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SENADO EM CRISE
Arruda e ACM mantêm suas versões, e persistem as contradições entre os três depoimentos sobre a violação do painel eletrônico
Regina reafirma ordem para obter lista
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ex-diretora do Prodasen Regina Célia Peres Borges reafirmou
ontem, em acareação com os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Roberto
Arruda (sem partido-DF), que recebeu determinação clara para
extrair a lista de votação da cassação do então senador Luiz Estevão (PMDB-DF).
Regina lançou mão da lógica
para desmontar a versão de que
ela teria se precipitado ao tirar a
lista do computador. Segundo a
ex-diretora, não teria "lógica" ela
violar o sigilo de uma votação para assegurar que o sistema era seguro -como afirmou Arruda.
"Eu nunca violaria o painel para
provar que ele é seguro. Recebi
claramente um pedido para obtenção da lista de votação. Eu fiz
esse trabalho para cumprir uma
ordem, quanto a isso não arredo",
afirmou ao Conselho de Ética e
Decoro Parlamentar do Senado,
contrapondo-se a Arruda.
Apesar de ACM, Arruda e Regina terem sido colocados frente a
frente durante sete horas e questionados pelos senadores sobre
todos os pontos conflitantes no
episódio da violação do painel,
permaneceram as contradições
entre as versões ao final da acareação. As principais delas são:
1) Arruda disse que apenas fez
uma consulta sobre a segurança
do painel e que Regina se precipitou, mandando violar o sigilo dos
votos da cassação de Luiz Estevão;
2) Regina afirmou ter recebido
um pedido, que, pelas circunstâncias (ser chamada à noite na casa
do então líder do governo no Senado), encarou como uma ordem
expressa do então presidente do
Senado;
3) Arruda disse que procurou
Regina por delegação de ACM,
porque ambos estariam preocupados com a possibilidade de
fraude na votação;
4) ACM negou ter dado a Arruda ou a outra pessoa a incumbência de falar em seu nome;
5) Arruda afirmou que Regina
deveria ter dado um retorno à sua
"consulta" e que não o fez. Insistiu que só falou com ela depois
das 17h do dia 28, o dia da cassação, depois que ela já tinha a lista;
6) Regina disse que conversou
com o senador por telefone às
10h09 do dia 28, confirmando que
havia preparado o sistema para
emitir a lista dos votos.
Tensão
A sessão da acareação, que teve
sete horas de duração, começou
tensa, às 14h42. O presidente do
conselho, Ramez Tebet (PMDB-MS), abriu os trabalhos visivelmente nervoso, lendo regras que
deveriam ser obedecidas. Em vários momentos, usou uma campainha e pediu silêncio. As regras,
no entanto, foram esquecidas logo depois, dando lugar a uma nova rodada de depoimentos.
O relator do conselho, Saturnino Braga (PSB-RJ), o primeiro a
fazer perguntas, afirmou ser difícil acreditar na versão apresentada por Arruda. A base de sua descrença seria a "consulta" que o ex-tucano teria feito a Regina.
Segundo Saturnino, quem faz
uma indagação -não um pedido
ou uma ordem- depois tenta
obter a resposta, o que Arruda nega ter feito. Também questionou
a omissão de ACM em relação ao
ilícito praticado por Regina.
Jefferson Péres (PDT-AM) pediu aos presentes o fim do "eufemismo" e levantou, pela primeira
vez, a questão da mentira, ao dizer
que alguém estava faltando com a
verdade. Foi incisivo ao perguntar
a ACM se o pefelista "admoestou"
ou não Regina pela fraude.
Minutos antes, ACM fora contraditório em relação a seu depoimento, quando disse ter admoestado Regina por conta do painel.
Ontem atribuiu a admoestação a
outro motivo. "Essa pergunta é
crucial. O senador Antonio Carlos
agora diz que a admoestou por
outro assunto", frisou Péres.
Elogios
Em diversas ocasiões, ACM elogiou Regina, a quem chamou de
funcionária competente. Tentou
colar sua imagem à dela e, assim,
obter a simpatia da opinião pública, que está favorável à servidora.
Chegou a ler um discurso em
que a ex-diretora do Prodasen o
elogiava durante uma solenidade.
A estratégia de ACM foi eficaz
durante parte da acareação, já que
o tom ameno e os elogios tiraram
de si o foco das perguntas. Arruda
ficou por horas como o único responsável pela violação do painel.
O máximo de participação que
ACM admite ter tido no episódio
foi partilhar com Arruda sua
preocupação acerca de uma suposta tentativa de Luiz Estevão de
adulterar a votação, o que teria
ouvido em comentários à época.
Choque
A principal contradição de Regina com ACM diz respeito a um
dos dois encontros que teriam tido depois que a violação passou a
ser investigada pela Unicamp.
Regina afirmou ter ido conversar sobre a violação com ACM na
casa de sua secretária Isabel Flecha de Lima. Segundo ACM, o encontro ocorreu por outros assuntos. Os dois, no entanto, concordaram que a questão da violação
foi um dos temas tratados.
Quanto a Arruda, há uma contradição fundamental: se era uma
consulta sobre a segurança ou
uma ordem para violação.
"A palavra consulta eu descarto
absolutamente", disse Regina.
"Pedido e ordem têm uma diferença tênue. Dependendo da autoridade, um pedido tem a força
de uma ordem expressa", acrescentou. "A possibilidade de dizer
"não" é que vai determinar como
aquilo será recebido."
Ao final da acareação, o foco das
perguntas -e também dos ataques- passou de Arruda para
ACM. O tom da mudança foi um
apimentado diálogo entre ACM e
Emília Fernandes (PT-RS).
Depois de dizer a Regina que "é
lamentável chegar ao final de uma
carreira assim [respondendo por
uma fraude"", Emília trocou farpas com o pefelista. "Considero o
seu estilo [de ACM" autoritário e
prepotente", atacou. "Não vou dizer o que penso de V. Excia.", respondeu ACM. "Pois poderia dizer. Mas não sou eu que estou
sendo questionada", disse Emília.
Roberto Freire (PPS-PE) chamou a atenção para o fato de que,
ao aceitar as três diferentes versões acerca da "ordem" para obter a lista, "não tem ninguém sendo responsável [pela ordem"".
Acusou ACM de ter cometido crimes, além de faltar com o decoro:
prevaricação, condescendência
criminosa e violação de sigilo funcional. ACM atribuiu a ofensiva a
diferenças pessoais.
Pedro Simon (PMDB-RS) manteve-se firme ao estilo dramático,
repetindo, com gestos e simulação de diálogos, como teriam sido
as conversas entre ACM e Arruda
e deste último com Regina.
"Eu tenho a convicção de que a
senhora [Regina" fez [a violação"
por determinação do senador Arruda", declarou Simon, logo depois de dizer que as "razões de Estado" alegadas por ACM para
manter a fraude em sigilo seriam
"razões de Estado autoritário, acima das razões individuais".
E-mail
Nas suas considerações finais, o
senador Arruda lançou mão de
um último recurso: citou uma
mensagem que recebeu pela Internet, por meio da qual os advogados Valdir Campos Lima e Carlúcio Campos Coelho sugeriam
uma intrincada estratégia de defesa. O ex-líder do governo disse
que se interessou pelo e-mail e
que mandou alguém ao escritório
dos advogados. Chegando lá, seu
emissário constatou que eram
amigos de um filho de Regina,
Dorival Borges de Souza Neto,
que também é advogado.
Com essa informação, o senador pretendeu mostrar que seus
oponentes seguiam estratégias
previamente estudadas, enquanto
ele se limitava a falar a verdade.
Depois Arruda disse em entrevista que a responsabilidade dos
três é a mesma e que não aceita
um julgamento com dois pesos e
duas medidas.
Apesar dos momentos críticos
dos depoimentos, Regina e Arruda não choraram, embora, em determinados momentos, tivessem
a voz embargada. "Minha consciência está dizendo que colaborei
naquilo que foi possível. Ela está
tranquila", disse Regina ao deixar
o Senado, após sete horas de depoimento.
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