|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Militantes dizem que PT se "suja" com Tuma
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Parentes de militantes de esquerda mortos e desaparecidos
durante o regime militar (1964-85) disseram ontem que o PT ""suja as mãos de sangue" ao querer o
apoio do senador Romeu Tuma
(PFL-SP) à petista Marta Suplicy
no segundo turno da eleição para
a Prefeitura de São Paulo.
A representante das famílias na
Comissão de Mortos e Desaparecidos criada pelo Ministério da
Justiça, Suzana Lisboa, disse que
iniciou um movimento para apelar ao PT paulistano que recue nas
conversas com Tuma, derrotado
no primeiro turno.
""Buscar o apoio do Tuma suja
de sangue as mãos do PT", disse
Suzana Lisboa, assessora do partido em Porto Alegre e viúva do
guerrilheiro Luiz Eurico Tejera
Lisboa, cujo corpo só foi encontrado em 1979 -morreu em 1972.
""Sou fundadora do PT. Prefiro
perder eleição a rasgar um pedaço
da história."
""Pegar as mãos de Tuma é sujar
as mãos de sangue", afirmou o
jornalista Ivan Seixas, ex-preso
político, assessor da Prefeitura de
São Paulo na gestão de Luiza
Erundina (1989-92) e filho do militante Joaquim Alencar de Seixas,
morto sob tortura em 1971.
A oposição à busca de apoio se
deve à participação de Tuma no
Dops (Departamento Estadual de
Ordem Política e Social), órgão da
polícia política paulista no regime
militar.
Lotado no Setor de Inteligência
desde a década de 60, Tuma chegou a diretor nos anos 70. De 1969
a 1974, o Dops foi um dos principais centros de tortura do país.
Não há uma só acusação de tortura contra Tuma, mas as famílias
sustentam que ele foi negligente
com sumiço de cadáveres e conivente com torturadores. Ivan Seixas diz que Tuma ouvia, em sua
sala no Dops, gritos de pessoas
torturadas.
O senador nega envolvimento
com violência física e desaparecimentos. Afirma também não saber de prática de tortura no tempo em que trabalhou no Dops.
O deputado Nilmário Miranda
(PT-MG), membro da Articulação, grupo moderado do PT, disse
que ""buscar apoio de Tuma é problemático, mas o problema fica
amenizado se isso não implicar
abrir mãos dos compromissos
com os direitos humanos e a procura pelos desaparecidos".
Miranda integra a Comissão de
Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça.
Para Suzana Lisboa, a necessidade de ampliar o leque político
no segundo turno não justifica a
tentativa de apoio de Tuma: ""Não
se pode deixar de dizer quem ele
é. Pelo que representa, não se poderia pedir seu apoio. Uma coisa é
tentar o voto dos eleitores do PFL,
aliança com Tuma é outra".
Ivan Seixas disse que, no último
debate antes da eleição, ""Marta
Suplicy lembrou que Tuma tinha
que saber da tortura no Dops".
Texto Anterior: PFL não deve apoiar Marta nem Maluf Próximo Texto: "Não faremos julgamento moral de Tuma" Índice
|