São Paulo, sábado, 4 de julho de 1998 |
Texto Anterior | Índice Prefeitura gasta com água valor que deveria ir para a educação da Agência Folha, em Soledade (PB)
A única água potável encontrada
pelos 11,1 mil moradores do município de Soledade, no sertão paraibano, tem de ser comprada. Há
cinco anos não há água nas torneiras. Toda a água distribuída pela
prefeitura é salinizada, imprópria
para o consumo.
Mesmo a água salinizada está racionada. Um total de 12 carros-pipa abastecem pontos de distribuição de água, onde os moradores
podem levar, a cada dois dias,
quatro latas de dez litros cada.
Mesmo nos dias em que não há
água, os moradores marcam seus
lugares na fila deixando as latas.
As filas são apenas um dos indicadores do drama vivido em Soledade, que dentro de 45 dias não terá
nem água salinizada para tomar
banho, cozinhar etc.
"Quando não tenho R$ 1,00
para comprar 20 litros de água para beber, peço para o vizinho",
afirmou Maria Aparecida Valêncio de Lima, 28, moradora da periferia da cidade.
O prefeito Fernando Araújo Filho (PMDB) se diz "desesperado" com a situação. Afirma que
está investindo R$ 40 mil por mês
para manter o abastecimento de
água salinizada para a população.
A arrecadação mensal do município é de R$ 170 mil, portanto, a
prefeitura gasta mais com água do
que os 25% do orçamento que a
Constituição exige que seja investido na educação.
"Só fica em Soledade quem é
apaixonado pela cidade. Dos 14
açudes, só dois têm um pouquinho de água. Precisamos que a
adutora de Boqueirão, que fica a
70 quilômetros, nos abasteça. Mas
a obra não sai do papel", afirmou.
Os moradores da cidade denunciam que o prefeito deixou de instalar três dessalinizadores (equipamento que purifica a água de
poços de água salgada) que há
mais de dois meses estão na sede
da prefeitura.
"Administro a prefeitura como uma empresa. Não vou fazer
mais dívidas. Os dessalinizadores
estão parados há dois meses porque estamos levando energia e
perfurando os poços", afirmou o
prefeito.
(ARI CIPOLA)
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