UOL

São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PETISMO REAL

Lideranças da oposição destacam que, sem eles, governo não conseguiria aprovar PEC do sistema financeiro

Dirceu agradece a PSDB e PFL por vitória

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após procurar demonstrar força no Congresso, o governo reconheceu ontem a ajuda que recebeu de partidos da oposição para aprovar anteontem, na Câmara dos Deputados, a Proposta de Emenda à Constituição que trata do sistema financeiro.
O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, o homem-forte do governo Lula na área da articulação política, agradeceu publicamente o PFL e o PSDB por terem ajudado a somar os 442 votos favoráveis (de um total de 513 deputados) obtidos pelo Planalto.
"Essa vitória não é do governo nem do PT, é a vitória de todos os partidos, incluindo o PSDB e o PFL. A lição que fica é a de que precisamos discutir e dialogar mais", disse o ministro momentos após chegar à liderança do governo no Congresso. "Quero fazer um agradecimento público ao PSDB e ao PFL por terem votado a favor da emenda", concluiu.
PFL e PSDB são os dois maiores partidos de oposição da Casa, com 138 deputados. Suas lideranças procuraram ontem deixar claro que, sem eles, o governo não conseguiria atingir os 308 votos necessários para a aprovação da emenda, que abre o caminho para a apresentação da proposta de autonomia do Banco Central.
"Tanto isso é verdade que estamos recebendo o agradecimento público por parte deles. No caso de ontem [anteontem", a garantia do governo de que teria os nossos votos é que fez o PT ter força para enquadrar os seus radicais", disse o deputado Jutahy Júnior (BA), líder do PSDB.
Dos 442 votos obtidos pelo Planalto, apenas 246 vieram da base aliada (PT, PSB, PTB, PDT, PPS, PL, PC do B, PV e PMN), ou seja, número insuficiente para aprovar uma emenda constitucional, que exige 308 votos.
Os votos palacianos de anteontem não conseguiriam aprovar nem mesmo uma lei complementar, que exige a maioria absoluta de 257 deputados. PFL e PSDB contribuíram com 118 votos para o placar da votação.
"O governo não teve vitória nenhuma, eles não teriam voto para aprovar nem uma lei complementar. Quem aprovou isso fomos nós, da oposição", declarou o deputado José Carlos Aleluia (BA), líder da bancada do PFL.
Apesar dos agradecimentos públicos de Dirceu, os dois líderes fizeram questão de ressaltar que o apoio ao governo se restringiu à PEC do sistema financeiro e que, para as demais questões, o consenso terá que ser novamente conquistado. "Não acredito que o governo caia em conto da carochinha. Votamos pontualmente essa questão porque o projeto era nosso, o governo apenas aderiu", afirmou Aleluia.
"Os demais casos serão diferentes. Ontem [anteontem] houve o fato atípico de a proposta ser uma idéia nossa, encampada pelo governo", reforçou Jutahy, acrescentando que a unidade em torno das propostas dependerá do texto a ser apreciado.

Teses
Posição semelhante à da oposição, sobre a necessidade de criar unidade caso a caso, foi manifestada pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). "O que aconteceu na Câmara foi uma coisa emblemática. O que vai acontecer no Brasil daqui em diante é a formação de uma base em que o que vai importar são as teses, as idéias. Os votos vão perpassar os partidos", declarou.
Sobre o fato de o governo ter uma base formal que é insuficiente, como se viu no plenário anteontem, mesmo para aprovar uma lei que necessite de maioria absoluta, João Paulo reafirmou a necessidade de o Planalto manter o diálogo além-base.
"O governo tem relações regionais individuais, relação por temas, não dá para considerar que a base é somente a formal", afirmou. O presidente da Câmara, que há algumas semanas criticou a condução política do governo no Legislativo, disse achar que as últimas semanas demonstraram que o Planalto está, agora, tomando o rumo certo.

Elogios
O clima de lua-de-mel entre o Executivo e o Legislativo se refletiu ainda no fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter elogiado a atuação de sua liderança no Congresso em telefonemas feitos aos deputados Nelson Pellegrino (BA), líder do PT na Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), líder do governo na Câmara, e Aloizio Mercadante, líder do governo no Congresso.


Texto Anterior: Janio de Freitas: Gravações sem gravações
Próximo Texto: Ex-picaretas: Lula recebe os Paralamas no Alvorada
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.