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Menem vira o "pato manco'
do Conselho Editorial
Nos seus dez anos de reinado na
Argentina, o presidente Carlos
Saúl Menem transformou-se
igualmente em estrela das reuniões internacionais e regionais de
que participou.
Um pouco pela bizarria de sua
costeleta, de seu gosto por exibir-se ao lado de lindas mulheres e/ou
de demonstrar habilidade no futebol e no tênis. Outro tanto pelo fato de ter sido o responsável por trazer a inflação argentina ao andar
em que se encontra nos países desenvolvidos, depois de décadas de
descontrole e de dois surtos hiperinflacionários.
Mas, na recém-encerrada Cimeira, Menem deixou a condição de
estrela para assumir a de "pato
manco", a expressão em inglês
("lame duck") usada para designar
governantes em final de período, já
sem o poder de outrora.
O que Menem mais perdeu não
foi a costeleta, agora aparada, mas
o brilho interno, que inexoravelmente repercute externamente.
O presidente falhou em reiteradas tentativas de obter o direito à
re-reeleição, ou seja, a um terceiro
mandato consecutivo.
O que atrapalhou foram menos
os obstáculos jurídicos (contornáveis quando se tem, como é o caso
de Menem, maioria na Corte Suprema) e mais a baixa aceitação
política e popular à hipótese de
Menem concorrer de novo.
Pior: Menem perdeu até a força
para influir na escolha do candidato de seu partido (o Justicialista, ou
peronista) para sucedê-lo.
Queria alguém mais maleável,
que não lhe fizesse sombra, como o
cantor romântico Ramón "Palito"
Ortega, agora travestido de político. Mas o candidato é o governador da Província de Buenos Aires,
Eduardo Duhalde, crítico das políticas menemistas e o herdeiro mais
fiel das tradições populistas do peronismo.
Seja qual for o resultado da eleição de outubro, portanto, Menem
perderá. Ou para a oposição convencional, cujo candidato é o prefeito de Buenos Aires, Fernando de
la Rúa, ou para sua própria oposição interna, caso de Duhalde.
A explicação para o ostracismo
do presidente é óbvia: a crise econômica em que se debate a Argentina, cujo reflexo mais incômodo é
o alto desemprego (deve ficar, este
ano, em 16% da força de trabalho,
contra 6% no início da era Menem).
Na cúpula do Rio, enfraquecido
pelos problemas internos, Menem
nem sequer pôde tirar da cartola o
coelho da "dolarização", a mais recente mágica a que se apega para
chamar a atenção da mídia.
Afinal, o encontro era com os europeus, mais inclinados a pensar
na "euroização", ou seja, na expansão do euro (a moeda comum
de 11 dos 15 países da UE) como
moeda concorrente do dólar nas
transações internacionais.
Desse ponto de vista, fez mais sucesso o presidente venezuelano
Hugo Chávez, um coronel rotulado de "golpista" por ter tentado,
por duas vezes, chegar ao poder a
bordo dos tanques, o que só conseguiu -e graças às urnas- em 98.
Nos debates fechados entre os
governantes, Chávez disse que o
modelo europeu, ao contrário do
norte-americano, era o que melhor combinava os interesses do
capital e do trabalho. Música para
os ouvidos dos líderes europeus,
que não escondem o orgulho pelo
seu modelo de bem-estar social.
Menem, ao contrário, preferiu
falar do Mercosul como ímã para
investimentos estrangeiros, mas
soltou números que provocaram
mais dúvida que admiração: disse
que, entre 98 e 2000, a Argentina
receberá US$ 53 bilhões em investimentos externos, 55% deles provenientes da Europa.
É uma cifra que corresponde a
quase 20% do PIB argentino, reduzido a US$ 298 bilhões por uma
nova e mais correta metodologia
de cálculo (era de US$ 335 bilhões).
Tanto como a Argentina, Menem
acabou surgindo mais pobre na
Cúpula do Rio, desvalorizado pelo
fim de um reinado em um momento de extrema dificuldade econômica e de baixa popularidade.
(CR)
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