São Paulo, sábado, 4 de julho de 1998

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SUCESSÃO
Em dois dias, foram gastos pelo menos R$ 2,1 mi em anúncios durante os intervalos mais caros da Rede Globo
Governo faz ofensiva no horário nobre

ANNA LEE
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

O governo federal gastou, nos primeiros dois dias de junho, pelo menos R$ 2,1 milhões em anúncios institucionais nos intervalos do "Jornal Nacional" e da novela "Torre de Babel", ambos da Rede Globo. Esse horário, das 20h às 21h40, é considerado o mais nobre e mais caro da televisão brasileira.
O dinheiro gasto pelo governo em 13,5 minutos de anúncios nesses dois dias equivale, no mínimo, ao valor aproximado de 238 casas populares, 17 mil cestas básicas, 16,4 mil salários mínimos e 159 carros populares (modelo Gol 1.0).
A estimativa foi feita pela Folha com base na atual tabela de preços da Rede Globo no mercado publicitário e no monitoramento da programação da emissora.
O valor gasto nos comerciais, porém, é certamente maior do que R$ 2,1 milhões. Na tabela à qual a Folha teve acesso, não constava preço de anúncios de um minuto.
No dia 1º de junho, foram veiculados quatro comerciais de 30 segundos e três de um minuto durante o "JN". Nos intervalos da novela, três anúncios de 30 segundos. No dia 2, foram exibidos três comerciais de 30 segundos no noticiário e um de um minuto. Durante a novela, três comerciais de 30 segundos e três de um minuto.
Assim, mesmo para os anúncios de um minuto, o cálculo foi feito tomando os preços de intervalos comerciais de 30 segundos de duração: R$ 110.689,00 (durante o "Jornal Nacional") e R$ 102.761,00 (durante a novela das oito). Esses são os valores para exibição em rede nacional.
Não é possível simplesmente dobrar os valores relativos a 30 segundos para saber o preço dos comerciais, porque as emissoras não costumam duplicar os preços na mesma proporção em que dobra o tempo do anúncio. Por exemplo: 15 segundos de anúncio durante a novela das oito custam R$ 77.070,75, e 30 segundos custam R$ 102.761,00.
A Folha tentou obter junto à Rede Globo a grade completa de anúncios da programação e o critério para o cálculo do anúncio de um minuto. O setor de divulgação da emissora informou que não fornece esses dados nem os valores gastos por seus clientes.
Ouvido pela Folha, um publicitário de uma das principais agências do Rio disse que, quando o cliente é o governo, a Globo usa "tabela cheia" (sem desconto) e cobra à vista. Quando o cliente quer escolher em que intervalo o anúncio será inserido, a emissora costuma cobrar de 20% a 30% a mais sobre o valor de tabela.
A partir de hoje, o governo terá de suspender praticamente toda a publicidade institucional. O TSE autorizou anteontem apenas três: sobre o Código Brasileiro de Trânsito, inscrição para cursos preparatórios de militares e risco de incêndio próximo a redes de energia elétrica da Eletrosul.
A lei proíbe os governos que têm cargos em disputa de veicular publicidade nos 90 dias antes das eleições, "salvo em caso de grave e urgente necessidade pública".



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