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Vereadores falam mais de saúde e
educação do que de fome e pobreza
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Saúde e educação foram as palavras mais pronunciadas pelos
candidatos a vereador em São
Paulo no horário eleitoral pelo rádio, na última quinta-feira. Cada
uma apareceu 13 vezes.
Mas nos 30 minutos, nenhum
pronunciou palavras há alguns
anos muito mobilizadoras, como
democracia, fome e pobreza.
Há 1.215 candidatos para as 55
cadeiras da Câmara Municipal
paulistana. É previsível que eles
sejam, quase todos, marqueteiros
de si mesmos, sem assessores ou
pesquisas de opinião que permitam melhor direcionar suas curtíssimas mensagens.
A primeira impressão que se
tem é que todos eles dizem mais
ou menos a mesma coisa. Mas
não é bem assim. O levantamento
lexical feito pela Folha demonstra
que os candidatos têm uma noção
mais ou menos precisa do segmento para o qual pedem votos.
Foram usadas 42 palavras ou
expressões, sem que uma ou duas
delas tivessem freqüência preponderante, o que seria indício de
ausência de assunto que dominaria a campanha dos candidatos.
Com um vocabulário bastante
fragmentado, dois candidatos falaram em qualidade de vida, quatro em emprego e apenas um em
cidadania -palavra que nos anos
80 estava bem mais na moda.
Existe, é claro, um problema de
amostragem. Na quinta, mandaram seu recado eleitoral só 49
candidatos. Alguns partidos, como o PT, o PC do B e o PSC, citaram apenas o número e o nome
de alguns concorrentes, sem permitir que os interessados dissessem o que pretendem. Alguns
partidos nanicos deixaram de enviar a gravação dos programas.
Mesmo assim, a idéia que os
candidatos fazem sobre as palavras mais mobilizadoras já constitui um belo e instrutivo material.
A primeira conclusão a que se
chega: há uma noção surpreendente sobre as atribuições do prefeito ou do vereador. Ninguém
mais promete mudanças no código penal ou mais dignidade às
Forças Armadas.
A segurança foi na quinta tema
de média freqüência, só duas
menções. Mas sem que os postulantes atropelassem as atribuições
do governo do Estado, responsável pelas polícias Civil e Militar.
Um pefelista, por exemplo, disse que é preciso proporcionar
mais lazer, como forma de combater a violência urbana. O mesmo vale para um candidato do
PSDC, para quem o desafogamento das marginais daria maior
segurança aos que as percorrem.
Quanto à agenda municipal, a
palavra taxa apareceu cinco vezes,
e a imposto, duas. Habitação, três
vezes, e duas vezes um sinônimo,
moradia. Emprego, idosos ou terceira idade apareceram quatro vezes cada um. Transparência foi
palavra há alguns anos bastante
forte e freqüente em pronunciamentos. Mas desta vez, a exemplo
da palavra ética, esteve ausente.
Não quer dizer que tais palavras
indiquem problemas que eles
acreditem estar resolvidos. Mas é
uma questão de agenda, na qual é
provável que não exista para os
candidatos uma prioridade imediata. Há palavras como família,
adolescente e população, espécies
de prêt-à-porter semânticos que
cabem nas promessas de candidatos de qualquer corrente política.
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