São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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Militantes dizem que PT se "suja" com Tuma

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Parentes de militantes de esquerda mortos e desaparecidos durante o regime militar (1964-85) disseram ontem que o PT ""suja as mãos de sangue" ao querer o apoio do senador Romeu Tuma (PFL-SP) à petista Marta Suplicy no segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo.
A representante das famílias na Comissão de Mortos e Desaparecidos criada pelo Ministério da Justiça, Suzana Lisboa, disse que iniciou um movimento para apelar ao PT paulistano que recue nas conversas com Tuma, derrotado no primeiro turno.
""Buscar o apoio do Tuma suja de sangue as mãos do PT", disse Suzana Lisboa, assessora do partido em Porto Alegre e viúva do guerrilheiro Luiz Eurico Tejera Lisboa, cujo corpo só foi encontrado em 1979 -morreu em 1972. ""Sou fundadora do PT. Prefiro perder eleição a rasgar um pedaço da história."
""Pegar as mãos de Tuma é sujar as mãos de sangue", afirmou o jornalista Ivan Seixas, ex-preso político, assessor da Prefeitura de São Paulo na gestão de Luiza Erundina (1989-92) e filho do militante Joaquim Alencar de Seixas, morto sob tortura em 1971.
A oposição à busca de apoio se deve à participação de Tuma no Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), órgão da polícia política paulista no regime militar.
Lotado no Setor de Inteligência desde a década de 60, Tuma chegou a diretor nos anos 70. De 1969 a 1974, o Dops foi um dos principais centros de tortura do país.
Não há uma só acusação de tortura contra Tuma, mas as famílias sustentam que ele foi negligente com sumiço de cadáveres e conivente com torturadores. Ivan Seixas diz que Tuma ouvia, em sua sala no Dops, gritos de pessoas torturadas.
O senador nega envolvimento com violência física e desaparecimentos. Afirma também não saber de prática de tortura no tempo em que trabalhou no Dops.
O deputado Nilmário Miranda (PT-MG), membro da Articulação, grupo moderado do PT, disse que ""buscar apoio de Tuma é problemático, mas o problema fica amenizado se isso não implicar abrir mãos dos compromissos com os direitos humanos e a procura pelos desaparecidos".
Miranda integra a Comissão de Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça.
Para Suzana Lisboa, a necessidade de ampliar o leque político no segundo turno não justifica a tentativa de apoio de Tuma: ""Não se pode deixar de dizer quem ele é. Pelo que representa, não se poderia pedir seu apoio. Uma coisa é tentar o voto dos eleitores do PFL, aliança com Tuma é outra".
Ivan Seixas disse que, no último debate antes da eleição, ""Marta Suplicy lembrou que Tuma tinha que saber da tortura no Dops".


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