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Brasil busca apoio dos EUA para fazer do álcool "commodity"
Americanos são importantes para a padronização do produto, o que é necessário para que tenha cotação em Bolsa de Valores
Celso Amorim admite que Lula não vai conseguir arrancar de Bush o fim das barreiras às exportações de álcool combustível agora
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo tem uma expectativa ambiciosa para o encontro
dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush na
próxima sexta-feira, em São
Paulo: a de que os EUA sejam a
principal alavanca da pretensão brasileira de virar exportador mundial da tecnologia do
álcool combustível e de transformar o produto em "commodity", com cotação em Bolsa.
Ainda que por trás do interesse econômico da visita esteja a busca de um antídoto ao
protagonismo de Hugo Chávez
na América Latina, dificilmente haveria clima na diplomacia
para uma conversa tão explícita
sobre o tema.
Objetiva e diretamente, os
dois deverão tratar das pretensões mútuas sobre biocombustível. Os EUA são importantes
para a definição de uma regulação internacional sobre uso e
distribuição do álcool e para a
padronização do produto, medida necessária para torná-lo
"commodity". Além disso, os
EUA são decisivos para financiar a propagação de usinas de
álcool na América do Sul, América Central, Caribe e África.
"O Brasil tem tecnologia e
pouco capital. Os EUA têm
muito capital e um enorme interesse estratégico na questão
do biocombustível", disse o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
A intenção dos EUA é substituir cerca de 20% dos combustíveis consumidos internamente por álcool. Brasil e EUA invocam quatro argumentos a favor
da parceria: 1) Independência
na área de energia, crucial para
os EUA; 2) Reequilíbrio no comércio exterior nos países-alvos, que diminuiriam as importações e aumentariam as exportações; 3) Geração de empregos em grande escala, com a
expectativa de redução do fluxo
migratório aos EUA; 4) Os efeitos no meio ambiente, que mobiliza a sociedade americana.
O ministro Celso Amorim
(Relações Exteriores) admite
que Lula não vai conseguir arrancar de Bush o fim das barreiras às exportações de álcool
de imediato. "Se será insinuado
ou cobrado, de alguma maneira
será discutido, mas sem a expectativa de que seja resolvido
agora", afirmou.
O Brasil é o principal exportador do combustível, com 3,5
bilhões de litros/ano, dos quais
2,5 bilhões vão para os EUA.
Segundo o embaixador Everton Vieira Vargas, subsecretário de Assuntos Políticos do
Itamaraty, as exportações do
combustível para os EUA subiram de US$ 70 milhões (2005)
para US$ 750 milhões (2006).
O Brasil já está incluindo a
Petrobras no projeto de regulação, produção e distribuição do
álcool. Após a conversa com
Bush, Lula espera ter trunfos
para atrair a iniciativa privada
brasileira a se lançar no mercado internacional.
O país produz cerca de 17 bilhões de litros/ano de álcool de
cana-de-açúcar e planeja pular
para 30 bilhões em cinco anos.
Em caso de parcerias, o Brasil
entraria sobretudo com a tecnologia e os interessados, com
subsídios e infra-estrutura.
Quanto aos países desenvolvidos, caso especialmente dos
EUA, a intenção é que entrem
com o capital pesado. O que pode ocorrer, por exemplo, na
construção de uma fábrica de
álcool combustível no Haiti.
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