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RADIODIFUSÃO
Antecessor de Pimenta, Barros ataca anteprojeto das Comunicações
Ministro utiliza Estado a seu favor, diz Mendonça
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de
Barros acusou ontem Pimenta da
Veiga, seu sucessor, de utilizar ""o
instrumento do Estado para desenvolver sua atividade política" e
disse que o governo, as grandes
empresas de comunicação e o
Congresso se beneficiam da concentração de poderes e dos uso
político da pasta.
Mendonça de Barros se referia
ao anteprojeto da lei de serviços
de radiodifusão posto em discussão pública por Pimenta da Veiga.
O anteprojeto dá superpoderes ao
ministério, concedendo a seu titular o controle, por exemplo, sobre
licitações de rádio e de TV.
A seguir, trechos da entrevista:
Folha - Qual era o projeto de Sérgio Motta sobre o assunto?
Luiz Carlos Mendonça de Barros -
Ele queria transferir toda a responsabilidade sobre a área postal,
de telecomunicação e de radiodifusão para agências independentes porque achava que dava uma
proteção maior para a sociedade
de influência política. Há um histórico (da influência política) no
Ministério das Comunicações,
principalmente na gestão do Antonio Carlos Magalhães [ministro
das Comunicações de José Sarney, 1985-1990". Sérgio apontava
duas questões básicas: todas essas
licenças têm um valor comercial e
esse valor comercial tinha de ser
explicitado por um processo licitatório. Evidentemente que não é
aberto, porque, em alguns casos,
existiria algum tipo de restrição,
como ao capital estrangeiro e à
concentração. Haveria todo um
cuidado de que, por meio desse
processo licitatório, fossem respeitados princípios importantes,
principalmente na parte de radiodifusão, em que a questão da democracia é fundamental.
Na opinião dele, (com) isso no
ministério, a sociedade fica muito
menos protegida de interesses
não-sociais do que em uma agência regulatória, em que a direção
tem mandato fixo e é obrigada a ir
ao Congresso para prestar contas.
Ele começou com o sistema de telecomunicação e os passos seguintes seriam a parte postal e de
radiodifusão. Sempre houve pressão por parte dos interesses estabelecidos, principalmente na radiodifusão, para que esse processo não continuasse.
Folha - Pressão das empresas?
Mendonça de Barros - Das empresas, porque é muito mais fácil
você agir a favor de seus interesses
em alguma coisa mais escondida.
Folha - O ministro Pimenta da
Veiga disse que Sérgio Motta teria
mudado de idéia sobre isso.
Mendonça de Barros - Mentira.
Sérgio Motta e o Pimenta da Veiga eram inimigos políticos e, mais
do que isso, representavam duas
gerações de políticos.
Folha - Seria impossível que Pimenta soubesse da mudança de
planos?
Mendonça de Barros - Eu era
amigo, confidente, uma pessoa
para quem o Sérgio abria suas
idéias. Se há uma pessoa que seria
depositária dessas preocupações
seria eu. Não o ministro, que era
inimigo dele.
Folha - De onde veio a inimizade?
Mendonça de Barros - Basicamente do fato de Pimenta da Veiga ser um político velho. Daquele
mais tradicional, que usa o instrumento do Estado para desenvolver sua atividade política.
Folha - É isso que o sr. acha que
está acontecendo agora?
Mendonça de Barros - Não tenha
dúvida.
Folha - O fato de ele ser pré-candidato à Presidência?
Mendonça de Barros - É, e se não
é a presidente, é a governador. Ele
é candidato a alguma coisa. E a
ação dele tem sido toda no sentido de criar uma máquina em que
ele possa ter uma expressão nacional, que ele não consegue ao
nível das idéias e das propostas,
de ter essa expressão nacional ao
nível de pequenas ações, empregos, inaugurações. Essa mudança
é da cabeça dele (Pimenta da Veiga). De ele querer voltar a ter um
poder discricionário, que, no fundo, implica poder político.
Folha - Quem mais seria beneficiado com isso? Grandes empresas?
Mendonça de Barros - Elas sempre foram contra esse projeto.
Quando o Pimenta da Veiga assumiu, a primeira coisa que fez foi
demitir os que estavam envolvidos nisso. A coisa mais barulhenta foi a demissão do Egydio (Bianchi, ex-presidente dos Correios).
Folha - É também um retrocesso
do ponto de vista técnico?
Mendonça de Barros - É. Quando
você tem a influência política, não
há prevalência do técnico.
Folha - Mas a influência política
beneficia o governo como um todo.
Mendonça de Barros - É óbvio. O
problema é que havia críticas no
governo ao Sérgio Motta exatamente por isso. Diziam: "Você está abrindo mão de uma ação política do governo". Ele dizia: "Estou
porque acho que política não é assim que se faz".
Folha - O que o presidente acha
desse projeto (de Sérgio Motta)?
Mendonça de Barros - Nunca
conversei com ele sobre isso, mas,
se ele deixou o Sérgio tocar, é porque, de certa forma, concordava.
Folha - O projeto será aprovado?
Mendonça de Barros - Acho que
sim, porque o Congresso tem interesse nisso. De certa forma, os
deputados sempre foram os agentes da ação política nesse campo.
Só quem perde é a sociedade.
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