São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2000


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100 mil poços seriam inviáveis

DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma proposta intitulada "Batalha pela água", o programa eleitoral de Romeu Tuma atribui o racionamento na cidade à "falta de competência, de planejamento e de seriedade".
Como solução, afirma o locutor, "Tuma vai incentivar a construção de 100 mil poços artesianos em três anos. A prefeitura entrará com pessoal técnico e equipamento. Quem fizer um poço artesiano vai ter redução de IPTU".
Extrair água do solo paulistano exigiria a construção de poços profundos que podem custar até R$ 60 mil cada um, informa a Jundsondas, uma das principais empresas perfuradoras da cidade.
Por essa estimativa, os 100 mil poços de Tuma custariam cerca de R$ 6 bilhões -79% do orçamento da cidade, estimado para este ano em R$ 7,6 bilhões.
O dinheiro é suficiente para construir 115 mil quilômetros de rede de distribuição de água. É quase quatro vezes mais do que a rede atual da Grande São Paulo (25 mil quilômetros).
"A cidade já tem água suficiente. O problema é causado por estiagem e falta de rede de distribuição", diz Uriel Duarte, diretor do Cepas (Centro de Estudos de Águas Subterrâneas) da USP.
Ainda que houvesse verba suficiente para o projeto, dizem especialistas, o esforço para construir poços seria inútil.
Sem contar o desperdício -as obras de perfuração são arriscadas, com margem de erro de até 30%-, o subsolo paulistano tem baixa vazão, ou seja, não possui água suficiente para abastecer tantos poços.
Nos arquivos do Estado há registros de tentativas frustradas. Na década de 50, a antiga companhia de abastecimento cogitou fazer poços na área do Belenzinho, mas fracassou. Na década de 70, uma companhia de gás tentou usar água de poços para produzir o combustível. Não conseguiu obter vazão suficiente na zona leste, onde perfuraria os poços.
"Isso é inviável. Transformaria a cidade em um paliteiro, oferecendo sério risco à sua estrutura", afirma Leila Carvalho Gomes, diretora de Recursos Hídricos do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), órgão que controla perfurações na cidade.
De acordo com o vice-presidente de produção da Sabesp, Antonio Marsiglia Netto, a proposta ignora riscos de contaminação: "Em Bangladesh, há milhares de poços contaminados por arsênico (substância tóxica)", afirma.
(SÍLVIA CORRÊA)

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