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ELEIÇÕES 2000
Ex-prefeita defende participação tucana em eventual governo, mas diz que não quer presidente na campanha
Erundina rejeita FHC, mas quer Covas
Juca Varella/Folha Imagem
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A pré-candidata do PSB à prefeitura de São Paulo, deputada federal Luiza Erundina, em entrevista em seu escritório político |
PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Contraditória, a Luiza Erundina (PSB) que disputará a Prefeitura de São Paulo diz que pretende
ter o PSDB em sua administração,
mas se recusa a ter o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso na disputa: ""Descarto, não
quero, não interessa".
Dos tucanos, no entanto, espera
a adesão do governador Mário
Covas, a quem elogia. Depois do
confronto entre grevistas e o governador, enviou a Covas um telegrama de solidariedade. "Não
posso concordar com as agressões feitas a uma autoridade, contra uma instituição", declara.
Admitindo que é mais fácil ser
oposição do que governo, afirma
ainda ter amadurecido politicamente e culpa o PT por não ter feito seu sucessor em 92.
Prestes a enfrentar sua terceira
eleição municipal, a pré-candidata do PSB declara que sua adversária Marta Suplicy (PT) é capaz
de governar São Paulo e que pretende apoiá-la, caso não chegue
ao segundo turno. Pesquisa Datafolha feita no final de maio mostra
a ex-prefeita com 17%, empatada
tecnicamente com Paulo Maluf
(PPB), que tem 15%, e 14 pontos
percentuais atrás de Marta.
Folha - A sra. disse que o prefeito
interino Regis de Oliveira não representava São Paulo por ter sido
eleito em uma chapa formada por
Celso Pitta e com o apoio de Paulo
Maluf. O secretário-geral do PSB,
Almino Affonso, é agora um dos articuladores políticos de Regis. Como explicar isso?
Luiza Erundina - Isso foi uma decisão pessoal dele. O partido firmou posição de oposição ao Regis. Aquilo que for bom para a cidade vamos apoiar e estar juntos.
Mas entendemos que o PSB não
deveria estar no governo, e ele não
está lá como PSB. Respeitamos a
decisão dele, individual, mas o
partido não responde por essa
presença no governo.
Folha - Isso constrange a sra.?
Erundina - Não, porque o Almino Affonso tem toda uma história, um reconhecimento pelo que
representou na luta para a democratização do país. Ele mesmo
tem dito que não está lá como
PSB. Está lá como indivíduo.
Folha - Essa é uma situação semelhante à da sra., quando resolveu
assumir um ministério no governo
Itamar Franco (92/94).
Erundina - Não. Tiramos um
presidente da República, reconhecidamente corrupto, contribuímos efetivamente para a saída
dele. Eu era prefeita na época e o
PT teve uma participação decisiva
naquele movimento. Era um momento muito delicado na vida do
país. Embora Itamar fosse vice do
Collor, ele é uma pessoa que tem
passado, história. O próprio Lula
fez autocrítica pelo PT não ter ido
para o governo Itamar, porque
provavelmente isso teria levado o
país a uma outra realidade. Certamente não seria FHC o presidente
ou, se fosse, não seria com os
compromissos que ele tem hoje.
Folha - A sra. acha que vai ser
mesmo possível um governo de
coalizão, como tem proposto, levando em conta o isolamento de
quando foi prefeita em 88?
Erundina - Porque eu fui vítima
de uma experiência dessas, faço
uma autocrítica. Assumir com
um único partido traz inconveniências e dificuldades a mais.
Também não é democrático. Na
realidade, estamos indo além do
governo de coalizão. Estamos
propondo divisão do poder com a
criação de subprefeituras com autonomia administrativa, orçamentária, financeira e política.
Folha - Essa divisão de poder
aconteceria entre que partidos?
Erundina - Quero trazer para o
governo quadros políticos e técnicos de partidos que realmente
queiram ajudar a recuperar São
Paulo na sua dignidade, cidadania, ética e esperança. Se eu chegar ao segundo turno, e os candidato, por exemplo, do PT ou do
PSDB não, quero o apoio desses
partidos. Não para mim, não para
o meu partido. Mas para a cidade.
Porque acho que São Paulo vive
um momento particularmente
grave da sua vida institucional.
Nesse quadro, imagino um governo que possa contar com o PSDB.
Folha - Como a sra. interpreta as
manifestações elogiosas em relação à sra. do presidente FHC e do
governador Mário Covas?
Erundina - É lastimável que adversários estejam usando isso
contra mim. Quem acompanha
meu desempenho no Congresso
pode testemunhar que tenho sido
uma crítica sistemática do governo FHC. Em relação ao governador Mário Covas, foi o reconhecimento de uma experiência de governo positiva. Ele se referiu especificamente à política da educação. Se um governador, ou qualquer outra pessoa, refere-se aos
acertos do governo, não posso interpretar isso. A menos que haja
má-fé de interpretar que nisso haja uma aproximação. Não tenho
controle de como os meus adversários reagem em relação aos
acontecimentos, aos fatos. Portanto, essa tentativa de me desacreditar por uma interpretação
tendenciosa em torno da manifestação de alguém sobre o momento de um processo eleitoral,
acho que no mínimo é má-fé.
Folha - A sra. espera o apoio do
PSDB ainda no primeiro turno caso
o candidato do partido não decole?
Erundina - Não. Não vejo como
o PSDB possa descartar uma candidatura e apoiar outra. Agora, o
segundo turno, vai ser a coalizão
entre duas candidaturas e, se uma
dessas for a minha, espero o mesmo tratamento que dei à candidatura Mário Covas, em 98.
Folha - E o apoio de FHC no segundo turno?
Erundina - Não. Não. Descarto,
não quero, não interessa.
Folha - Mas, na campanha de 96,
quando o presidente tinha melhor
popularidade em São Paulo, a sra.
usou em sua campanha imagens
dele anunciando a isenção de impostos para microempresas. A sra.
se arrepende disso?
Erundina - Não me arrependo.
Naquele momento eram medidas
positivas.
Folha - Hoje não há nada de positivo?
Erundina - Muito pelo contrário.
São todas medidas que atentam
contra o interesse nacional, contra o interesse dos trabalhadores.
Esse salário mínimo que ele adotou recentemente, esse tratamento que é dado aos servidores públicos, esse tratamento que é dado
aos aposentados.
Folha - Mas seu relacionamento
com Covas é diferente.
Erundina - Até porque o governador Mário Covas é muito diferente do presidente FHC. Tenho
as melhores referências do governador. Ele mantém uma linha de
coerência na forma de se comportar. Você pode até criticar a postura. Fora disso, a ética, a moral,
seus compromissos políticos, não
há como atacá-lo. Tenho muito
respeito pelo governador.
Folha - A sra. fala com ele?
Erundina - Não. Não tenho nenhuma relação.
Folha - Depois da agressão que
ele sofreu na quinta-feira, a sra. falou com ele?
Erundina - Mandei um telegrama me solidarizando, mas ao
mesmo tempo criticando a falta
de diálogo com os servidores. Os
servidores têm todo o direito de
usar um instrumento que a própria Constituição reconhece como tal, que é a greve. Reconheço
que a situação salarial dos servidores é precaríssima. Há seis anos
estão sem ter reajuste e defendo
que o governo tem que abrir o
diálogo. Não interessa a ninguém
o acirramento dessas relações, essa tensão. Mas não concordo que
sejam adotadas medidas violentas, seja de que lado for. Não posso concordar com as agressões
feitas a uma autoridade, contra
uma instituição.
Folha - Seu governo foi marcado
por greves do funcionalismo, aumento do número de camelôs, paralisação de obras, inchaço da máquina. Essa experiência favorece,
na realidade, a seus adversários.
Erundina - Ao contrário. Tenho
como justificar todos esses carimbos. Primeiro, os camelôs não começaram comigo. Segundo, o
crescimento dos camelôs não foi
no meu governo. Foi no governo
seguinte. Não por culpa deles,
mas pelo agravamento da crise
social, do desemprego. Obras, tive
de fazer uma opção. Ou construía
obras para passar automóvel embaixo ou construía seis hospitais,
como fiz, dezenas de novas escolas, dezenas de novas creches.
Folha - A sra. sempre foi defensora da candidatura de Lula à Presidência e ele nunca teve experiências no Executivo -o que agora
usa para criticar a petista Marta Suplicy. Qual a diferença?
Erundina - Nunca disse que a
Marta não era adequada porque
não tinha experiência. Apenas
quando se coloca qual a diferença
entre nós duas, a Marta coloca
que ela é mais cosmopolita, que
tem um partido grande. Quando
falo sobre experiência, é para
mostrar que há diferenças de um
lado e de outro.
Folha - A sra. acha então que,
apesar da falta de experiência, ela
seria capaz de governar São Paulo?
Erundina - Claro. Nunca disse
que ela não seria. Até porque não
é você individualmente quem governa. É preciso ser capaz de
construir uma equipe competente e de coordená-la politicamente.
Folha - O que a torna então diferente da Marta?
Erundina - Ela ainda não fez isso.
Sou uma pessoa que já provei que
sou competente, capaz e que sei
governar na concepção política
do termo, mais do que simplesmente administrar.
Folha - A sra. não conseguiu fazer
seu sucessor em 88, quando o PT
perdeu para Maluf. Em 96, a sra.
perdeu para Pitta. Isso não é um indicativo de que a cidade desaprova
sua administração?
Erundina - Uma disputa em São
Paulo não pode ser avaliada só pelo resultado, porque não se perde
por um único fato. O PT, durante
os quatro anos de meu mandato,
em nenhum momento assumiu o
governo como seu. Em todas as
campanhas eleitorais, em nenhum momento o partido se utilizou dos acertos do governo. Era
como se fosse um partido de oposição ao governo. Então, se o próprio partido, que estava no governo, não assumia, não defendia,
não afirmava esse governo, como
é que eu poderia garantir sozinha?
Folha - Mas em 96 já era a sra. disputando diretamente com o Pitta e
Paulo Maluf fez seu sucessor.
Erundina - O Maluf gastou uma
fábula com propaganda. O fura-fila era uma proposta virtual nos
programas eleitorais fantásticos,
caríssimos. Impressiona. E provavelmente ele vai fazer isso de novo. Espero que o eleitor não se
deixe enganar mais uma vez.
Folha - Apesar disso, o Maluf continua em segundo lugar...
Erundina - Mas o Maluf sempre
começa lá em cima. Agora ele começou médio e está caindo. A direita hoje também está dividida.
Tem o Tuma, o Maluf...
Folha - Mas a esquerda também
está dividida entre a sra e a Marta.
Erundina - Mas temos outros
partidos juntos e vamos estar juntos no segundo turno, com certeza. Se for a Marta, vou estar fazendo a campanha dela. Se for eu, espero que ela faça o mesmo. Ela
nunca tem dito nada, mas tenho
afirmado que vai ser isso. A esquerda não está dividida, mas disputando um espaço que é comum.
Folha - Quando deixou o PT, a sra.
disse que o partido não tinha um
projeto. O PSB tem?
Erundina - As esquerdas, o PT
inclusive, o meu partido, são partidos que não têm um projeto e
nem poderiam ter porque nunca
fomos governo em todos os níveis. É compreensível que eles não
tenham o acúmulo de experiência
que a direita tem, no interesse deles. As esquerdas não acumularam experiência porque nunca foram poder real nesse país.
Folha - Quem é o nome da esquerda para 2002?
Erundina - Não estamos discutindo isso agora. É precoce. No
momento estou preocupada com
a eleição de São Paulo.
Folha - Hoje São Paulo tem uma
dívida de cerca de R$ 16,5 bilhões.
Não é um suicídio político comandar esta cidade?
Erundina - Já administrei uma
dívida tão complexa quanto essa.
E a receita era menor do que a de
hoje. Acho que uma dívida, quando chega a esse patamar, deixa de
ser uma questão financeira e passa a ser uma questão política.
Folha - Em 96, havia 13 ações na
Justiça contra a sra. por sua administração, inclusive do TCM (Tribunal de Contas do Município).
Erundina - Em mais de 30 anos,
o único governo que teve suas
contas rejeitadas pelo TCM foi o
meu, em um claro sinal de perseguição política. Nenhuma conta
do Maluf, do Pitta foi rejeitada.
Então ele não vale como referência. Mas todos os que passam pelo
poder público saem com ações.
Tenho ganho todas, só perdi uma
por uma matéria que publiquei
para me defender de que teria facilitado uma greve e vou ser obrigada a pagar R$ 182 mil pelos custos atualizados dessa matéria.
Qualquer governante tem ações
contra si. A diferença é a natureza,
a motivação dessas ações.
Folha - Qual a diferença da Luiza
Erundina de 88 para a de hoje?
Erundina - Sou mais madura,
mais experiente, mais consciente
das limitações de ser governo. Sou
mais tolerante na convivência
com as outras forças políticas e
entendo que um governo tem de
ser mais amplo. Mudei muito.
Folha - É mais fácil ser oposição?
Erundina - Evidente. Você foi a
vida toda oposição e tinha bandeiras de luta de oposição, que
prevêem transformações estruturais. Mas transformações estruturais não dependem apenas da
vontade de pessoas ou de partidos. Quando você chega lá é que
compreende os limites e percebe
que nem sempre aquelas bandeiras que serviam como plataforma
de luta nem sempre são plenamente viáveis. Nem sempre nem
tudo é questão de vontade política. Há determinações concretas,
legais, institucionais, administrativas, políticas.
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