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SISTEMA FINANCEIRO
Banco federal detém, junto com o Banespa, 78% dos papéis de Estados e municípios existentes no mercado
BB abriga R$ 17 bilhões em títulos públicos
ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília
Os Estados e os municípios encontraram grandes financiadores
de suas dívidas no Banespa e Banco do Brasil, que carregam em suas
carteiras 78% dos R$ 24,765 bilhões em títulos que circulavam no
mercado em maio passado.
O BB é, de longe, o maior detentor de papéis de Estados e municípios, com R$ 17 bilhões. Um eventual calote (que hoje é mais improvável, graças a um socorro da
União) consumiria mais que o dobro do patrimônio do banco, que
em maio era de R$ 7,243 bilhões.
O Banespa vem em segundo lugar, com cerca de R$ 3 bilhões em
títulos dos municípios de São Paulo e de Campinas, o equivalente a
dois terços do patrimônio do banco paulista, federalizado em 1997.
Os dois bancos vão ser beneficiados com o pacote de refinanciamento das dívidas de Estados e
municípios. O BB será salvo especialmente com o arranjo político
no Senado para federalizar os títulos emitidos irregularmente por
São Paulo para pagar supostos precatórios (dívidas judiciais).
O BB tem, só do Estado do Rio de
Janeiro, um volume da ordem de
R$ 10,5 bilhões em títulos. Os papéis foram regularmente emitidos,
mas a forma como foram parar no
BB obedece mais à conveniência
do governo federal do que aos interesses dos demais acionistas.
Segundo o diretor de Finanças
do BB, Carlos Gilberto Caetano, os
títulos foram transferidos do Banerj para o BB pouco antes da privatização do banco fluminense,
ocorrida em 1997. "Se não tivesse
retirado os títulos do Banerj, não
teria como privatizá-lo", disse.
Caetano afirmou que nenhum
banco privado teria estrutura e
porte para financiar uma posição
de R$ 10,5 bilhões em títulos. Além
disso, afirmou, os bancos privados
ficariam relutantes diante da possibilidade de o Senado negar o refinanciamento da dívida do Rio.
"Os bancos privados não têm poder igual ao nosso para fazer o
acompanhamento político do andamento do negócio no Senado."
Para ficar com os papéis do Rio,
em julho de 1997, o BB ganhou o
direito de administrar contas de
servidores estaduais e R$ 800 milhões em depósitos judiciais que
estavam no Banerj.
O Senado aprovou a rolagem
parcial dos títulos nesta semana,
mas a situação não está totalmente
resolvida. O governo do Rio ainda
não fechou o acordo de federalização da sua dívida com a União, e o
fato de o principal credor ser um
banco federal amplia o poder de
negociação do Estado.
O BB também carrega R$ 6 bilhões em títulos do município de
São Paulo, que até 1995 estavam
sendo financiados pelo Banespa.
Segundo Caetano, a transferência dos papéis do Banespa para o
BB ocorreu em 1995, antes da investigação sobre precatórios feita
pelo Senado a partir de 1996. "Ninguém sabia o que viria depois."
Com o negócio, o BB passou a receber um pagamento diário de R$
900 mil de São Paulo, referente a
um adicional entre 1,2 e 0,5 ponto
percentual cobrado pelo risco de
carregar os papéis municipais. O
BB também passou a administrar
contas de servidores municipais.
Caetano afirma o financiamento
dos papéis foi um bom negócio,
mas a operação foi omitida dos relatórios financeiros do banco. O
analista da Austin Asis Luiz Miguel
Santacreu critica a falta de transparência. "Todos os bancos divulgam como é formada a carteira de
títulos. Isso é informação básica."
"Não tenho dúvidas de que esse
acontecimento arranhou a imagem do BB. Mas, se durante a CPI
dos Precatórios tivéssemos vindo a
público para mostrar nossa posição, a solução teria sido mais cara e
difícil", disse Caetano.
O Banespa também está sendo
salvo pela federalização da dívida
paulistana, já que carrega R$ 2,814
bilhões em títulos do município, a
maior parte com financiamentos
renovados diariamente. Os títulos
serão trocados por federais, que
têm maior aceitação e menor risco.
O banco paulista também tem títulos de Campinas, mas o montante não é revelado pelo balanço. O
município deixou de honrar parcela da dívida, que em março passado somava R$ 158 milhões.
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