura o seu compadre Roberto
Pinho. Mas Waldomiro Diniz
não é única presença imprópria
no governo no mundo de anjinhos que o PT diz ser.
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