São Paulo, Domingo, 04 de Julho de 1999
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Para líder, socialismo é missão de partidos

da Reportagem Local
Apesar dos cursos de formação política do MST de tom anticapitalistas e de textos assinados por integrantes de seu comando nacional incluírem propostas de tomada de poder, João Pedro Stedile nega que o objetivo final do movimento seja a sociedade socialista.
No discurso oficial, o ideólogo dos sem-terra limita a duas as metas "históricas importantes" de sua organização: eliminação da pobreza no campo e combate à desigualdade social, o que em seu entender só será possível com o fim dos latifúndios, mesmo os produtivos.
Tudo isso seria possível, de acordo com Stedile, dentro do capitalismo. "A luta pelo socialismo não é missão nossa. Isso é para os partidos políticos", afirma o líder dos sem-terra.
Não por acaso, a imensa maioria dos sem-terra atua normalmente em conjunto com o PT, embora às vezes o movimento também abra espaço para concessões pragmáticas como apoios localizados a candidatos até do PFL.
"Nós não vivemos de ideologia. Vivemos de soluções concretas para os problemas sociais", afirma Stedile, fazendo uma concessão, pelo menos no discurso, para a criação talvez da "invasão de resultados".

Manual
Nos últimos dias, o livro "Lições Históricas da Luta pela Reforma Agrária", de Ademar Bogo (da coordenação do MST), tem municiado de argumentos os que enxergam na atuação organizada dos sem-terra a tentativa de chegar ao socialismo.
O livro, que também é utilizado como cartilha nas escolas mantidas pelo MST, não tem novidade, na análise de Stedile.
"Ali está dito que o sentido da reforma agrária no Brasil não é mais econômico. Hoje é político até porque as elites não querem modificar a situação", contemporiza Stedile.
Dentro da lógica de tentar descaracterizar a luta pontual pela terra como um capítulo da batalha pelo socialismo, o MST, que se tornou conhecido pelo slogan "Ocupar, Resistir e Produzir", está tentando divulgar uma nova marca para a sua atuação. "Reforma Agrária, uma Luta de Todos" é agora recitado pelos sem-terra.

Encontro
Trechos de um documento elaborado durante o Curso de Capacitação de Militâncias do Cone Sul, realizado no Mato Grosso do Sul, reforçaram a preocupação de um projeto de tomada de poder pelo MST.
"Defendemos a idéia de que somente as grandes mobilizações de massa podem alterar a correlação de forças atuais na sociedade brasileira e colocar na pauta o projeto popular -e não apenas medidas paliativas, como querem setores moderados da oposição; estimulamos todas as formas de luta de massas por necessidade imediata, como ocupações de terras, de moradias, mobilizações de desempregados e ocupações de fábricas; estimulamos outros setores para que também o façam", afirma o documento, aprovado em encontro em maio passado.
"Ao longo de sua trajetória, o MST organizou-se como um movimento social de massas, mas é também um movimento político, porque, ao lutar pela reforma agrária no Brasil, atinge diretamente os interesses da oligarquia rural e do Estado", diz o texto, preparado pela Coordenação Nacional do MST.
O movimento participa da organização da chamada Via Camponesa, em associações com entidades de diversos países, "para defender uma alternativa ao modelo neoliberal, de globalização excludente, que só interessa ao capital financeiro internacional".
"O MST se empenha para que as organizações sociais e políticas de esquerda retomem o trabalho de formação de militantes, com uma nova concepção: a de que é possível implantar o socialismo", afirma o texto elaborado durante o encontro.


Colaborou a Redação

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