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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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CRISE DO BONÉ

José Dirceu diz que Planalto fará com que a lei seja respeitada

Governo tenta abafar críticas sobre conivência com o MST

Alan Marques/Folha Imagem
Lula conversa com Olívio Dutra, Ciro Gomes e Benedita durante evento no Ministério da Justiça


IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Integrantes do primeiro escalão do governo tentaram, ontem, minimizar a polêmica criada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao posar para fotos com um boné do MST e afirmaram que o governo não pretende permitir ações fora da lei, tanto de sem-terra como de fazendeiros.
Durante um encontro com 29 representantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), anteontem no Palácio do Planalto, Lula colocou um boné com a inscrição "Reforma Agrária - por um Brasil sem latifúndio", levado por um dos representantes do MST. O gesto gerou críticas da oposição na Câmara e no Senado, principalmente do PFL e do PSDB.
"Onde o presidente vai ele tem colocado o boné de diferentes entidades, de diferentes forças políticas sociais do país. Ele é presidente de todos os brasileiros, ele também é presidente do MST. Não ajuda o Brasil estigmatizar o MST", disse o ministro José Dirceu (Casa Civil) logo no início da manhã, no programa "Bom Dia Brasil", da Rede Globo.
Apesar de dizer que nada justificava a violência, o ministro afirmou que os saques provocados pelos sem-terra não eram "significativos" e que existia uma "situação de fome" no país.
Dirceu procurou, porém, mostrar que as cenas de anteontem no Planalto não significam que o governo está sendo leniente com o MST. "Receber não significa concordar. O governo vai fazer, sempre, valer a lei do país".
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi na mesma linha de Dirceu. Disse que "não há ninguém acima da lei, nem MST nem fazendeiros".
Responsável pela Polícia Federal, Bastos afirmou ainda: "Posso mandar prender, se necessário". Acrescentou que a ordem pode ser dada a qualquer momento "pela autoridade policial, pelo ministro ou pelo ministério".
Sobre o fato de Lula ter colocado o boné do MST, o ministro da Justiça afirmou que "criou-se aí um certo exagero".
Em sua avaliação, "o presidente é um homem livre, ele tem o seu gosto, o seu estilo de brincar de receber as pessoas. Ele vai fazer isso sem que isso gere direitos".

Pacificação no campo
Ministro da Agricultura e ligado ao setor agropecuário, Roberto Rodrigues também procurou defender o presidente Lula.
Ele disse que "o gesto [de colocar o boné] buscou a pacificação no campo e também os mecanismos formais para fazer a reforma agrária dentro da lei".
Segundo Rodrigues, o uso do boné foi um gesto de "simpatia e boa vontade com o movimento, mas de nenhuma forma representa tolerância para o que está à margem da lei".
A ministra Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social) também saiu em defesa do presidente, na mesma linha de Dirceu, Bastos e Rodrigues.
"O governo é um grande moderador. O presidente Lula é o presidente do Brasil, é um chefe de Estado e tem que receber os com-terra e os sem-terra, os com-teto e os sem-teto."
Questionada se Lula usaria um boné de entidade ligada a ruralistas, porém, a ministra tergiversou. "O presidente tem se comportado de forma que o Brasil entenda que ele cumpre a lei. Por um gesto carinhoso ele tem colocado boné, camisa. Não poderia ter dado um tratamento diferenciado para o MST", disse.
O ministro mais contundente na defesa de Lula foi Ciro Gomes (Integração Nacional). Ele classificou as notícias sobre a reação de fazendeiros às invasões promovidas pelo MST de "falsa polêmica".


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