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ELIO GASPARI
Prenderam o banqueiro (em Nova York)
A banca americana não tem
sorte com os jovens gênios a
quem entrega a administração
do ervanário da plutocracia latino-americana. Nos anos 80,
para alegria de alguns caciques
do Citibank, a Casa Morgan
viu-se metida num escândalo. O
chefe de seu departamento de
América Latina, Anthony Guebauer, foi apanhado em cima de
um desfalque de alguns milhões
de dólares. Ele movimentava indevidamente depósitos de clientes e levava uma vida de nababo, com apartamento na Park
Avenue, casa na praia e coleção
de obras de arte.
Pelo menos três brasileiros declararam-se prejudicados por
suas operações: Francisco Catão, Cecílio Rego Almeida e Leonidas Bório. Guebauer fora o
chefe do cartel de bancos que
renegociava a dívida externa
brasileira. Um jovem promotor
chamado Rudolph Giuliani remeteu-o à penitenciária, onde
passou alguns anos, e seu lugar
no cartel foi ocupado por William Rhodes, uma estrela ascendente no Citibank.
Hoje, tendo pago o que devia à
sociedade, Guebauer vive uma
existência pacata em Nova
York, Giuliani tornou-se prefeito da cidade e Rhodes, condecorado pelo governo brasileiro, é
um dos vice-presidentes do Citi.
Chegou a vez do Citi. Seu astro
chama-se Carlos Gomez. Tem 40
anos de idade e se parece com o
jogador Maradona. Mora num
apartamento de dez cômodos na
Park Avenue, tem casa na praia
e coleção de arte. Foi apanhado
em cima de um desfalque de pelo menos US$ 13 milhões.
Ganhava US$ 200 mil por ano
e pagava US$ 50 mil só de condomínio. Durante sete anos, Gomez trabalhou no departamento
que cuida dos grandes depósitos
de latino-americanos. Ao que
tudo indica, sua clientela era
formada basicamente por mexicanos e centro-americanos. Não
há sinal do gorjeio de sabiás de
Pindorama.
Enquanto brilhou, Gomez foi
um daqueles personagens míticos da banca. Sua casa saiu na
revista Harper's Bazaar, e seu
nome enfeitava o voluntariado-chique da biblioteca e do
museu da cidade de Nova York.
Depois de um longo romance
com um sobrinho-neto do falecido senador Jacob Javitz, casara-se com uma energética (e banal) decoradora de interiores.
Sua vida foi magnificamente
contada por três repórteres da
revista New York. De seus desfalques conhecidos, um pelo menos é pouco criativo. Inventou
uma conta-fantasma com o nome de um suposto milionário de
El Salvador, irmão de outro milionário (verdadeiro) que era
cliente do banco. Com o patrimônio de um por garantia, emprestou ao outro.
Fez o mesmo com uma conta
aberta em nome de um colega
de colégio. Fazia tudo isso num
departamento que está sob investigação, acusado de ter lavado dinheiro para a quadrilha
dos irmãos Salinas, aquela que
levou o México para a modernidade.
Em dezembro do ano passado,
Gomez deixou o Citibank para
abrir seu próprio negócio. Apanhado, o jovem sábio contou ao
Federal Bureau of Investigation
que a conta do milionário-fantasma fora aberta com o conhecimento do milionário-existente
(Francisco Calleja). O milionário-existente diz que não sabia
de nada. É provável que o Citi
consiga chegar a um acordo com
Gomez, recuperando uma parte
do dinheiro, mas os trambiques
poderão lhe custar alguns anos
de cadeia.
A investigação do FBI destina-se a forçar o cumprimento
das leis dos Estados Unidos, e,
por isso, dificilmente o caso de
Gomez servirá para iluminar as
catacumbas do fluxo do ervanário latino-americano para os
grandes centros financeiros internacionais.
Esse episódio pode ter uma só
utilidade abaixo do Equador.
Levando em conta que Gomez
foi preso em janeiro -e solto
por conta de uma fiança de US$
1 milhão- pode-se ligar uma
espécie de relógio da impunidade.
As falcatruas de Gomez guardam uma remota semelhança
com as contas-fantasmas de
Clarimundo Soares, do Banco
Nacional. No caso de Clarimundo, parece claro que ele não tirava benefício pessoal proporcional ao tamanho da maracutaia. No de Gomez, está claro
que ele não agia com a concordância de seus chefes do Citibank. Nos dois casos, o patrimônio de uma sociedade anônima
estava sendo lesado.
O trambique do Nacional foi
descoberto em 1996. Até agora,
não aconteceu nada. O trambique de Gomez, descoberto há
um mês, muito provavelmente
acabará em cadeia antes do fim
deste ano.
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