|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO AGRÁRIA
Para líder dos sem-terra, governo não faz reforma agrária nem movimento obtém ganhos permanentes
MST não tem conquistas reais, diz Stedile
CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
admite que vive
um momento
difícil. "Existe
um impasse. O
governo não faz reforma agrária, e
nós não estamos conseguindo
conquistas reais", afirma João Pedro Stedile, líder do MST.
Stedile data o impasse: outubro
de 98, quando Fernando Henrique
Cardoso ganhou novo mandato no
primeiro turno da eleição.
"De lá para cá, o governo ficou
prepotente para aplicar a ideologia
neoliberal para tentar resolver os
conflitos de terra", acha Stedile. O
MST critica principalmente o que
chama de "esvaziamento" do Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Stedile vê algo pior agora: o governo teria optado por entregar ao
mercado a solução para a reforma
agrária.
O Banco da Terra, uma das novidades que FHC trouxe para a questão, é um dos alvos do ideólogo dos
sem-terra.
"O governo paga as desapropriações à vista, mas os assentados ficam devendo ao banco, sem condições de pagar", declara.
Stedile critica ainda, no Banco da
Terra, a possibilidade de o proprietário de terra fixar o preço e
poder exercer a recusa ao negócio.
Em meio a torpedos contra todos
os novos programas governamentais para a área, João Pedro Stedile
chega a dizer que sente saudade de
projetos como o Procera, que financiava a reforma agrária. O Procera não era elogiado pelo MST
quando vigente.
Segundo Stedile, em 99 o governo não assentou famílias. "Não
houve desapropriações. O máximo que se fez foi regularizar títulos", afirma.
O quadro desalentador, sempre
de acordo com o líder dos sem-terra, forçou uma mudança de estratégia. "Pela primeira vez, conseguimos nos articular com Contag,
igreja e outras entidades para criar
uma unidade em atos contra o governo", diz ele.
Nos próximos dias, o MST pretende iniciar uma vigília em Brasília para forçar a obtenção de um
encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Para
criar um fato político, em 27 de julho sai do Rio uma "marcha popular", oriunda de vários Estados, em
direção a Brasília. A intenção é estar na capital federal em outubro,
ocupando espaço na mídia.
Números
Apesar da propalada opção pela
atuação política e da falta de resultado das "ocupações" - invasão
continua sendo palavra vetada no
MST -, os sem-terra dizem que
aumentou o número de invasões.
De janeiro até o dia 14 de maio último, de acordo com o MST, o movimento organizou 149 invasões.
Para se ter base de comparação,
em todo ano de 97 foram feitas 173
invasões de terra, segundo os dados do MST.
"A tensão agrária é maior nas regiões Sul e Nordeste do país, mas
são tantos os problemas que não
dá para escolher áreas prioritárias
para a nossa atuação", diz Stedile.
O líder do MST ainda despeja outros números para dimensionar a
"dramaticidade" do que chama de
impasse na reforma agrária: segundo ele, existem hoje cerca de
500 acampamentos de sem-terra
espalhados pelo país, o que seria
um recorde. "São 102 mil famílias
que esperam solução", afirma Stedile.
Texto Anterior: Invasões crescem em MS Próximo Texto: Para líder, socialismo é missão de partidos Índice
|