São Paulo, sábado, 4 de julho de 1998

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Menina quebra pedra e menino vende água para ajudar família

da Agência Folha, em Arcoverde (PE)

O trabalho infantil é uma rotina em todo sertão nordestino castigado pela seca. Nos mais de 4.000 quilômetros percorridos pela reportagem da Agência Folha no sertão de Pernambuco e da Paraíba, há dez dias, foi possível constatar crianças desenvolvendo atividades duras e difíceis, como quebrar pedra.
Girlandia Bezerra da Silva, 12, quebrava pedra na última quarta-feira na rua do Lixo, na periferia de Arcoverde, no agreste pernambucano.
A rua do Lixo, sem asfalto, é cortada por uma linha de trem. Em suas casas moram os excluídos da cidade.
No início de junho, representantes de clubes de serviços distribuíram em Arcoverde mil cestas básicas, mas alegando medo de tumulto deixaram para a polícia a distribuição na rua do Lixo.

Brita
Girlandia trabalha todos os dias das 6h às 12h. Transforma em brita para construção civil rochas colhidas pela mãe, Maria Lúcia Bezerra da Silva, 37, a quem ajuda.
"Tive de colocar a menina no trabalho duro. Com a seca ninguém tem dinheiro para comprar a brita. Reduzi o preço da lata de R$ 1,00 para R$ 0,60, mas ainda não vendi nada esta semana", afirmou Maria Lúcia.

Potro
Na mesma rua do Lixo, trabalha o menino Manoel Ferreira da Silva, 10. Ele vende 50 litros de água por R$ 0,50. Silva olha para o jegue e fala entre uma pergunta e outra: "Meu sonho mesmo é ter um potro para montar e passear, quando eu for buscar capim para o jegue".
Quanto tem sorte, diz ele, consegue trabalhar o mês todo, "sem domingo e feriado", para ganhar R$ 40,00. "Dou todo o dinheiro para minha mãe. Se eu juntasse, logo comprava o potro."



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