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PETISMO REAL
Lideranças da oposição destacam que, sem eles, governo não conseguiria aprovar PEC do sistema financeiro
Dirceu agradece a PSDB e PFL por vitória
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após procurar demonstrar força no Congresso, o governo reconheceu ontem a ajuda que recebeu de partidos da oposição para
aprovar anteontem, na Câmara
dos Deputados, a Proposta de
Emenda à Constituição que trata
do sistema financeiro.
O ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu, o homem-forte do
governo Lula na área da articulação política, agradeceu publicamente o PFL e o PSDB por terem
ajudado a somar os 442 votos favoráveis (de um total de 513 deputados) obtidos pelo Planalto.
"Essa vitória não é do governo
nem do PT, é a vitória de todos os
partidos, incluindo o PSDB e o
PFL. A lição que fica é a de que
precisamos discutir e dialogar
mais", disse o ministro momentos após chegar à liderança do governo no Congresso. "Quero fazer
um agradecimento público ao
PSDB e ao PFL por terem votado a
favor da emenda", concluiu.
PFL e PSDB são os dois maiores
partidos de oposição da Casa,
com 138 deputados. Suas lideranças procuraram ontem deixar claro que, sem eles, o governo não
conseguiria atingir os 308 votos
necessários para a aprovação da
emenda, que abre o caminho para
a apresentação da proposta de autonomia do Banco Central.
"Tanto isso é verdade que estamos recebendo o agradecimento
público por parte deles. No caso
de ontem [anteontem", a garantia
do governo de que teria os nossos
votos é que fez o PT ter força para
enquadrar os seus radicais", disse
o deputado Jutahy Júnior (BA), líder do PSDB.
Dos 442 votos obtidos pelo Planalto, apenas 246 vieram da base
aliada (PT, PSB, PTB, PDT, PPS,
PL, PC do B, PV e PMN), ou seja,
número insuficiente para aprovar
uma emenda constitucional, que
exige 308 votos.
Os votos palacianos de anteontem não conseguiriam aprovar
nem mesmo uma lei complementar, que exige a maioria absoluta
de 257 deputados. PFL e PSDB
contribuíram com 118 votos para
o placar da votação.
"O governo não teve vitória nenhuma, eles não teriam voto para
aprovar nem uma lei complementar. Quem aprovou isso fomos nós, da oposição", declarou o
deputado José Carlos Aleluia
(BA), líder da bancada do PFL.
Apesar dos agradecimentos públicos de Dirceu, os dois líderes fizeram questão de ressaltar que o
apoio ao governo se restringiu à
PEC do sistema financeiro e que,
para as demais questões, o consenso terá que ser novamente
conquistado. "Não acredito que o
governo caia em conto da carochinha. Votamos pontualmente
essa questão porque o projeto era
nosso, o governo apenas aderiu",
afirmou Aleluia.
"Os demais casos serão diferentes. Ontem [anteontem] houve o
fato atípico de a proposta ser uma
idéia nossa, encampada pelo governo", reforçou Jutahy, acrescentando que a unidade em torno
das propostas dependerá do texto
a ser apreciado.
Teses
Posição semelhante à da oposição, sobre a necessidade de criar
unidade caso a caso, foi manifestada pelo presidente da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP). "O
que aconteceu na Câmara foi uma
coisa emblemática. O que vai
acontecer no Brasil daqui em
diante é a formação de uma base
em que o que vai importar são as
teses, as idéias. Os votos vão perpassar os partidos", declarou.
Sobre o fato de o governo ter
uma base formal que é insuficiente, como se viu no plenário anteontem, mesmo para aprovar
uma lei que necessite de maioria
absoluta, João Paulo reafirmou a
necessidade de o Planalto manter
o diálogo além-base.
"O governo tem relações regionais individuais, relação por temas, não dá para considerar que a
base é somente a formal", afirmou. O presidente da Câmara,
que há algumas semanas criticou
a condução política do governo
no Legislativo, disse achar que as
últimas semanas demonstraram
que o Planalto está, agora, tomando o rumo certo.
Elogios
O clima de lua-de-mel entre o
Executivo e o Legislativo se refletiu ainda no fato de o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ter elogiado a atuação de sua liderança
no Congresso em telefonemas feitos aos deputados Nelson Pellegrino (BA), líder do PT na Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), líder do governo na Câmara, e
Aloizio Mercadante, líder do governo no Congresso.
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