São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Plano montaria novo modelo de consultas

DA REPORTAGEM LOCAL

Batizado de "Plano de Saúde São Paulo", o programa de governo do senador Romeu Tuma para a saúde limita-se a montar uma novo modelo de consultas utilizando uma rede credenciada.
O locutor do horário eleitoral gratuito anuncia: "Com o "Plano de Saúde São Paulo", quem não podia sonhar com um plano de saúde vai poder ter um atendimento igual aos melhores planos de saúde do Brasil".
Diferentemente dos planos de saúde mencionados pela propaganda, o programa de Tuma não prevê internações (veja proposta no quadro).
É em consultas feitas na rede credenciada que residiria o maior problema do programa. Cada médico da rede de apoio atenderia mediante um vale-consulta e receberia de R$ 10 a R$ 12.
O candidato não sabe estimar quantas pessoas são idosas, deficientes ou ganham até três salários mínimos -critérios que definiu para o atendimento na rede.
De acordo com o IBGE, 48,2% das pessoas da região metropolitana ganham até três salários mínimos mensais. Só por esse critério, os atendidos pelo plano já seriam 4,7 milhões na cidade.
Com as dez folhas de consulta que receberia, cada um desses 4,7 milhões de pacientes poderia gastar R$ 120 -em um prazo não especificado. Se cada um deles gastar apenas uma folha por mês, serão R$ 56 milhões só em consultas na rede credenciada.
O valor equivale ao que a Secretaria Municipal da Saúde gasta mensalmente para manter em funcionamento toda a rede -que é aberta a toda a população e inclui distribuição de remédios, internações, procedimentos de urgência, salários etc.
"Eu sou administrador de saúde e digo: não dá para fazer isso. Vai custar um dinheiro que a prefeitura não tem", afirma Luiz Barradas, assessor técnico do Ministério da Saúde.
"Você não pode impedir que o cidadão use os dez vales. Não pode impedir consultas. E é muito comum que o paciente confirme o diagnóstico com um segundo médico. E se ele fizer isso? Se usar mais vales? Se vender? Trocar por leite? Por pinga? O sistema explode", diz Carlos Alberto Velucci, secretário municipal da Saúde.
Tuma admite o risco de explosão de gastos. "Teremos que controlar por um gerenciamento distrital informatizado. Do contrário, correremos o risco de o cidadão pegar o carnê e vender pela metade. Vamos ter de montar um sistema ideal, com controle perfeito, para evitar a evasão de dinheiro." Mas ele não dá detalhes sobre o sistema.
O secretário afirma que a informatização da rede municipal -que ainda deve consumir R$ 12 milhões- irá reduzir o excesso de consultas, mas não poderá evitá-lo totalmente nem controlar as consultas feitas em consultórios particulares credenciados.
O fato de o plano de Tuma limitar o atendimento na rede credenciada apenas a uma parcela da população também é alvo de críticas.

Universalidade
De acordo com especialistas, estipular quem poderia ou não utilizar o sistema vai contra o princípio constitucional de universalidade nos serviços públicos de saúde.
"E se eu ou você quisermos deixar de pagar nossos planos e aderir ao da prefeitura, mas formos barrados? Isso é exclusão", afirma Luiz Barradas.
Ferir os princípios do SUS pode fazer com que São Paulo continue sem receber verbas do sistema -R$ 200 milhões por ano.
O senador rebate. "Quero fazer um plano para atender os carentes. Universalidade? Se precisar mudar lei, tem de mudar. Não posso atender cara do Morumbi que tem casa de R$ 1 milhão e deixar de atender o do barraco. Tenho que dar igual para os dois? Isso é inaceitável. Não dá nem para discutir", disse à Folha.
(SÍLVIA CORRÊA)


Texto Anterior: 100 mil poços seriam inviáveis
Próximo Texto: Pefelista defendeu GPS para táxi
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.