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UNIÃO x MINAS
Avaliação é consenso entre aliados dos dois
Governador e FHC duelarão até 2002
VALDO CRUZ
Sucursal de Brasília
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
A disputa entre o presidente
Fernando Henrique Cardoso e
o governador de Minas Gerais,
Itamar Franco (PMDB), deve
durar quatro anos, mesmo que
os dois lados acabem encontrando uma solução negociada
para a moratória mineira.
Essa avaliação sobre a longevidade da beligerância entre
FHC e Itamar é um consenso
entre os aliados mais próximos
dos dois políticos. Eles coincidem também em uma outra
análise: o desempenho da economia é que definirá o vitorioso dessa longa batalha, que antecipa a disputa pela Presidência da República em 2002.
Os aliados do presidente avaliam que Itamar tem uma
"agenda múltipla e volátil" de
ataques a FHC. Estará sempre à
procura de algo para tentar enfraquecer o governo federal, de
olho na sua sucessão.
Os amigos do governador mineiro afirmam que o presidente
não tem disposição real de negociar e não suporta a comparação entre o seu governo e o
do ex-presidente Itamar Franco por causa de sua "reconhecida vaidade".
O mineiro costuma mostrar
os números de seu governo
quando deixou a Presidência,
bem melhores que os de FHC:
superávit na balança comercial, desemprego abaixo de 4%,
crescimento acima de 5% e dívida líquida do setor público de
R$ 150 bilhões. Hoje, o páis
convive com déficit na balança
comercial, desemprego perto
de 8%, recessão econômica e
dívida do setor público acima
de R$ 360 bilhões.
O estopim da disputa entre os
dois foi a suposta incapacidade
de Minas para pagar a dívida
que tem com o governo federal.
Itamar decretou moratória em
6 de janeiro.
De janeiro para cá, todos os
governadores de partidos de
oposição amenizaram o discurso e caminham para um entendimento com o governo federal, exceto Itamar Franco.
Diante da aproximação entre
Fernando Henrique e os demais governadores, Itamar
mudou o enfoque principal de
suas críticas, passando a atacar
preferencialmente a política
econômica do governo federal.
Começou a exigir, como parte de uma busca de entendimento com o presidente, mudanças na política de juros altos
e no acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional).
Isso mostra, segundo assessores de FHC, que o entendimento não interessa a Itamar.
Por isso ele estaria insistindo
em condições que o presidente
está politica e economicamente
impedido de conceder.
O grupo de FHC acredita que
Itamar está isolado. Os governadores Anthony Garotinho
(PDT-RJ) e Olívio Dutra (PT-RS) teriam percebido que estavam se transformando em um
"apêndice" de Itamar Franco
na sua disputa com o governo
federal. Pularam fora do barco
do mineiro, preocupados em
viabilizar suas administrações.
O próximo passo, na avaliação otimista do Planalto, é o
início de um enfraquecimento
de Itamar em Minas Gerais. Ele
já começa a se desentender
com o empresariado local. E,
mais cedo ou mais tarde, a população do Estado começará a
cobrar ações do governo mineiro, cansando-se do seu discurso oposicionista.
Visão oposta
Os aliados de Itamar têm uma
avaliação totalmente oposta.
Eles acreditam que o Plano
Real está fadado ao fracasso
diante da decisão do governo
de manter a ortodoxia na área
econômica.
Na visão dos itamaristas, o
país vai conviver com uma recessão brutal neste primeiro semestre, com inflação e desemprego crescentes e empresas falindo. Por conta disso, as atuais
promessas de FHC aos Estados
resultariam nulas para aliviar
as contas dos outros governadores.
Como o governador mineiro
acha que haverá muitas manifestações de rua, FHC ficaria
obrigado a recuar de sua posição atual. Enfim, o Palácio do
Planalto seria derrotado politicamente. "Pode haver caos social, subversão da ordem", diz
Newton Cardoso, vice-governador de Minas Gerais.
Diante desse quadro, Itamar
aposta que, daqui a um ou dois
meses, os governadores que
hoje se aproximam de FHC estarão exigindo a mesma coisa
que Minas Gerais: repactuação
dos acordos das dívidas pela
completa impossibilidade de
pagar o que devem.
O Palácio do Planalto reconhece que o primeiro trimestre
de 99 será realmente muito
ruim. Mas avalia que Itamar está apenas apostando no velho
"quanto pior, melhor". O governo acredita que a partir de
abril, com o acordo com o FMI,
a aprovação da CPMF (imposto
do cheque) e aumento das exportações, o dólar começará a
cair, marcando uma reversão
nas expectativas.
O argumento dos dois lados
mostra que a situação econômica é que definirá o vitorioso
nesse embate. Apesar das últimas vitórias de FHC, o cenário
econômico de hoje mostra que
Itamar pode não estar errado
na sua estratégia.
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