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CELSO PINTO
Aumenta o calote público
O calote do setor público brasileiro está crescendo. Além de Alagoas e Osasco não pagarem, pela
segunda vez, vencimentos de seus
títulos, também a cidade de
Campinas entrou para o clube
dos inadimplentes.
Os três tinham títulos públicos
vencendo no dia primeiro de junho: R$ 140 milhões de Alagoas,
R$ 36 milhões de Osasco e R$ 43
milhões de Campinas. Nada foi
pago.
Nos três casos, os títulos foram
emitidos, supostamente, para pagar precatórios (dívidas judiciais
irrecorríveis). Na prática, como
mostrou a CPI dos precatórios no
ano passado, Estados e municípios abusaram da fachada dos
precatórios para levantar dinheiro emitindo títulos que, de outro
modo, não poderiam ser emitidos.
Alagoas e Osasco emitiram seus
papéis em novembro de 95, e
Campinas emitiu em dezembro
de 95. Osasco e Campinas estavam proibidos de "rolar" seus papéis, ou seja, emitir novos papéis
que substituíssem os anteriores
(supondo que alguém quisesse
comprar esses papéis).
No caso de Alagoas, havia uma
brecha permitindo a rolagem,
mas o Estado preferiu não fazê-lo, na esperança de incluir essa dívida mobiliária no pacote de
renegociação das dívidas estaduais com o governo federal. Se
conseguir, vai refinanciar os papéis em 30 anos pagando inflação
(IGP) mais 6% de juros. Se rolasse os papéis, teria de pagar uma
fortuna para convencer alguém a
comprar seus títulos.
Quem tinha os três papéis na
mão "micou", como se diz no
mercado. Não é muito dinheiro,
mas o tamanho de precatórios
ainda a vencer assusta. No total,
a preços de março, existem R$
10,4 bilhões de títulos mobiliários
originados em precatórios a vencer, ou vencidos e não pagos.
São R$ 3,3 bilhões em seis Estados: São Paulo (R$ 287 milhões),
Santa Catarina (R$ 1,930 bilhão), Rio Grande do Sul (R$ 18
milhões), Rio de Janeiro (R$ 39
milhões), Pernambuco (R$ 567
milhões) e Alagoas (R$ 540 milhões). E mais R$ 6,9 bilhões em
quatro municípios: São Paulo
(R$ 6,7 bilhões), Campinas (R$
131 milhões), Guarulhos (R$ 23
milhões) e Osasco (R$ 122 milhões).
A cidade de São Paulo teve um
vencimento de R$ 428 milhões no
dia primeiro de junho. Foi autorizada a rolar e conseguiu colocar novos papéis.
O mercado de títulos estaduais
e municipais sempre foi pequeno
e olhado com desconfiança por
boa parte do mercado financeiro.
Com as inadimplências sucessivas, ficou ainda mais complicado.
Apenas a cidade de São Paulo
tem um total de R$ 1,2 bilhão em
títulos vencendo no próximo ano
(calculados pelo valor projetado
nos vencimentos). Mesmo que
consiga rolar a dívida, como fez
este ano, será preciso contar com
a boa vontade do mercado.
O Banco Central tem mandado
orientação para as instituições
que têm os papéis não pagos. No
caso de uma instituição que tem
papéis de Alagoas, o comunicado
do BC manda fazer provisão para
perda de 100% do valor no balanço de junho e comunicar formalmente aos clientes que tenham o
papel, que só serão pagos se e
quando Alagoas pagar o que deve. Ou seja, os títulos viraram pó.
FMI no Brasil
O segundo homem forte do
FMI, Stanley Fischer, vai almoçar com o ministro da Fazenda,
Pedro Malan, em Brasília, daqui
a duas semanas, no dia 18. Pode
ser que tenha outros encontros
com o governo.
Fischer vem ao Brasil, na verdade, para participar de um debate, dia 19, em São Paulo, em
que estarão presentes também
Malan, André Lara Resende, presidente do BNDES, e Albert Fishlow, membro do Council on Foreign Relations (Conselho de Relações Exteriores). O tema do debate será a perspectiva do Brasil
e da economia mundial.
Em Brasília, o encontro deverá
servir para uma troca de idéias.
Malan e Resende são amigos pessoais de Fischer. Em abril, na
reunião da primavera do FMI,
Fischer estava muito otimista
com o Brasil, mas parte de seu
otimismo vinha de uma projeção
fiscal muito positiva, algo que, a
esta altura, o próprio Fundo está
revendo.
Antes de desembarcar no Brasil, Fischer terá de pilotar a crise
russa. Falou-se na hipótese de renovação do empréstimo de US$
10 bilhões para a Rússia, do qual
restam US$ 4 bilhões a receber
até março de 99. O FMI, contudo,
tem um problema grave: embora
seu capital beire US$ 200 bilhões,
os recursos utilizáveis, hoje, somam apenas US$ 15 bilhões.
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