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JANIO DE FREITAS
Desprograma
O que aconteceu aos cinco
dedos de Fernando Henrique
Cardoso que simbolizaram
seu programa-compromisso,
para o atual mandato, já desmoralizaria o novo programa,
agora apresentado. A crise,
porém, não se satisfez com isso. Tornou ridícula até mesmo a apresentação do suposto
programa.
Nenhuma das afirmações do
presidente-candidato ou de
ministros, sobre as condições
brasileiras de resistência à crise, correspondem ao que se
passa no governo. O que se
apreende de consultas técnicas feitas por integrantes da
equipe econômica, a ex-colegas de ensino ou de governo,
reflete temerosa insegurança
em relação ao futuro próximo
e muitas dúvidas em relação
ao que fazer.
Fosse tranquilizadora, de
fato, a situação vista através
dos dados que só os mapas da
equipe econômica contêm,
não se mostrariam preocupações e incertezas. Ainda estariam em seu lugar as verdades
inabaláveis de uns e a arrogância de outros, que davam
o tom nos eventuais contatos
com velhos colegas, antes dos
abalos.
Se o novo programa já não
era crível, pela natureza da
candidatura que o apresenta,
sua montagem anterior à crise caduca-o até como enganação eleitoreira.
Os programas de Ciro Gomes e Luiz Inácio Lula da Silva, como qualquer outro formulado há algum tempo, por
certo não escapam a efeitos
contrários da situação internacional. Ambos, porém, consistem de propostas para modificar o que só agora, levado
pela força da realidade, o grupo de Fernando Henrique
considera necessário "ajustar" (palavra que os governistas usam para o que em português, como em qualquer língua, é corrigir).
Paguemos
O problema é entre os bancos e o comércio. Mas quem se
dá mal com a falsa solução do
governo é o usuário de cheques.
Na ânsia de vender, os comerciantes aceitam cheques
pré-datados que numerosos
emitentes, mais tarde premidos por despesas imprevistas
ou pelo desemprego, sustam
nos seus bancos.
Integrantes do Conselho
Monetário Nacional, os ministros da Fazenda, do Planejamento e o presidente do
Banco Central ativaram sua
lucidez para encontrar uma
solução. Nada mais fácil para
eles do que produzir soluções,
que, no seu caso, não precisam distinguir-se de novos
problemas.
Fica então decidido que os
cheques terão o número da
identidade de seu portador,
para que o comerciante possa
consultar um formidável cadastro, a ser criado em âmbito nacional, com as identificações dos sustadores de cheques.
E, para completar, quem
susta um cheque terá que
comparecer à respectiva agência dentro de 48 horas, para
confirmar o pedido de sustação. Sem isso, o cheque não
será sustado.
Bem bolado. Embora um
tanto repetitivo. Os cheques já
trazem, impressos pelos bancos, a identificação do portador, com nome e CPF.
Além de repetitivo, um tanto dispendioso. Caso o emitente esteja fora de sua cidade
e precise sustar um cheque
-por roubo do talão, por erro de preenchimento notado
mais tarde, por não receber o
serviço ou produto já pago-,
terá que comprar ida e volta
de avião, para ir ao seu banco
comprovar o pedido telefônico.
Pedro Malan, Paulo Paiva e
Gustavo Franco por certo esqueceram que nem todos viajam em jatos da FAB ou com
passagens pagas pelo governo.
Por sinal, governo recordista
absoluto em despesas de viagens. Sobretudo para Europa
e Estados Unidos.
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