São Paulo, Quinta-feira, 04 de Março de 1999
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UNIÃO x MINAS
Avaliação é consenso entre aliados dos dois
Governador e FHC duelarão até 2002


VALDO CRUZ
Sucursal de Brasília

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

A disputa entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), deve durar quatro anos, mesmo que os dois lados acabem encontrando uma solução negociada para a moratória mineira.
Essa avaliação sobre a longevidade da beligerância entre FHC e Itamar é um consenso entre os aliados mais próximos dos dois políticos. Eles coincidem também em uma outra análise: o desempenho da economia é que definirá o vitorioso dessa longa batalha, que antecipa a disputa pela Presidência da República em 2002.
Os aliados do presidente avaliam que Itamar tem uma "agenda múltipla e volátil" de ataques a FHC. Estará sempre à procura de algo para tentar enfraquecer o governo federal, de olho na sua sucessão.
Os amigos do governador mineiro afirmam que o presidente não tem disposição real de negociar e não suporta a comparação entre o seu governo e o do ex-presidente Itamar Franco por causa de sua "reconhecida vaidade".
O mineiro costuma mostrar os números de seu governo quando deixou a Presidência, bem melhores que os de FHC: superávit na balança comercial, desemprego abaixo de 4%, crescimento acima de 5% e dívida líquida do setor público de R$ 150 bilhões. Hoje, o páis convive com déficit na balança comercial, desemprego perto de 8%, recessão econômica e dívida do setor público acima de R$ 360 bilhões.
O estopim da disputa entre os dois foi a suposta incapacidade de Minas para pagar a dívida que tem com o governo federal. Itamar decretou moratória em 6 de janeiro.
De janeiro para cá, todos os governadores de partidos de oposição amenizaram o discurso e caminham para um entendimento com o governo federal, exceto Itamar Franco.
Diante da aproximação entre Fernando Henrique e os demais governadores, Itamar mudou o enfoque principal de suas críticas, passando a atacar preferencialmente a política econômica do governo federal.
Começou a exigir, como parte de uma busca de entendimento com o presidente, mudanças na política de juros altos e no acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Isso mostra, segundo assessores de FHC, que o entendimento não interessa a Itamar. Por isso ele estaria insistindo em condições que o presidente está politica e economicamente impedido de conceder.
O grupo de FHC acredita que Itamar está isolado. Os governadores Anthony Garotinho (PDT-RJ) e Olívio Dutra (PT-RS) teriam percebido que estavam se transformando em um "apêndice" de Itamar Franco na sua disputa com o governo federal. Pularam fora do barco do mineiro, preocupados em viabilizar suas administrações.
O próximo passo, na avaliação otimista do Planalto, é o início de um enfraquecimento de Itamar em Minas Gerais. Ele já começa a se desentender com o empresariado local. E, mais cedo ou mais tarde, a população do Estado começará a cobrar ações do governo mineiro, cansando-se do seu discurso oposicionista.

Visão oposta
Os aliados de Itamar têm uma avaliação totalmente oposta. Eles acreditam que o Plano Real está fadado ao fracasso diante da decisão do governo de manter a ortodoxia na área econômica.
Na visão dos itamaristas, o país vai conviver com uma recessão brutal neste primeiro semestre, com inflação e desemprego crescentes e empresas falindo. Por conta disso, as atuais promessas de FHC aos Estados resultariam nulas para aliviar as contas dos outros governadores.
Como o governador mineiro acha que haverá muitas manifestações de rua, FHC ficaria obrigado a recuar de sua posição atual. Enfim, o Palácio do Planalto seria derrotado politicamente. "Pode haver caos social, subversão da ordem", diz Newton Cardoso, vice-governador de Minas Gerais.
Diante desse quadro, Itamar aposta que, daqui a um ou dois meses, os governadores que hoje se aproximam de FHC estarão exigindo a mesma coisa que Minas Gerais: repactuação dos acordos das dívidas pela completa impossibilidade de pagar o que devem.
O Palácio do Planalto reconhece que o primeiro trimestre de 99 será realmente muito ruim. Mas avalia que Itamar está apenas apostando no velho "quanto pior, melhor". O governo acredita que a partir de abril, com o acordo com o FMI, a aprovação da CPMF (imposto do cheque) e aumento das exportações, o dólar começará a cair, marcando uma reversão nas expectativas.
O argumento dos dois lados mostra que a situação econômica é que definirá o vitorioso nesse embate. Apesar das últimas vitórias de FHC, o cenário econômico de hoje mostra que Itamar pode não estar errado na sua estratégia.


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