São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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SÃO PAULO

Propina seria entregue a ex-secretário municipal em caixas de uísque

Investigado, ex-vereador envolve Maluf em escândalo

LILIAN CHRISTOFOLETTI
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Armando Mellão, ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo (1999-2000) filmado e preso numa suposta tentativa de extorsão, acusou o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) de ser o receptor da maior parte do dinheiro desviado de obras públicas.
A construção da avenida Água Espraiada e do túnel Ayrton Senna, segundo Mellão, teriam rendido ao grupo de Maluf cerca de US$ 1,5 milhão em propina.
Mellão, solto há três semanas, foi ouvido no dia 25 pelos promotores Sílvio Marques e Sérgio Sobrane, que investigam a movimentação no exterior de milhões de dólares atribuídos a Maluf.
Contas na Suíça (transferidas para o paraíso fiscal de Jersey) foram abastecidas, para a Promotoria, com o superfaturamento de obras na gestão Maluf (93-96).
O ex-presidente da Câmara disse que, mensalmente, as construtoras (CBPO, Constran, Mendes Júnior e OAS) repassavam milhares de dólares ao ex-secretário Reynaldo de Barros (Obras). O dinheiro, afirmou, era escondido em caixas de uísque Johnny Walker Red Label. "Cada caixa tinha ao menos US$ 100 mil e, como sempre eram 12 caixas, poderia haver até US$ 1,2 milhão", disse Mellão, que contou ter visto a cena "pelo menos 30 vezes".
"Foi o dr. Reynaldo que viabilizou o dinheiro para Paulo Maluf no exterior", disse o ex-vereador, que foi secretário pessoal de Reynaldo de Barros (1993-1996).
As acusações do ex-vereador foram reforçadas pelas declarações de Marcos Feliciano de Oliveira, motorista de Barros entre 79 e 96 -depois assessor de Mellão.
Em seu depoimento à Promotoria, Oliveira afirmou que as caixas de uísque eram entregues diretamente a Maluf por Barros. "Levei o secretário na casa de Maluf."
Disse ainda que Barros tem uma conta bancária não declarada nos EUA e uma "offshore" (empresa estrangeira), a Ber Comporation.
O promotor Sílvio Marques disse que os representantes das construtoras serão chamados a depor e que irá pedir a quebra do sigilo bancário internacional de Barros -a do nacional foi obtida em 2002, e as informações são mantidas em segredo.
Mellão foi preso em flagrante num flat, acusado de extorquir dinheiro do ex-deputado estadual Reynaldo de Barros Filho (PP). O dinheiro foi entregue pelo advogado de Reynaldo Filho. Pelas investigações da PF, Mellão dizia falar em nome de congressistas da CPI do Banestado e afirmava que podia barrar investigações. Mellão afirma ter sido vítima de "armação" da família Barros.


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