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Para líder, socialismo é missão de partidos
da Reportagem Local
Apesar dos cursos de formação
política do MST de tom anticapitalistas e de textos assinados por integrantes de seu comando nacional incluírem propostas de tomada
de poder, João Pedro Stedile nega
que o objetivo final do movimento
seja a sociedade socialista.
No discurso oficial, o ideólogo
dos sem-terra limita a duas as metas "históricas importantes" de sua
organização: eliminação da pobreza no campo e combate à desigualdade social, o que em seu entender
só será possível com o fim dos latifúndios, mesmo os produtivos.
Tudo isso seria possível, de acordo com Stedile, dentro do capitalismo. "A luta pelo socialismo não
é missão nossa. Isso é para os partidos políticos", afirma o líder dos
sem-terra.
Não por acaso, a imensa maioria
dos sem-terra atua normalmente
em conjunto com o PT, embora às
vezes o movimento também abra
espaço para concessões pragmáticas como apoios localizados a candidatos até do PFL.
"Nós não vivemos de ideologia.
Vivemos de soluções concretas para os problemas sociais", afirma
Stedile, fazendo uma concessão,
pelo menos no discurso, para a
criação talvez da "invasão de resultados".
Manual
Nos últimos dias, o livro "Lições
Históricas da Luta pela Reforma
Agrária", de Ademar Bogo (da
coordenação do MST), tem municiado de argumentos os que enxergam na atuação organizada dos
sem-terra a tentativa de chegar ao
socialismo.
O livro, que também é utilizado
como cartilha nas escolas mantidas pelo MST, não tem novidade,
na análise de Stedile.
"Ali está dito que o sentido da reforma agrária no Brasil não é mais
econômico. Hoje é político até
porque as elites não querem modificar a situação", contemporiza
Stedile.
Dentro da lógica de tentar descaracterizar a luta pontual pela terra
como um capítulo da batalha pelo
socialismo, o MST, que se tornou
conhecido pelo slogan "Ocupar,
Resistir e Produzir", está tentando
divulgar uma nova marca para a
sua atuação. "Reforma Agrária,
uma Luta de Todos" é agora recitado pelos sem-terra.
Encontro
Trechos de um documento elaborado durante o Curso de Capacitação de Militâncias do Cone Sul,
realizado no Mato Grosso do Sul,
reforçaram a preocupação de um
projeto de tomada de poder pelo
MST.
"Defendemos a idéia de que somente as grandes mobilizações de
massa podem alterar a correlação
de forças atuais na sociedade brasileira e colocar na pauta o projeto
popular -e não apenas medidas
paliativas, como querem setores
moderados da oposição; estimulamos todas as formas de luta de
massas por necessidade imediata,
como ocupações de terras, de moradias, mobilizações de desempregados e ocupações de fábricas; estimulamos outros setores para que
também o façam", afirma o documento, aprovado em encontro em
maio passado.
"Ao longo de sua trajetória, o
MST organizou-se como um movimento social de massas, mas é
também um movimento político,
porque, ao lutar pela reforma agrária no Brasil, atinge diretamente os
interesses da oligarquia rural e do
Estado", diz o texto, preparado pela Coordenação Nacional do MST.
O movimento participa da organização da chamada Via Camponesa, em associações com entidades de diversos países, "para defender uma alternativa ao modelo
neoliberal, de globalização excludente, que só interessa ao capital
financeiro internacional".
"O MST se empenha para que as
organizações sociais e políticas de
esquerda retomem o trabalho de
formação de militantes, com uma
nova concepção: a de que é possível implantar o socialismo", afirma o texto elaborado durante o encontro.
Colaborou a Redação
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