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COMÉRCIO EXTERIOR
Depois de cerimônias, chegou a hora de discutir seriamente protecionismo, sob pressões de EUA e UE
Após Cimeira, Brasil enfrenta negociação
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
Terminada a cúpula União Européia/América Latina-Caribe e,
dentro dela, a cúpula menor, entre
a UE e o Mercosul, o Brasil passa a
enfrentar negociações de enorme
impacto interno.
Ao contrário do que ocorreu nas
cúpulas do Rio de Janeiro, desta
vez não se trata de retórica e cerimônia, mas da substância do comércio que estará em negociação.
Para entender a pressão, basta
prestar atenção no enorme abismo
entre a posição de empresários
brasileiros e a dos países ricos.
Marcos Vinícius Pratini de Moraes, presidente da AEB (Associação de Exportadores Brasileiros),
diz, até erguendo a voz: "O Brasil
não tem mais nada que abrir; agora, é a vez deles (dos europeus)".
Do outro lado, ao contrário, comunicações já encaminhadas à
OMC (Organização Mundial de
Comércio), o xerife do comércio
internacional, pedem mais.
Exemplos:
1 - Comunicação da Noruega
lembra que, em bens industriais,
"as tarifas pico (as mais altas, portanto) foram definidas como sendo as acima de 15%. Reduções adicionais devem ser procuradas".
O comunicado norueguês alude
ao fato de que, na mais recente rodada de negociações comerciais (a
Rodada Uruguai), toda tarifa acima de 15% foi definida como "pico" e, como tal, provisória.
No caso do Brasil, os 15% não são
pico, mas a tarifa média efetivamente praticada para a importação de bens industriais.
Logo, fica evidente que os europeus, ao contrário do que pede
Pratini, vão, sim, exigir aberturas
adicionais.
2 - Na área de serviços, comunicação da União Européia lembra
que "todos os membros da OMC
comprometeram-se a reduzir obstáculos ao comércio em serviços,
de acordo com o princípio da liberalização progressiva".
Mais: a UE quer também reduzir
"os desequilíbrios entre os compromissos dos diferentes países".
Traduzindo: os europeus cobram mais acesso na área de serviços, por mais que eles próprio tenham ficado, por exemplo, com
quase toda a área de telecomunicações no Brasil e em outros países
em desenvolvimento.
Área agrícola
O único ponto em que o Brasil
não jogará na defensiva, nas próximas negociações comerciais, é a na
área agrícola.
Tanto Austrália como Estados
Unidos já enviaram à OMC comunicações nas quais pedem uma
profunda revisão de todo o leque
"de medidas que distorcem o comércio" (na formulação norte-americana).
O leque inclui a abertura dos
mercados internos para produtos
agrícolas de outros países, os subsídios para exportação de bens
agrícolas e os subsídios para a produção para consumo interno.
Só a UE gasta US$ 150 bilhões/ano para ajudar seus produtores.
A Austrália lembra que, se no setor industrial a tarifa média caiu
para 4%, "no agrícola, tarifas de
300% ou mais não são incomuns".
O Brasil leva para as futuras negociações comerciais exatamente
essa prioridade: abrir o mercado
agrícola tanto da UE quanto dos
EUA.
Mas, para obter alguma abertura
na área agrícola, o Brasil será pressionado a ceder em setores como
compras governamentais.
Trata-se das concorrências públicas para o fornecimento de bens
e serviços, desde estradas até material de escritório, para repartições
públicas. Esse capítulo representa,
em média, 15% do PIB (Produto
Interno Bruto, medida da renda
nacional) de cada país.
Crítica da UE
A UE acusa o sistema atual de
concorrências de ser, em geral,
"opaco e discriminatório". Ou seja, favorece as empresas locais em
detrimento das estrangeiras.
Quer abrir também essa área.
UE e EUA pressionam igualmente pelo que a Noruega define como
"políticas comerciais e ambientais
que mutuamente se reforcem e sejam legalmente consistentes".
Tradução: os países desenvolvidos querem que o comércio internacional preveja normas que evitem danos ambientais na produção e comercialização de determinados produtos.
Para o governo brasileiro, trata-se de protecionismo disfarçado.
Um país poderia, por exemplo,
brecar compras de madeira originária do Brasil alegando que a derrubada das árvores é ecologicamente danosa, seja falsa ou não a
alegação.
Pressão
Todas essas pressões aparecerão
nas três negociações comerciais
em que o país se envolverá a partir
de novembro: o acordo com a UE
em torno de uma eventual futura
zona de livre comércio, a Rodada
do Milênio (a negociação entre os
134 países-membros da OMC para
liberalizar o comércio) e a Alca
(Área de Livre Comércio das Américas, que pretende englobar os 34
países americanos, excluída apenas Cuba).
O governo brasileiro será pressionado nas três para fazer concessões. Mesmo que as faça na OMC,
não basta, julga Charlene Barshefsky, xerife do comércio internacional dos EUA:
"Por mais ambiciosa que seja a
agenda da OMC, a Alca, por definição, é significativamente mais ambiciosa, (já que) visa eliminar tarifas de forma completa".
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