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JUDICIÁRIO
Presidente do STM diz que há poucos processos para julgar porque "o ambiente da jurisdição militar é sadio"
Tribunal militar reage à idéia de extinção
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
O Superior Tribunal Militar
(STM) tem poucos processos para
julgar porque "o ambiente da jurisdição militar é sadio", e a sua
existência é uma das razões para
que o ambiente permaneça assim.
Este é o cerne dos argumentos
expostos ontem pelo presidente do
STM, general-de-exército Edson
Alves Mey, em entrevista exclusiva
à Folha, em resposta às sugestões
de extinção do órgão.
O presidente do Congresso, Antonio Carlos Magalhães, é um dos
defensores da tese de que a Justiça
Militar cumpriu sua função e pode
ser absorvida pela Justiça comum.
O STM, com 15 ministros, 238
funcionários e orçamento anual de
R$ 47 milhões, julgou 527 processos em 106 sessões em 1998.
"Não é pelo fato de existirem
poucos pacientes que deve-se suspeitar que um hospital está deficiente; é bem possível que ocorra o
contrário: por ele ser eficiente,
existem poucos usuários", declarou Mey, que deixa a presidência
do STM neste mês e passa para a
reserva em outubro, aos 70 anos.
O exemplo da Suprema Corte
dos EUA, que julga cerca de 180 casos por ano, foi citado por Mey,
que viveu dois anos em Washington nos anos 70, para reforçar a tese de que o número de casos não é
indicador da qualidade.
"O papel do STM e da Justiça Militar na preservação da hierarquia,
da disciplina e do sentimento do
dever e da honra militares é de primordial importância. Se há necessidade de Forças Armadas, não há
como escapar da necessidade de
Justiça Militar", afirmou Mey.
O STM foi o primeiro tribunal
superior criado no Brasil, em 1808,
com a chegada da família real portuguesa ao Rio. Ela é a segunda, e
definitiva, instância da Justiça Militar. A primeira instância é composta por 21 auditorias.
A Justiça Militar trata de crimes
exclusivos de militares, como deserção e insubmissão, e de crimes
comuns, quando cometidos por
militares contra militares ou contra civis em jurisdições militares.
O STM atualmente também prepara anteprojeto de atualização do
Código Penal Militar, de 1969.
Os ministros do STM (quatro do
Exército, três da Marinha, três da
Aeronáutica e cinco civis) ganham
salários equivalentes aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal e, como eles, dispõem de carro oficial para servi-los. O STF julgou 51.086 processos em 1998.
Na opinião de Mey, os casos julgados pelo STM não podem passar
para o STF. A fórmula do escabinato, que mistura juízes militares e
civis na composição do STM, é indispensável, de acordo com ele,
para avaliar os crimes militares.
"Para se tornar apto a essa servidão, seria imperativo que (o STF)
adotasse a forma de juízo colegiado, composto em escabinato, para
julgar os crimes militares", diz.
O STM teve anos de muito maior
movimento durante o regime militar, quando julgava também casos
de crimes contra a segurança nacional (atribuição que deixou de
ter a partir da Constituição de
1988). Naquela época, quando tinha em torno de 1.100 processos
por ano, sua estrutura foi ampliada
para os atuais 15 ministros.
Os ministros do STM se dizem
orgulhosos dos elogios que o tribunal recebeu durante o regime
militar dos advogados Sobral Pinto e Heleno Fragoso, famosos por
sua luta pelos direitos humanos.
O orçamento total da Justiça Militar para 1999 é de R$ 94,3 milhões. O da Justiça do Trabalho é
de R$ 3,2 bilhões. Toda a Justiça
Federal terá este ano R$ 7 bilhões.
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