São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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Vereadores falam mais de saúde e educação do que de fome e pobreza

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Saúde e educação foram as palavras mais pronunciadas pelos candidatos a vereador em São Paulo no horário eleitoral pelo rádio, na última quinta-feira. Cada uma apareceu 13 vezes.
Mas nos 30 minutos, nenhum pronunciou palavras há alguns anos muito mobilizadoras, como democracia, fome e pobreza.
Há 1.215 candidatos para as 55 cadeiras da Câmara Municipal paulistana. É previsível que eles sejam, quase todos, marqueteiros de si mesmos, sem assessores ou pesquisas de opinião que permitam melhor direcionar suas curtíssimas mensagens.
A primeira impressão que se tem é que todos eles dizem mais ou menos a mesma coisa. Mas não é bem assim. O levantamento lexical feito pela Folha demonstra que os candidatos têm uma noção mais ou menos precisa do segmento para o qual pedem votos.
Foram usadas 42 palavras ou expressões, sem que uma ou duas delas tivessem freqüência preponderante, o que seria indício de ausência de assunto que dominaria a campanha dos candidatos.
Com um vocabulário bastante fragmentado, dois candidatos falaram em qualidade de vida, quatro em emprego e apenas um em cidadania -palavra que nos anos 80 estava bem mais na moda.
Existe, é claro, um problema de amostragem. Na quinta, mandaram seu recado eleitoral só 49 candidatos. Alguns partidos, como o PT, o PC do B e o PSC, citaram apenas o número e o nome de alguns concorrentes, sem permitir que os interessados dissessem o que pretendem. Alguns partidos nanicos deixaram de enviar a gravação dos programas.
Mesmo assim, a idéia que os candidatos fazem sobre as palavras mais mobilizadoras já constitui um belo e instrutivo material.
A primeira conclusão a que se chega: há uma noção surpreendente sobre as atribuições do prefeito ou do vereador. Ninguém mais promete mudanças no código penal ou mais dignidade às Forças Armadas.
A segurança foi na quinta tema de média freqüência, só duas menções. Mas sem que os postulantes atropelassem as atribuições do governo do Estado, responsável pelas polícias Civil e Militar.
Um pefelista, por exemplo, disse que é preciso proporcionar mais lazer, como forma de combater a violência urbana. O mesmo vale para um candidato do PSDC, para quem o desafogamento das marginais daria maior segurança aos que as percorrem.
Quanto à agenda municipal, a palavra taxa apareceu cinco vezes, e a imposto, duas. Habitação, três vezes, e duas vezes um sinônimo, moradia. Emprego, idosos ou terceira idade apareceram quatro vezes cada um. Transparência foi palavra há alguns anos bastante forte e freqüente em pronunciamentos. Mas desta vez, a exemplo da palavra ética, esteve ausente.
Não quer dizer que tais palavras indiquem problemas que eles acreditem estar resolvidos. Mas é uma questão de agenda, na qual é provável que não exista para os candidatos uma prioridade imediata. Há palavras como família, adolescente e população, espécies de prêt-à-porter semânticos que cabem nas promessas de candidatos de qualquer corrente política.


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