São Paulo, Domingo, 04 de Julho de 1999
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Domingueira

O drama barroco baiano

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo

É notável a tentativa do sr. Antonio Carlos Magalhães de tornar-se menos indigesto nos arraiais sulistas, especialmente paulistas. O senador baiano, indicam as pesquisas, ainda está longe de ter chances mais animadoras na região. Mas, devagarinho, devagarinho, quem sabe?
Para isso, o cacique do PFL precisa, como já está tentando, começar a seduzir a paulicéia, da mesma forma que FHC conseguiu seduzir o Nordeste. Depois que o presidente andou de burrico e comeu quitutes locais, agora cabe a ACM começar a falar "ô meu" e flertar com algumas prestigiosas instituições bandeirantes como, por exemplo, a USP.
Aguardemos para breve suas opiniões sobre Mario e Oswald de Andrade (sem isso não há como se localizar no sistema intelectual local), as idéias de Luckács ou Walter Benjamin a respeito da alegoria e, quem sabe, uma pequena apreciação, no caso bastante pertinente, a respeito do polêmico sequestro do barroco na formação da literatura brasileira.

Por falar em sequestro, é de se notar o sequestro do acento no mundo globalizado. Telefonica e Petrobras.

É escandalosa a transferência da dívida de São Paulo inventada pelo sr. Paulo Maluf para o bolso do contribuinte. O Planalto esperneia para a arquibancada. E a conta da reeleição vai crescendo.

O governo tenta arrumar a casa para tentar iniciar o segundo mandato, até aqui um corre-corre para apagar incêndios na área econômica. Não são poucos -e são das mais diversas áreas- os que temem pela decomposição do quadro político.
O próprio ACM, como se viu em suas últimas declarações, não tem mais nenhum pudor em censurar publicamente o estilo conciliador do presidente.
Resta saber se é plausível uma mudança efetiva nesse aspecto e, caso ela ocorra, se surtirá algum efeito -ou irá apenas esfacelar-se nesse ambiente gasoso em que vai se transformando o núcleo do poder.
Resta saber, também, se as eventuais melhorias no quadro econômico poderão reverter a favor do presidente. Há motivos para acreditar que não, mas ainda é muito cedo para veredictos.

E a cimeira? Que palavrinha mais lusa, não? E por que todos embarcamos nela? Você já viu alguém no Brasil falar "cimeira"? "Vou promover uma cimeira lá em casa". "Meu bem, que tal uma cimeira hoje à noite?"
Minha vizinha achava que era uma sigla, tipo Convescote Internacional Mercantil Inútil e Rachado. De fato, um churrascão de bacanas internacionais para discutir teses importantíssimas, mas sem nada de efetivo decidido.
Ao menos o Rio tornou-se mais belo.

Kate Moss e Emmanuelle Béart esses dias em São Paulo. Calma, meninos.



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